Nos bastidores da Disney, entre aqueles que recebem os visitantes, quase 150 milhões em 2017 (15 milhões só em em Paris), circula uma espécie de piada: "Eles até conseguem fazer chover artificialmente só para vender mais impermeáveis." Uma forma hiperbólica, sem dúvida, de dizer que nada se faz ao acaso aqui, onde tudo é pensado para agradar às crianças - miúdas e graúdas..Para lá dos portões da Disneyland, há uma palavra que raramente vai ouvir: não. "Dizem-nos logo na formação para evitar. Sugerem-se alternativas", diz uma antiga funcionária ao DN, preferindo manter-se anónima. Príncipes, princesas, heróis e heroínas são importantes, mas "o verdadeiro rei é o visitante", acrescenta. "Tudo é pensado para o cativar.".Essa vida de personagem.Houve uma época em que tirar uma fotografia ao lado do Mickey ou da Minnie era simples e gratuito. Bastava encontrar as personagens a vaguear pelos passeios do parque. Hoje, os encontros são tanto mais raros quanto mais popular for a personagem. Os clássicos fazem-se pagar em pequenos-almoços e jantares. E quando um Pato Donald entra em funções, só esse trabalha. Porque, em teoria, não existe mais do que um Pato Donald. Reunir o máximo de autógrafos possível é um dos passatempos dos visitantes (quase tanto como tentar descobrir o símbolo do Mickey espalhado em jardins e edifícios) e até esse pormenor está feito a pensar na magia: o Pateta assina sempre da mesma maneira. Assim como todas as personagens..Os cast members (nome oficial de todos os que trabalham nos parques) que vestem a pele das personagens não podem partilhar informação sobre o trabalho nas redes sociais, não podem aparecer mascarados nem podem tirar fotos nos bastidores. E que ninguém inveje o seu trabalho: ao longo do dia, "dão-lhes muitos apalpões", conta a antiga funcionária ao DN..Túneis, falsas perspetivas e ilusões de ótica.Na Disneyland, o que não está à vista deve manter-se assim - é esse o espírito do parque idealizado pelo pai do Rato Mickey. No primeiro de todos os parques, inaugurado, no ano de 1955, Walt Disney levou tão a sério a missão de espalhar magia que não queria ver elementos da Fantasyland na Tomorrowland. Foi com esse intuito que foram criados túneis que percorrem boa parte do recinto na Califórnia. Nas suas versões posteriores - em Orlando (1971), Paris (1992), Tóquio (1983), Hong Kong (2005) e Xangai (2016) - essa funcionalidade desapareceu..Mas há muita arquitetura semelhante nos parques dos três continentes. De uma zona do parque não se consegue ver a outra para aumentar a curiosidade. Os passeios de cores diferentes ajudam os visitantes a seguir um caminho, o chão de cimento pintado a jogo com as atrações faz fotografias mais bonitas e o castelo da Cinderela está construído de forma a parecer maior do que é na realidade, graças a diferenças de alturas na construção..O edifício cor-de-rosa, cenário de tantas fotos tiradas nos parques, repete-se nos três continentes em que existem parques Disneyland, e num deles, o da Califórnia, existe uma suíte de verdade. Deveria ter sido usada por Walt Disney e pela família, hoje recebe vencedores dos concursos. Além das fotografias dentro do castelo, uma noite neste quarto dá direito a passeio pelo parque depois do anoitecer..A obsessão com o lixo... e as pastilhas elásticas.Diz a lenda que Walt Disney, ele mesmo, se sentou num banco de jardim observando quem passava para saber quanto tempo demorava a deitar o lixo para o chão. Trinta passos foi o número a que chegou e é isso que se mantém válido nos parques..O lixo é assunto sério na Disneyland. Quando a noite cai e os últimos funcionários da Disney saem do parque, nos subúrbios de Paris, para apanhar o comboio, cruzam-se com muitos outros que chegam - são o terceiro turno. Durante a noite, inspecionam carrosséis, tratam do jardim, lavam as ruas e põem os vidros a brilhar. Tudo para que, na manhã seguinte, tudo esteja como recém-inaugurado para quem chega..Entre as brigadas de limpeza está, decerto, a de limpeza de pastilhas elásticas, outra obsessão no parque. De tal forma que, sendo possível levá-las para dentro do recinto, não é possível adquiri-las por lá. E se é possível comprar doces, brinquedos e outros itens na Disneyland...
Nos bastidores da Disney, entre aqueles que recebem os visitantes, quase 150 milhões em 2017 (15 milhões só em em Paris), circula uma espécie de piada: "Eles até conseguem fazer chover artificialmente só para vender mais impermeáveis." Uma forma hiperbólica, sem dúvida, de dizer que nada se faz ao acaso aqui, onde tudo é pensado para agradar às crianças - miúdas e graúdas..Para lá dos portões da Disneyland, há uma palavra que raramente vai ouvir: não. "Dizem-nos logo na formação para evitar. Sugerem-se alternativas", diz uma antiga funcionária ao DN, preferindo manter-se anónima. Príncipes, princesas, heróis e heroínas são importantes, mas "o verdadeiro rei é o visitante", acrescenta. "Tudo é pensado para o cativar.".Essa vida de personagem.Houve uma época em que tirar uma fotografia ao lado do Mickey ou da Minnie era simples e gratuito. Bastava encontrar as personagens a vaguear pelos passeios do parque. Hoje, os encontros são tanto mais raros quanto mais popular for a personagem. Os clássicos fazem-se pagar em pequenos-almoços e jantares. E quando um Pato Donald entra em funções, só esse trabalha. Porque, em teoria, não existe mais do que um Pato Donald. Reunir o máximo de autógrafos possível é um dos passatempos dos visitantes (quase tanto como tentar descobrir o símbolo do Mickey espalhado em jardins e edifícios) e até esse pormenor está feito a pensar na magia: o Pateta assina sempre da mesma maneira. Assim como todas as personagens..Os cast members (nome oficial de todos os que trabalham nos parques) que vestem a pele das personagens não podem partilhar informação sobre o trabalho nas redes sociais, não podem aparecer mascarados nem podem tirar fotos nos bastidores. E que ninguém inveje o seu trabalho: ao longo do dia, "dão-lhes muitos apalpões", conta a antiga funcionária ao DN..Túneis, falsas perspetivas e ilusões de ótica.Na Disneyland, o que não está à vista deve manter-se assim - é esse o espírito do parque idealizado pelo pai do Rato Mickey. No primeiro de todos os parques, inaugurado, no ano de 1955, Walt Disney levou tão a sério a missão de espalhar magia que não queria ver elementos da Fantasyland na Tomorrowland. Foi com esse intuito que foram criados túneis que percorrem boa parte do recinto na Califórnia. Nas suas versões posteriores - em Orlando (1971), Paris (1992), Tóquio (1983), Hong Kong (2005) e Xangai (2016) - essa funcionalidade desapareceu..Mas há muita arquitetura semelhante nos parques dos três continentes. De uma zona do parque não se consegue ver a outra para aumentar a curiosidade. Os passeios de cores diferentes ajudam os visitantes a seguir um caminho, o chão de cimento pintado a jogo com as atrações faz fotografias mais bonitas e o castelo da Cinderela está construído de forma a parecer maior do que é na realidade, graças a diferenças de alturas na construção..O edifício cor-de-rosa, cenário de tantas fotos tiradas nos parques, repete-se nos três continentes em que existem parques Disneyland, e num deles, o da Califórnia, existe uma suíte de verdade. Deveria ter sido usada por Walt Disney e pela família, hoje recebe vencedores dos concursos. Além das fotografias dentro do castelo, uma noite neste quarto dá direito a passeio pelo parque depois do anoitecer..A obsessão com o lixo... e as pastilhas elásticas.Diz a lenda que Walt Disney, ele mesmo, se sentou num banco de jardim observando quem passava para saber quanto tempo demorava a deitar o lixo para o chão. Trinta passos foi o número a que chegou e é isso que se mantém válido nos parques..O lixo é assunto sério na Disneyland. Quando a noite cai e os últimos funcionários da Disney saem do parque, nos subúrbios de Paris, para apanhar o comboio, cruzam-se com muitos outros que chegam - são o terceiro turno. Durante a noite, inspecionam carrosséis, tratam do jardim, lavam as ruas e põem os vidros a brilhar. Tudo para que, na manhã seguinte, tudo esteja como recém-inaugurado para quem chega..Entre as brigadas de limpeza está, decerto, a de limpeza de pastilhas elásticas, outra obsessão no parque. De tal forma que, sendo possível levá-las para dentro do recinto, não é possível adquiri-las por lá. E se é possível comprar doces, brinquedos e outros itens na Disneyland...