Os prémios de risco vão subir com esta crise

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Uma consulta pelos operadores nos mercados financeiros permite concluir que existe um amplo consenso sobre aquilo que se sabe e se espera da turbulência originada na crise do subprime norte-americano a 9 de Agosto passado. As regras de actuação para os detentores de poupanças decorrem, como sempre, do bom senso de cada um, tendo em conta as tendências previsíveis para os próximos meses:

Se há cerca de dois anos se repetiam os alertas acerca do risco excessivo do sector hipotecário nos EUA, porque é que ele se repercute agora nas instituições financeiras de vários outros países?

Se se desse uma forte quebra no sector automóvel, ela repercutir-se-ia nas empresas de componentes para automóveis, no sector metalúrgico, nas redes de concessionários e de estações de reparação pelo mundo fora. O que a "indústria" financeira tem de específico é estar muito mais exposta ao risco, por se terem desenvolvido produtos derivados no seu seio que impedem uma leitura transparente da solidez das suas componentes.

O que significa estar o sistema financeiro sobrealavancado?

Significa que se estendeu a cadeia de entidades envolvidas nos mais diversos tipos de dívidas e já não só o devedor e o banco, que lhe empresta o dinheiro. As dívidas são repassadas a sucessivos intermediários, que procuram, todos eles, ganhar um pouco com a operação. Perde-se, assim, a noção exacta do risco ajustado aos diversos segmentos das carteiras de crédito existentes na banca e nas suas instituições especializadas e derivadas. O prefixo "sobre" reconhece que o prémio de risco devido foi subavaliado. No caso do subprime nos EUA, o spread praticado estava aquém do risco de incumprimento existente.

Que efeito terá esta crise nas taxas de juro?

Pela certa, uma avaliação mais severa dos níveis de risco envolvidos, com maior diferenciação das margens bancárias entre os melhores clientes e os que oferecem mais risco. As taxas de juro, que agora estão muito próximas entre diversos segmentos de clientes, sejam eles empresas ou particulares, tenderão a apresentar maior amplitude de variação, mesmo que os bancos centrais procurem evitar um excessivo abrandamento económico, baixando os níveis das suas taxas de referência.

E, até quando vai manter-se a situação de turbulência?

Ninguém, de boa fé, o poderá dizer, visto que o clima de desconfiança surgiu justamente por ninguém saber até que ponto é que o vizinho não está exposto a problemas de liquidez e de rentabilidade que não são visíveis de fora. Essa desconfiança levou, nas últimas seis semanas, à retracção do mercado interbancário e ao recurso sucessivo a operações de financiamento de emergência por parte dos bancos centrais que aprovisionaram o mercado com dinheiro suficiente para garantir o seu normal funcionamento. As válvulas de segurança do sistema estão a funcionar de forma coordenada. Mas ninguém poderá afiançar que não surgem surpresas de onde menos se espera.

O que se recomenda, então, a quem queira aplicar as suas poupanças?

Como sempre, tudo depende do volume delas e do seu prazo de aplicação. Para pequenos montantes ocasionais, os operadores recomendam os depósitos a prazo, com elevado grau de liquidez e risco quase virtual. O momento não é favorável a aplicações muito arriscadas. Para quem tenha nervos suficientes, capazes de suportar quedas pontuais, a mais longo prazo a aplicação em obrigações tenderá a valorizar-se. Tal como as acções. Só que, num contexto de volatilidade, é essencial identificar as melhores opções, separando-as das excessivamente arriscadas. E isso não está ao alcance dos conhecimentos de um simples cidadão aforrador. Recomenda-se o recurso a operadores financeiros da instituição bancária da confiança de cada um. |

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