Adelaide Antunes é proprietária de uma pensão e queria ter uma residencial. O casal Coelho gere uma casa de hóspedes, mas gostava de convertê-la numa pensão. Elsa Figueiredo viu a sua pensão ser desclassificada para casa de hóspedes, só que insiste em conservar o antigo estatuto. O nome faz toda a diferença para quem ganha a vida a acomodar turistas em quartos, mas boa parte deles ainda não sabe que estas são algumas das categorias que irão desaparecer a partir de Março, com a entrada em vigor da nova lei de empreendimentos turísticos..Adelaide tem uma pensão na Rua Portas de Santo Antão, em Lisboa, mas não se importava de retirar o néon da fachada do edifício e passar a gerir um alojamento local, uma das 11 designações que a legislação prevê. Nunca gostou de ser dona de uma pensão e é por isso que o seu estabelecimento aparece nos roteiros turísticos como Residencial Florescente. "As pensões não têm boa fama", desabafa a empresária, de 62 anos. .São locais de encontros clandestinos, de sexo com os minutos contados, de escapadelas extraconjugais. Não será só isso, mas Adelaide está convencida de que é essa a imagem que a maioria das pessoas tem das pensões. A "má reputação" não é de agora, mas não foi sempre assim, esclarece a proprietária da Residencial Florescente, que nasceu e viveu numa pensão até aos 27 anos..José Ramalho está à frente da Pensão Residencial Nova Goa, junto à Praça do Martim Moniz, em Lisboa, e também faz tudo para o seu empreendimento turístico não ser confundido com as outras casas do mesmo ramo que estão ali ao lado. É tarefa complicada para quem montou o negócio próximo da Rua do Poço do Borratém: "A câmara tentou acabar com a prostituição no Intendente e elas vieram para aqui." .O gerente da Nova Goa tenta afugentar as prostitutas que se aproximam da sua pensão, mas apesar disso diz haver sempre alguns turistas que ali não entram por julgarem que estão na "zona vermelha". Mas não é isso que o faz querer alterar a classificação da sua unidade: "Trocar o nome não muda nada. É a qualidade do serviço que faz a diferença.".José Ramalho está portanto numa encruzilhada: não faz ideia do que é que a nova lei o vai obrigar a fazer, mas sabe que a casa que gere desde 1980 não poderá continuar a ser uma pensão residencial: "Não estou disposto a mudar a categoria para alojamento local, nem tenho condições para convertê-lo num hotel.".O casal Coelho esteve nos últimos seis meses mergulhado em burocracias. Assinaram papéis, preencheram formulários, desenharam projectos, mas mesmo assim não conseguiram que a sua casa de hóspedes, na Praça da Figueira, em Lisboa, fosse promovida a pensão residencial. Maria João e Leonardo Coelho acabaram por desistir sem saber que a legislação para as unidades turísticas está prestes a mudar. "Chegámos à conclusão de que um nome não faz assim tanta diferença", confessa a proprietária..Seja quais forem as alterações da nova lei, o casal está convencido de que o futuro não vai trazer grandes mudanças no seu quotidiano: "Quem entrar aqui continuará ter um ambiente caseiro." É a principal vantagem que Maria João diz ter para concorrer com as cadeias de hotéis.|