OS REPESCADOS MOVEM-SE A CERVEJA

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Nuno Herlander Simões Espírito Santo. Dinamarquês. Não olhem ao nome, mas à condição. O que é ser dinamarquês numa época destas? Numa época que começou ontem e acaba a 29 deste mês? Eu digo: é estar de férias, de papo para o ar mas triste, estendido na areia mas a sonhar com relva, não fazer nada e invejar os que fazem. É estar como os futebolistas da selecção dinamarquesa no fim da Primavera de 1992. Eles tinham perdido a qualificação para ir ao Euro desse ano, na Suécia. Estavam desolados porque, anos antes, tinham ganho um pseudónimo brilhante, Dinamáquina, e não podiam confirmá-lo.

Estavam assim os dinamarqueses - tendo os futebolistas escolhido o fim do mês de Maio para ir de férias. Foi então que a Jugoslávia se transformou no campeonato que se sabe e que Kusturica contou como ninguém. Na presunção de que um país que se retalha não merece ser metido numa só camisola, a UEFA desqualificou a Jugoslávia. E aquela que tinha partido pescar, a Dinarmarca, acabou repescada. Contactaram-se os futebolistas que andavam pelos quatro cantos do mundo, contaram-se os 23 necessários, disseram-lhes que eram uma equipa (não houve tempo para mais) e despacharam-nos para Gotemburgo. Nunca uma equipa chegou à fase final de um torneio internacional menos preparada e com mais olheiras.

Não sei onde estava Nuno, de 34 anos, o guarda-redes suplente do FC Porto, na sexta-feira passada (sei, estava no Algarve, mas isso é vulgar). Para a minha história convém-me que estivesse nas Maldivas. No tal papo para o ar e triste e baço. Felizmente para ele, tinha o telemóvel ao lado, pousado na toalha com palmeiras. Ouviu o toque e atendeu: "Menino - disse quem ele logo soube ser o Sargentão - tira os calções de banho e vem vindo logo."

Nas Maldivas estão habituados às manias dos turistas e ninguém ligou àquele rapagão que correu nu para o aeroporto - já sem calções de banho, como lhe tinha sido ordenado. E Nuno chegou, já hoje, à Suíça, ao Euro, tal como os dinamarqueses há 16 anos chegaram à Suécia, ao Euro. Que raio de Sarajevo terá acontecido para esta respescagem de Nuno? Calma, fala-se aqui de Portugal, selecção de brandos costumes. Não foi necessário derrubar a ponte de Mostar, nem encher valas de cadáveres, nem tornar popular a palavra sniper. Em Portugal, fazemos tudo mais barato: bastou o pulso de Quim.

Nuno Herlander Simões Espírito Santo, o dinamarquês, pois. Mas para o ser completamente, deixem-me lembrar mais. Os dinamarqueses, já que foram numa de por acaso, levaram a coisa na boa. Foram para um hotel de porta aberta, havia cerveja nos corredores e visitas das namoradas. No fim, foram campeões. Eu, se fosse o Scolari, deixava pelo menos o Nuno com essas regalias.

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