Os pais austeros, desnaturados e modernos da TV

Porque é Dia do Pai, recordamos aqueles que ficaram na memória dos espectadores. De 'Full House' a 'Modern Family', eis como evoluíram
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Mitchell e Cam são um casal homossexual. Um dia, viajam para o Vietname e regressam com uma filha adotiva nos braços. Jay é o pai de Mitchell. Um homem já com uma certa idade, que volta a assumir responsabilidades parentais quando casa com uma jovem colombiana, mãe de um adolescente. E Phil é o seu genro, pai de três filhos. "Sou fixe. Sou porreiro. Navego na web, envio mensagens...", confidencia.

Esta é Uma Família Muito Moderna, série que lida com os dilemas da paternidade no século XXI. Mas a ficção televisiva tem sido marcada, ao longo das décadas, por fortes figuras patriarcais. Hoje, é o dia perfeito para recordá-las.

"Os primeiros retratos de pais eram simplistas e idealistas, seguindo à risca o guião daquilo que um pai ideal devia ser", explica um artigo da revista Forbes. Vejamos, como exemplo, a personagem de Bill Cosby em The Cosby Show, um dos programas de maior audiência na NBC entre 1984 e 1992. O ator vestia a pele de Cliff Huxtable, um obstetra, homem conservador, sábio, marido extremoso e pai de cinco filhos. Tão exemplar, aliás, que ocupa a primeira posição do ranking do IMDb que agrupa os 50 melhores pais de sempre da TV.

Outra das mais populares sitcoms da altura era Full House, transmitida pelo ABC entre 1987 e 1995. Depois de perder a mulher num acidente de viação, Danny Tanner (Bob Saget) pede ao cunhado e a um amigo para o ajudarem a criar as suas três filhas - era o arquétipo do pai autoritário, rígido, protetor. A estas tramas juntem-se clássicos como Father Knows Best (1954-1960) ou Leave It to the Beaver (1957-1963), que terminava todos os episódios com uma lição de vida de pai para filhos.

Tudo se transformou no final dos anos 1980. "O papel dos pais começou a mudar com a ascensão do feminismo", explica à Forbes Al Martin, especialista em cultura pop. "Começámos a ver as mulheres a trabalhar fora de casa e a assumir um papel de liderança na família." Nessa altura, os patriarcas passaram para segundo plano e surgiram o que o responsável chama de "pais idiotas". As animações Os Simpsons e Family Guy deram início a esse capítulo."Antigamente, os pais é que sabiam tudo, e depois começámos a questionar se saberiam alguma coisa de todo. Tornaram-se idiotas desastrados", frisa um crítico de televisão da TV Guide Magazine, Matt Roush.

Em suma, "passámos daquilo que é ideal para o que é mais divertido", reforça James Hibberd, editor e colunista do site de entretenimento The Hollywood Reporter. Mas hoje em dia, sublinha a Forbes, já há um meio-termo. As figuras paternais já são retratadas com traços de modernidade, mas sem fugirem a uma "visão realista".

Chegamos, assim, à era de Uma Família Muito Moderna. "As personagens não são perfeitas, mas ao mesmo tempo todas elas são pessoas que o espectador comum gostaria de ter na sua própria família", refere James Hibberd. A esta sitcom junte-se, por exemplo, a série Parenthood (terminou em 2015, ao fim de seis temporadas), que seguia diferentes figuras, desde um pai a tempo inteiro a um que o foi por acidente ou, ainda, outro mais tradicional, o ganha-pão lá de casa.

"Estamos a ter uma perspetiva real do que são os pais hoje em dia", conclui Dean McDermott, marido da estrela de reality tv Tori Spelling, que apresentou uma emissão especial na TV chamada Modern TV Dads. "A paternidade não vem com um manual e estamos a assistir a pais a cometer erros em diferentes situações. Já não era sem tempo. Tira-nos a pressão de cima."

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