O ecstasy, mesmo quando consumido esporadicamente, pode provocar lesões graves no cérebro dos adolescentes. O alerta foi dado, ontem, durante o mini-simpósio "Neurologia e drogas de abuso", que decorreu no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto (UP).. "Há muito a ideia de que o ecstasy não faz mal, que é a droga do amor, mas tem graves consequências a longo prazo no desenvolvimento do sistema nervoso central dos nossos adolescentes", explicou Teresa Summavielle. Segundo esta investigadora do IBMC e coordenadora do evento, a transposição para o ser humano dos resultados dos estudos feitos em animais leva à conclusão de que o consumo desta substância provoca alterações de memória e do ciclo de sono, criação de estados psicóticos e redução da facilidade de apreender conhecimentos..Félix Carvalho, professor e investigador do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da UP, falou ainda dos efeitos tóxicos do ecstasy e do MDMA. Apesar de considerado inofensivo pela generalidade da população consumidora, o ecstasy pode induzir reacções de toxicidade aguda, nomeadamente a hipertermia maligna, convulsões, coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal aguda, hepatite, enfarte cerebral e morte por causa cardiovascular..O consumo desta substância pode ainda ser letal para as células do sistema nervoso central, em especial para neurónios de algumas áreas cerebrais particularmente susceptíveis aos efeitos desta droga, segundo a apresentação de João Capela, aluno de Doutoramento do mesmo laboratório..Foram também apresentados os resultados de trabalhos de investigação que apontam para alterações de comportamento das crianças cujas mães consumiram cocaína durante a gravidez. "Essas crianças vão, muito provavelmente, apresentar no seu período escolar inicial alterações na atenção, relacionamento com os colegas, memorização e execução de tarefas", explicou Teresa Summavielle, acrescentando que foram "detectadas algumas transformações nas moléculas que alteram o comportamento das crianças." .Este mini-simpósio, de periodicidade anual, incide sobre os principais temas de investigação da Unidade de Neurocomportamento do IBMC os efeitos de drogas de consumo ilícito (a cocaína, o ecstasy ou a metanfetamina, vulgarmente conhecida por "ice") durante importantes períodos de desenvolvimento, tais como o fetal e adolescência, e a investigação dos seus efeitos no sistema visual.