Os rapazes do Douro
Todos os anos fazem uma apresentação das suas novidades do Douro numa das quintas do grupo. Provam-se os vinhos, apreciam-se, comentam-se, trocam-se opiniões. Há um jantar enorme, conversa-se, aprecia-se a comida, fazem-se ligações com os vinhos. E os presentes divertem-se imenso. São um grupo de amigos que estiveram desde sempre ligados aos vinhos do Douro por via familiar. Mas que já eram amigos mesmo antes do vinho, o que faz toda a diferença. Entendem-se bem, são cúmplices, gostam de muitas coisas em comum. O Douro corre-lhes nas veias e eles sabem disso. E gostam. Como gostam, desde sempre, de se sentar à mesa a comer uns petiscos e provar os vinhos uns dos outros, compará-los, criticá-los.Com essas críticas, duras, de quem sabe da matéria, foram todos reconhecendo que os seus vinhos estavam todos no sector Premium. Mas que necessitavam de maior divulgação, que precisavam de apostar claramente na exportação, buscando mercados que apreciassem este tipo de vinhos e os pagassem bem. Os apoios oficiais eram poucos ou mesmo inexistentes e por isso resolveram pôr mãos à obra por conta própria. Foi assim que um dia decidiram juntar-se também na vida profissional e promover os seus vinhos em conjunto, dentro e fora do país, mantendo, no entanto, a identidade e independência de cada um. Assim nasceram os Douro Boys, um pouco por brincadeira, quase por acaso, deste grupo de amigos que achavam que podiam fazer mais e melhor. Assim tem sido até hoje: sentam-se à mesa, fazem umas «tainadas» (paródias) e passam a mensagem um pouco por todo o mundo, daquilo que é o Douro, os seus vinhos, as suas gentes. «Não é só levar a imagem e a qualidade dos nossos vinhos aos quatro cantos do mundo», diz Miguel Roquette, da Quinta do Crasto, um dos rapazes do Douro. «É levar um pouco da imagem do Douro, das suas paisagens, da história, das pessoas e, claro, do rio Douro.» É esta a missão e a jura destes Douro Boys, os proprietários da Quinta do Crasto, da Quinta de Nápoles, da Quinta do Vale D. Maria, da Quinta do Vale Meão e da Quinta do Vallado: por onde quer que andem a falar dos seus vinhos, acabam sempre por divulgar os vinhos do grupo.RoquetteTomás Roquette é a face mais conhecida da Quinta do Crasto e o mais activo junto dos Douro Boys. Nasceu em Lisboa, a 16 de Março de 1970, mas foi para o Porto muito novo. Ali estudou e foi tomando contacto com o mundo do vinho, que fazia parte da família. Não tendo formação específica na área, o Douro corre-lhe nas veias e ele está sempre disponível para o que for necessário fazer. «Adoro estar no Douro, acompanhar os trabalhos, quer nas vinhas quer na adega, receber quem nos visita. Mas também faço apresentações um pouco por todo o país, provas, jantares vínicos, enfim, o que for preciso. E, sempre que é necessário, ainda vou dar apoio ao meu irmão Miguel no estrangeiro. É preciso vender os vinhos», diz Tomás, com um sorriso maroto.Os Roquettes são donos da Quinta do Crasto, uma quinta emblemática na margem direita do rio Douro, onde em tempos terá existido um castro («crasto») romano, que produz alguns dos mais conhecidos vinhos tintos da região. Esta quinta é fruto do entusiasmo de Jorge Roquette, a que os filhos têm dado continuidade apaixonada. A primeira referência à Quinta do Crasto data de 1615. Constantino Almeida, bisavô da actual geração, comprou a quinta cerca de 1923, depois de regressar a Portugal vindo do Brasil, e o avô assumiu a quinta, que vai na quarta geração. O estilo colonial da casa vem dessa época. «Nos anos cinquenta, o meu avô vendeu a marca Constantino e as instalações de Vila Nova de Gaia à Ferreira, mantendo a quinta no Douro», diz Tomás Roquette. «No entanto, o meu avô foi guardando todos os anos stocks interessantes de várias colheitas de vinhos do Porto, sobretudo LBV, que foram fundamentais quando arrancámos com a produção de vinhos próprios. Foram um rendimento seguro, graças a ele», diz ainda. No final da década de setenta, quando a família regressou do Brasil, o pai, Jorge Roquette, assumiu os comandos da quinta. «A partir daí, o meu pai declarou que tinha duas grandes paixões na vida: a primeira é a minha mãe, Leonor, a segunda é o Douro», acrescenta Tomás.No início, sob o comando técnico de Cristiano Vanzeller e de David Baverstock, produziam-se na Quinta do Crasto cerca de quarenta mil garrafas; hoje já se produzem cerca de oitocentas mil, sob o comando de Manuel Lobo e a assessoria de Dominic Morris. Recentemente investiram numa propriedade do Douro Superior, em Foz Côa, a Quinta da Cabreira, continuando o percurso de qualidade. É disso prova o recente lançamento do Crasto Superior, um vinho tinto moderno, cheio de raça. Os três irmãos Roquette estão intimamente ligados ao projecto, que já é um projecto de vida, das suas vidas, da vida desta família. Miguel passa quase mais tempo lá por fora do que em Portugal, um pouco por todos os países que compram os seus vinhos. Mas não esquece o Douro, aonde regressa sempre que pode. Rita é responsável pela imagem destes vinhos e desta quinta, através da Direct Wine, dando-lhe o toque de bom gosto que só uma mulher sabe. São pessoas alegres, simpáticas, que gostam de receber e que adoram o que fazem.E fazem muito em prol do Douro, dos seus vinhos, da beleza da região e, acima de tudo, da sua preservação. A adega moderna foi muito bem integrada na paisagem, coberta de relva e forrada de xisto tradicional, numa constante procura de modernizar sem estragar. Como curiosidade, em tempos foi construída uma piscina, discreta mas lindíssima, num nível superior da quinta, da autoria de um grande amigo da família, o arquitecto Eduardo Souto de Moura. É tal a beleza e a sua integração na paisagem que já se tornou num ícone na região. «Mesmo não estando ainda preparados para o enoturismo, todos os dias temos pedidos de visitas, de provas de vinho e de refeições, e mesmo de pernoita, numa procura cada vez maior das pessoas pelo Douro», diz Tomás Roquette. «O que nos deixa contentes e entusiasmados para avançar com essa área também, talvez ainda este ano», remata.O Crasto Tinto DOC é o vinho de maior produção da Quinta, sem passar por madeira, um vinho clássico, acessível e... barato. Mas são os reservas e as colheitas especiais que deram notoriedade à Quinta. O Tinto Reserva tem sido pontuado constantemente bem acima dos noventa pontos por grandes revistas internacionais e é um dos vinhos portugueses de qualidade mais vendidos, quer no país quer no estrangeiro. O Vinha Maria Teresa e o Vinha da Ponte já fazem parte do imaginário de qualquer apreciador dos nossos melhores tintos. São vinhos míticos!NiepoortUma palavra define o projecto mais recente do talvez mais conhecido dos Douro Boys, Dirk Nieport, a adega da Quinta de Nápoles: sonho. A empresa foi fundada em 1842 pelo comerciante holandês Franciscus Marius Niepoort e desde então tem-se mantido sempre na família. Dirk Niepoort, o responsável actual, é criador de alguns dos grandes vinhos que o Douro produz, juntando projectos arrojados à tradição dos seus vinhos do porto, com grande história no Douro. Estes vinhos do porto continuam a ser preparados, com pisa a pé, na velha adega de Vale Mendiz, ali ao lado do Pinhão, não longe de Nápoles. Na Quinta de Nápoles, comprada em 1988, Dirk levou vários anos a projectar uma adega que incorpora tudo o que o produtor imaginara: espaço, muito espaço, tecnologia moderna, temperaturas baixas naturais, controlo de consumo de energia. Os cascos de boa madeira fazem o resto, neste projecto de paixão. «Foi uma luta com os engenheiros do projecto, que não concordavam com as minhas sugestões. Tive de bater o pé para impor a minha vontade, sobretudo nas soluções técnicas de controlo de temperatura na adega e na preocupação de poupar energia», diz Dirk. «Depois de tudo pronto e da adega a funcionar, deram-me razão», conclui. Dirk Niepoort gosta de vinhos elegantes e pouco alcoólicos e, curiosamente, não é grande apreciador da casta Touriga Nacional. Quase por teimosia, vai calcorreando o Douro em busca de vinhas velhas, uvas boas e gente que saiba e com quem possa aprender sempre mais, o que se tem revelado de uma enorme eficácia na produção dos muitos vinhos que fazem parte do catálogo Niepoort. E da sua constante modernização, pois Dirk é irrequieto, irreverente, imprevisível e sempre inconformado, parece que nunca está satisfeito. «Para mim, os vinhos têm de ter acidez e frescura, sejam brancos ou tintos. É por isso que gosto de anos mais frescos, com menos calor, quando as uvas evoluem mais lentamente. E, por vezes, até é bom ter alguma chuva nas vindimas, porque não?», atira, mordaz, sempre polémico.Foi nos anos noventa que Dirk Niepoort produziu o seu primeiro vinho, o tinto Robustus, de imediato «chumbado» por seu pai, Rolf, que o apelidou de intragável. «Era um vinho duro, taninoso, difícil, realmente não se conseguia beber», concorda Dirk. E por lá ficaram umas centenas de garrafas, meio esquecidas. Uns anos mais tarde, o mesmo vinho estava fantástico.São situações e possibilidades como estas que fascinam este homem alto, nascido no Porto em 11 de Março de 1964, oriundo de uma família holandesa radicada em Portugal e desde sempre no negócio do vinho do porto. Embora tivesse estudado na Suíça, o Douro desde muito cedo o atraiu. E desde que está ligado à produção, Dirk está sempre em movimento, quer vagueando pelo seu Douro, com uma escapadela rápida a uma ou outra região, quer por esse mundo vinícola fora, com especial incidência França, Alemanha e Áustria, países de cujos vinhos é um fã incondicional. «Quando conseguirmos fazer vinhos brancos como esses, então talvez eu fique satisfeito e concorde que temos grandes vinhos», diz, com autoridade. «É preciso provar, provar muito, mais vinhos, sempre mais vinhos. Só assim se pode comparar, criar registos, referências, tomar notas e depois tentar fazer coisas novas, diferentes, com a matéria-prima do Douro que, felizmente, não falta», diz ainda.Parece que Dirk Niepoort tem conseguido atingir os seus objectivos. E, sempre que pode - e pode muitas vezes -, lá anda ele por aí fora também a divulgar os Douro Boys, com bom gosto e persistência. Na Quinta de Nápoles adora receber e sentar as pessoas à mesa. Há sempre sopa de legumes da horta e um frango assado no forno, com arroz solto, que é uma delícia. Por vezes, é ele próprio a cozinhar para os amigos.A imagem dos vinhos tem vindo a ser trabalhada de uma forma muito especial por Dirk Niepoort e os seus criativos. De tal forma que conseguiu dar um ar moderno, muito jovem, mesmo aos seus vinhos do porto. Os seus projectos estão imparáveis e tem até um vinho, o Diálogo, cujo rótulo é um cartoon. É contratado um especialista de cada país em que o vinho é vendido, que desenha um cartoon apropriado ao país e na sua língua natal. Vinhos óptimos, leves, fáceis de beber e a preços muito acessíveis.O Girosol é um verde feito a partir da casta Loureiro. Os Redomas - branco, rosé e tinto - são vinhos seguros. O Charme é um tinto sofisticado, elegante, apetecível. O Batuta é dos grandes tintos portugueses, um clássico representante do que de melhor se faz por cá. Nos portos, os Júnior e Sénior, e os Ruby Dum & Tawny Dee, são uma maneira de, através do humor e imagens modernas, levar estes vinhos com história às camadas mais jovens.Van ZellerOs Douro Boys são feitos de apelidos ligados ao Douro. Como o da família Van Zeller, que faz parte da história da região. O seu representante no grupo é Cristiano van Zeller, nascido em 18 de Novembro de 1958, no Porto, onde vive. Esteve desde sempre ligado aos vinhos, seja porque trabalhou ainda alguns anos na emblemática Quinta do Noval, outrora pertença da família, seja porque, depois da venda desta, passou pela Quinta do Crasto, onde fez equipa com David Baverstock na criação dos primeiros vinhos desta quinta, até se radicar na Quinta do Vale D. Maria, de que é proprietário, com a sua mulher.«A antiguidade desta quinta perde-se no tempo, há muitos séculos. Há registos da sua existência anteriores à fundação do próprio país», informa Cristiano. «E há um registo curioso de que a quinta foi dada como dote de casamento no século xviii», acrescenta. Em 1973 esteve alugada à família Symington, mas logo depois entrou em decadência. Em 1996, depois de a família Van Zeller vender a Quinta do Noval, a avó de Joana van Zeller propôs que o casal tomasse conta da quinta. O que acabou por acontecer quando Cristiano a comprou e desde logo começou a sua recuperação, pois o «bichinho» dos vinhos do Douro não permitia que recusasse este desafio.Os Douro Boys têm uma jura de entreajuda. «O primeiro vinho que aqui fizemos foi preparado na Quinta de Nápoles, com o auxílio do Dirk», explica Cristiano. «Depois, nos anos seguintes, fomos tendo a ajuda da Quinta do Crasto, onde eu era enólogo, fruto da tal amizade que já existia. Fomos recuperando a adega, mantendo-se os lagares de granito, fazendo-se alguma pisa a pé, mas juntando-lhes a técnica moderna da robotização, até que, em 1999, lá conseguimos fazer em Vale D. Maria o nosso primeiro vinho», diz com indisfarçável orgulho. Ali vem produzindo desde então dos mais consistentes vinhos do Douro, quer de mesa quer do Porto, sendo um dos mais activos Douro Boys. São vinhedos muito velhos, tratados com carinho, que Cristiano conhece como as suas mãos, ele que é caçador «viciado», habituado a calcorrear aquele Douro palmo a palmo, tanto na companhia do cão fiel e com a arma ao ombro como na azáfama dos trabalhos da vinha, ao longo de todo o ano... sempre que está por cá.Para produzir os seus vinhos tem uma adega muito simples, em casa antiga recuperada e onde Cristiano van Zeller conta com a preciosa colaboração de Sandra Tavares da Silva, uma menina da cidade que também se apaixonou pelo Douro e ali se radicou, tornando-se uma verdadeira «Douro Girl». «Adoro o projecto de Vale D. Maria, ainda por cima foi onde comecei a minha vida de enóloga», diz Sandra. «Vive-se um ambiente fantástico de amizade e camaradagem», continua. Sobre os vinhos que também ajuda a fazer ali, Sandra diz que «são vinhos de uma enorme elegância, muito difícil de encontrar noutros locais do Douro».Na sua pequena casa de campo, na parte superior da quinta, Cristiano tem um refúgio de onde pode contemplar a quinta, as vinhas e, lá mesmo em baixo, quase escondido, o rio Torto, que vai serpenteando por entre vinhedos e socalcos até encontrar o Douro, mais lá para baixo. É ali que se recebem os visitantes, se fazem umas petiscadas e, acima de tudo, se provam os excelentes vinhos tintos de Vale D. Maria. Por ali passa gente de todo o mundo que vem ver ao vivo a riqueza do Douro, a paisagem incrível e provar e comprovar a qualidade dos seus vinhos. Cristiano recebe-os sempre da mesma maneira, com aquele espírito hoje já característico dos Douro Boys: um sorriso contagiante no cimo daquele corpo enorme, uma palavra amiga de boas-vindas - e histórias, muitas histórias: da família, do Douro, do seu país, que os visitantes ouvem embevecidos, seja em português truculento, em espanhol fluente ou em inglês oxfordiano. O resto do tempo lá vai também mundo fora levando os vinhos do Douro atrás de si, mais um Douro Boy a promover Portugal.Os Tintos Quinta Vale D. Maria são dos mais bem conseguidos, vinhos sóbrios, poderosos mas ao mesmo tempo elegantes, que mantêm aquele perfil de ano para ano, grandes vinhos de quinta. Mais recentemente, os CV têm vindo a afirmar-se como vinhos modernos, diferentes, já reconhecidos. Os portos Vintage têm um pouco da história do Douro e da família Van Zeller: autoritários, encorpados, saborosos, afáveis, divertidos. Qualquer deles acompanha na perfeição umas perdizes ou umas galinholas estufadas, apuradinhas...OlazabalA Quinta do Vale Meão foi uma das quintas compradas, na segunda metade do século xix, por D. Antónia Adelaide Ferreira - a Ferreirinha - bem perto do Pocinho, mesmo junto ao rio Douro. Ferreirinha que, com a sua visão estratégica, esperou cerca de dez anos pela chegada ao Pocinho do caminho-de-ferro, disso tirando partido como ninguém. Ali ergueu uma das suas mais bonitas propriedades, que se mantém até hoje na família. E de onde saíram, durante algumas décadas, a maior parte das uvas de que se fazia o mítico Barca Velha.Francisco (Vito) Olazabal, um dos descendentes de D. Antónia, foi adquirindo à família as várias participações, assumindo a totalidade da quinta a partir de 1994. Por aquele tempo, a adega de Vale Meão ainda era usada pela empresa Ferreira, que também comprava as uvas, numa parceria que era muito vulgar no Douro. Esta parceria terminaria em 1999, quando Olazabal decidiu começar um projecto próprio, já com o apoio dos filhos. O filho Francisco (Xito) é desde então o enólogo, e logo em 1999, produziram o primeiro vinho, em muito pequena quantidade, com a marca Vale Meão. O vinho nunca mais parou de subir em qualidade e reconhecimento nacional e internacional. Daí para cá, produzem todos os anos dois vinhos tintos de mesa e um vinho do porto Vintage, com base nos cerca de 82 hectares de vinha agora existentes. O pai Olazabal continua a movimentar-se pelo mundo do vinho com a classe de sempre, um senhor do vinho e um embaixador do Douro como poucos. A sua mulher, Luísa, filha de Fernando Nicolau de Almeida, é autora de um livro sobre D. Antónia Adelaide Ferreira, de quem o marido é descendente directo. A filha, também Luísa, trata da parte comercial, da organização de provas e outros encontros. O filho Xito, nascido no Porto em 29 de Janeiro de 1969, vive hoje em Vale Meão com a família e é o artesão incansável dos vinhos que dali saem, sempre perto das vinhas e da adega. «É importante poder estar perto das vinhas, apreciar o seu desenvolvimento, estar atento aos problemas, às doenças, e poder atacá-los a tempo», diz Xito.Fazendo vinho com outros produtores e mesmo noutra região, é o Douro que lhe corre nas veias. «No Meão há terrenos diversos, muito diferentes, há xisto, há granito e há calhaus, há exposições solares diversas», diz. «É também isto que me fascina, poder trabalhar e entender a terra e transmitir isso às uvas e depois aos vinhos. É isso que os caracteriza, que os faz diferentes.» Xito fala do vinho com entusiasmo, como se falasse de um filho. Ele também já faz parte do Douro, não só através de Vale Meão mas também como um dos fundadores e motores dos Douro Boys. E, como os outros amigos, lá anda ele entre os vinhedos do Meão e as salas de jantar de todo o mundo, a propor, a provar e a explicar os seus vinhos e os vinhos dos seus amigos.A Quinta de Vale Meão mantém hoje toda a sua beleza natural, embora tenha mais vinhas plantadas e alguns sistemas modernos que ajudam a produzir vinhos com a qualidade desejada. A adega é um edifício que foi remodelado e adaptado, todo em granito, com condições naturais fantásticas e uma enorme sala de barricas de carvalho onde repousam os vinhos produzidos na quinta. Vale Meão partilha da paz do Douro, difícil de descrever, invadida pela luminosidade duriense, numa quinta muito bem recuperada e tratada, onde cada pormenor, mesmo o mais simples, é levado muito a sério.O Tinto Meandro é um vinho com uma das melhores relações qualidade/preço do mercado. Um tinto cheio de força, muito elegante, alegre, vivo. O Vale Meão é dos grandes vinhos portugueses, que rapidamente se transformou num clássico, conhecido e reconhecido um pouco por todo o mundo. E que, por isso mesmo, apesar de ser um vinho caro, esgota com alguma facilidade. FerreiraTambém representantes da família Ferreira, descendentes em linha directa de D. Antónia Adelaide Ferreira, com o peso e a responsabilidade que isso acarreta, são os Douro Boys da Quinta do Vallado. O Vallado é uma quinta mesmo em frente à Régua, para nascente, que vai acompanhando a estrada serpenteante que liga a Régua à barragem de Bagaúste, com vinhedos que vêm cá de baixo, quase junto ao rio Corgo, até ao cimo da encosta, permitindo observar a paisagem duriense de vários ângulos, sempre diferentes, sempre de grande beleza. Uma boa parte são vinhas velhas, rugosas, retorcidas, que se estendem encosta acima, trabalhadas a preceito para que possam continuar a dar uvas com a qualidade capaz de fazer os vinhos a que já nos habituámos.Um dos atractivos para quem visita a Quinta do Vallado é mesmo passear pelas vinhas, seja num veículo todo-o-terreno seja a pé, para os mais corajosos. Há percursos organizados que permitem apreciar os pontos mais interessantes e dali sorver as melhores perspectivas da paisagem. A recuperação da quinta foi feita por etapas, dando-se prioridade às vinhas, à adega e à guarda das muitas colheitas, sobretudo de vinhos do porto, que precisam de descanso e de muito tempo na garrafa. Foi uma aposta acertada, pois os vinhos foram ganhando notoriedade, primeiro no mercado nacional e depois, lenta mas seguramente, nos muitos países onde são vendidos com sucesso. E de lá foram os dois primos, também eles fundadores dos Douro Boys - Francisco Ferreira, que vive no Porto, onde nasceu, em 22 de Julho de 1972, e João Álvares Ribeiro, também nascido no Porto, em 12 de Abril de 1958, ali continuando a viver -, de norte a sul do país, primeiro, e depois por esse mundo fora. O Touriga Nacional que fazem, por exemplo, tem ganho prémios diversos, mesmo no estrangeiro. E, a par da modernidade dos vinhos de mesa, mantêm a tradição secular dos vinhos do Porto, com colheitas e lotes de enorme qualidade. As várias casas da quinta foram recuperadas, mantendo-se a traça original, todas pintadas num ocre muito bonito, que já faz parte da paisagem, para quem chega pela auto-estrada que vem de Vila Real. Vê-se logo que é o Vallado.Na Quinta funciona um enoturismo de qualidade, também com oferta de quartos para estada, que em breve vai ser ampliado. A casa principal é o centro desta unidade hoteleira de charme, usufruindo o visitante das suas belas salas e de um alpendre fantástico, com uma vista inesquecível sobre o rio Corgo. A unidade hoteleira do Vallado adquiriu já um estatuto de grande nível, muito bem integrada na paisagem e com uma oferta gastronómica óptima, com a recuperação de alguns pratos tradicionais, muito bem apresentados. Recentemente, foi inaugurada uma adega nova, moderna, equipada com tecnologia de ponta mas mantendo o perfil dos vinhos e a tradição da família. Os dois primos - Francisco e João - gerem a quinta com entusiasmo e bom gosto e confiam noutro primo - Xito Olazabal - para garantir a qualidade não só das uvas mas do que sai todos anos da adega, entre brancos, tintos e portos. Os resultados estão à vista, com prémios um pouco por todo o lado e, acima de tudo, consumidores cada vez mais satisfeitos com o que bebem de ano para ano. Com a garantia que vão poder, todos os anos, provar coisas novas vindas do Vallado, onde a inovação não pára. Os brancos têm alguma importância, mas são os tintos que têm dado notoriedade à Quinta. O Touriga Nacional é excelente, com um perfil aromático exótico, muito floral mas uma boca cheia, redondo, por vezes enigmático, um grande vinho. O Tinto Reserva é talvez o mais consistente, com um perfil clássico de um grande tinto do Douro, com corpo, um vinho íntegro, seguro, elegante. E o Souzão, um vinho guloso, gastronómico, com muito corpo, a dar luta. Os primos têm tido coragem e bom gosto para fazer experiências novas, à volta dos vinhos do Douro, sempre em busca de novas soluções, de outros níveis, também seguindo a procura e exigência dos consumidores, atentos ao que se faz mas, sobretudo, ao que se bebe por esse mundo fora. No Vallado, qualquer visita, conversa ou refeição, acaba inevitavelmente com um (ou mais!) cálices de vinho do porto. O seu Tawny 10 Anos é dos melhores: equilibrado, subtil, elegante, para apreciar num belo final de tarde duriense.Este ano, os Douro Boys ainda não fizeram uma apresentação das suas novidades. A curiosidade do mercado e dos especialistas é grande. Ninguém perde a oportunidade de os ter ali todos juntos, como anfitriões privilegiados dos vinhos do Douro. E que abrem as portas sempre com boa disposição para todos os outros produtores durienses que queiram com eles partilhar uma paixão que lhes é comum, a desta região única no mundo que tem dado ao mundo tão belos vinhos e cuja paisagem faz parte do património mundial da humanidade. Um passeioQuem quer conhecer o Douro vínico mais profundo pode fazer um passeio tendo como base estas cinco quintas. A elas pode juntar o Museu do Douro, em plena Régua. Passará assim pelas três sub-regiões - Baixo-Corgo (Museu do Douro), Cima-Corgo (Quinta do Vallado, Quinta do Crasto, Quinta de Nápoles e Quinta Vale D. Maria) e Douro Superior (Quinta do Vale Meão), que lhe permitirá apreciar a diversidade da região, as paisagens, o vale do Douro, as barragens e as perspectivas paisagísticas diversas. Em todas elas os Douro Boys mantêm o bom gosto, o perfeccionismo, a busca constante da qualidade e a vontade confessa e imparável de divulgarem o Douro em todo o seu esplendor. Quinta do Crasto - www.quintadocrasto.ptQuinta Vale D. Maria - www.valedonamaria.comQuinta do Vale Meão - www.quintadovalemeao.pt Quinta do Vallado - www.wonderfulland.com/valladoQuinta de Nápoles - www.niepoort-vinhos.com Os vinhos que eles fazem(Roquette)Crasto Superior Tinto 2009_ É o benjamim dos vinhos deste produtor duriense, feito a partir de uvas da Quinta da Cabreira, em Foz Côa, no Douro Superior. Um vinho jovem, de cor violácea e intensidade média, muito agradável ao olhar. No nariz revela aromas de frutos silvestres, da terra, ligeiramente floral, mas também de plantas do campo, esteva e urze, ligeiramente apimentado. Na boca apresenta-se com bastante corpo, envolvendo todo o palato, notas de frutos silvestres bem equilibrados, persistente. E tem frescura, muita frescura, com muito boa acidez mas ao mesmo tempo apresenta notas de especiarias, dando-lhe complexidade que o tornam especial, até um pouco enigmático, sóbrio sem ser pesado, um vinho tinto que se vai descobrindo conforme se vai bebendo. É um vinho moderno, pertence aos novos vinhos do Douro, capaz de ligar com um vasto leque de comidas. Por exemplo com uma pasta fresca com cogumelos frescos e pimenta preta ou um nispo de vitela assado no forno com grelos salteados.Crasto Tinto 2009_O vinho de maior produção da Quinta do Crasto, um tinto que é já um clássico, um valor seguro que se bebe com prazer, um vinho simples que agrada a um vasto leque de consumidores. Apresenta uma cor violeta muito agradável, bastante limpo. Aromaticamente percebe-se que é do Douro, aquele equilíbrio característico, os frutos silvestres maduros, as flores de fragrância suave, algumas plantas do campo. Na boca tem bastante frescura, é suave, apetecível, apresenta alguma amora madura, é redondo, envolvente, tem óptima acidez. Um vinho tinto que não passa por madeira, mas mesmo assim equilibrado, com bastante elegância, que deixa um final de boca médio mas muito agradável e que está pronto para beber. É um bom exemplo dum vinho moderno, simples mas marcante, que se bebe sozinho ou faz companhia a pratos muito diversos. Por exemplo, um bife à portuguesa, só frito em azeite, alho e louro, na companhia de batata frita aos palitos grossos. (Niepoort)Batuta Tinto 2008_Um dos grandes vinhos da casa Niepoort e um dos grandes vinhos do Douro. É, apesar do preço elevado, um dos mais procurados. As uvas vêm de dois tipos de vinhas, umas com cerca de 70 anos e outras que já rondam os 100 anos, vinhas de altitude. São verdadeiras filigranas, trabalhadas por mãos experientes e que são acariciadas ao longo de todo o processo, até chegarem aos lagares. Apresenta cor vermelha carregada, autoritária. No nariz é exuberante, com notas de especiarias e algum fumo, frutos pretos muito maduros mas ao mesmo tempo com mineralidade, complexo mas aliciante. Na boca mantém-se a elegância, um conjunto cheio de equilíbrio, com belos taninos, aveludado, notas de frutos vermelhos bem conjugados com uma óptima acidez, deixando um final longo cheio de frescura. Um conjunto harmonioso que já se bebe muito bem, mas que vai evoluir imenso em garrafa. Para fazer companhia requintada a um faisão estufado com castanhas.Redoma Tinto 2008_Mais um clássico do Douro, este tinto da autoria de Dirk Niepoort, o seu primeiro vinho de mesa. Um ano muito bom, com temperaturas baixas, em que as uvas puderam maturar lentamente, deu um vinho em que a nota dominante é a elegância, algo que é muito caro a este criador de sucessos. Começando pela cor carregada mas sóbria, continuando nos aromas que afloram ao nariz, de uma grande suavidade, embora tendo bem presentes os frutos pretos, algo mineral e com muitas plantas do monte, esteva, urze, carqueja. Na boca é complexo, mantendo a mineralidade, conjugada com uma acidez fantástica, a contrabalançar os taninos, já domados, contribuindo para um equilíbrio constante. Frutos pretos maduros, bem marcados, notas de chocolate e tabaco, um vinho fresco que tem final longo. É daqueles vinhos que se pede à confiança, pois, além de haver uma garantia de não sairmos defraudados, tem imensas possibilidades de ligações gastronómicas. Como um galo assado no forno, dos autênticos.(Van Zeller)Curriculum Vitae tinto 2008_A família mais nova de vinhos de Cristiano van Zeller está a dar muito boa conta de si e a ser bastante bem aceite no mercado. É mais um vinho feito com paixão, como já nos acostumou este produtor, um vinho com carácter, com enorme estrutura. Com a força típica dos grandes tintos do Douro, é um tinto poderoso, de cor vermelha carregada, brilhante, e aromas intensos de frutos vermelhos bem maduros, com notas abaunilhadas mas cheio de frescura. Na boca é possante, com taninos cheios de força, bem casados com a acidez equilibrada do conjunto, tem frutos vermelhos e notas ligeiras de compota, tem frescura que envolve o palato com suavidade. É uma grande criação que contrasta com o seu irmão mais velho, mais austero, mais tradicional. Este CV é mais moderno, já se bebe bem, mas não perde nada se o deixarmos mais algum tempo na garrafa. Ou se o bebermos a acompanhar uma feijoada de lebre bem temperada.Quinta Vale D. Maria Tinto 2008_É provavelmente o vinho mais consistente do Douro, mantendo de ano para ano o mesmo perfil, o mesmo carácter, a mesma persistência. Um pouco à imagem do seu principal obreiro, Cristiano van Zeller, que gosta dele assim. As uvas são daqueles vinhedos que vão descendo desde a parte de cima da quinta, até já bem perto do leito do rio Torto. Cor vermelha carregada, opaco, sóbrio. O nariz começa suave, discreto, mas vai subindo e revelando aromas de fruta preta madura, de especiarias, com ligeira fragrância floral mas também um toque fumado, requintado. Na boca é espesso, gordo, cheio, mas ao mesmo tempo com uma frescura incrível, em contraste com os taninos poderosos a dar-lhe alguma acidez que liga bem com o conjunto. Notas de frutos pretos e algumas especiarias, num vinho cujo final nunca mais acaba. Aberto com tempo, de preferência decantado, faz boa companhia a um arroz de tordos, bem temperado.(Olazabal)Meandro Tinto 2008_Proveniente de uma quinta cheia de história, da história do vinho do Douro, este Meandro é o irmão mais novo do Quinta do Vale Meão, mas procedente das mesmas uvas, das mesmas vinhas. É um tinto que revela alguma juventude, muito equilibrado, mas que tem o perfil dos vinhos do Douro Superior, tem garra, tem consistência. É o resultado continuado do bom gosto de Xito Olazabal, um perfeccionista confesso. Aromaticamente lá estão os frutos vermelhos, as notas florais suaves, um ligeiro mentolado, muito agradável. Na boca é vivo, cheio, redondo, sabe a frutos vermelhos, alguma framboesa, tem uma boa mineralidade que lhe dá frescura, tem uma acidez bastante equilibrada a contrabalançar os taninos seguros. É um vinho fácil de beber, que vai abrindo no copo e que há-de deixar belo final, um belo exemplo de que o Douro Superior pode dar vinhos com muita elegância. Liga bem com pratos de carne como uma codornizes salteadas no tacho.Quinta do Vale Meão Tinto 2008_É um dos grandes vinhos do Douro, que lentamente foi conquistando um lugar de destaque no topo da hierarquia vínica duriense. É o justo representante dos vinhos desta quinta fantástica, proveniente de uvas bem maduras, escolhidas meticulosamente, das castas mais tradicionais da região, num lote muito equilibrado. Aromas intensos de frutos silvestres, de amoras, mas também das plantas do monte e das sua flores selvagens. Cheira a fumo, tem notas de baunilha, quase uma fragrância. Na boca revela todo o seu potencial, complexo, fechado, austero mas com notas vibrantes de frutos pretos, amoras, até ameixas. Taninos poderosos sem ser agressivos, notas de chocolate preto, ligeiro tabaco, revela uma frescura fantástica para um vinho tão poderoso. E tem um imenso final de boca. Se o Meandro é um carro desportivo, este é um automóvel de luxo. Ganha muito se for decantado e servido a acompanhar um peru assado no forno com farofa.(Ferreira)Quinta do Vallado Reserva 2007_Nesta quinta de grande tradição produzem-se uvas fantásticas, de várias castas, qual delas a melhor ou a mais interessante. Depois de bem combinadas, nas proporções mais acertadas, dão vinhos extraordinários, que apetece beber. Este Reserva Tinto é um desses néctares, que se vai tornando num clássico, tal a sua qualidade, consistência e regularidade. E mesmo lá fora tem sido reconhecido como um dos grandes vinhos do Douro da actualidade, pontuado recentemente com 96 pontos pela conceituada revista Wine Spectator. Apresenta aromas profundos de frutos vermelhos muito maduros, algum floral elegante, é fresco. Na boca é aveludado, suave mas persistente, impõe-se facilmente, tem óptima acidez e notas de frutos vermelhos elegantes, ligeiramente mentolado, suavemente apimentado, um conjunto exuberante com um final muito longo. Faz boa companhia a uma fraca estufada com cogumelos selvagens.Porto Tawny 10 Anos_A tradição dos vinhos do Porto Tawny francamente bem representada neste 10 Anos do Vallado. Duma cor âmbar carregada mas bastante límpida, entra no nariz com um bouquet cheio de elegância e requinte. Aromas complexos de frutos secos, muito amendoado, notas ligeiras de tangerina cheias de frescura, um travo acre que lhe fica tão bem. Na boca é de uma envolvência esmagadora, com uma acidez incrível, que vai conquistar facilmente o palato, tem notas de amêndoa, de canela, tostado, sabe a fumo, com toques suaves de compota de pêssego, sabe a ameixas maduras. Muito fresco, vai ficando na boca, com um final muito longo. Deve beber-se ligeiramente refrescado, não necessitando de companhia nenhuma. Mas pode acompanhar sobremesas doces de ameixas e fios de ovos.