Os miúdos não têm culpa das loucuras dos graúdos

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Metade dos deslocados de guerra da Ucrânia são crianças. Muitas chegam à fronteira com a Polónia com a tristeza no olhar, mas sempre com um tímido sorriso de esperança. Muitas dizem aos jornalistas que não querem regressar à sua terra natal. A guerra está a deixar traumas nos miúdos e nos graúdos. As famílias estão separadas ,dilaceradas. E as negociações entre os dois países - Ucrânia e Rússia - não estão a progredir como a comunidade internacional gostaria.

Infelizmente nada faz parar Vladimir Putin. São horrendas as imagens de destruição total de um centro comercial em Kiev e dos atentados que atingiram lares de idosos e outros alvos onde apenas há civis e não militares, armas ou outros materiais de guerra. Em Mariupol há "bombas a cair a cada dez minutos" relatam os habitantes.

São muitas as razões para fugir do inferno. À data de ontem eram já 500 os alunos ucranianos inscritos em escolas portuguesas. Chegam fugidos do terror, segundo confirmação do próprio ministro da Educação,Tiago Brandão Rodrigues, que antecipa que o número continue a aumentar. O governante garantiu que assim que chegam às escolas são desde logo integrados numa turma, porém o primeiro passo é terem aulas de língua portuguesa. Depois, vão entrando no conteúdo programático, com calma. Afinal, o que mais desejam é encontrar tranquilidade e segurança.

As novas gerações de ucranianos vão ficar para sempre tatuadas por um conflito bélico que não entendem e que nem os pais ou avós lhes conseguem explicar. Os golpes de guerra deixam feridas abertas. Uma vez mais, os portugueses tentam ajudar a tratar dessas feridas, respondem à altura, acolhem, ensinam e asseguram as famíllias na sua integração.

Os aglomerados familiares precisam de segurança, mas também de humanismo e de trabalho. Hoje são muitas as empresas que estão preparadas para dar emprego à mão de obra que vai chegando a Portugal. Só na restauração e hotelaria estima-se que haja cerca de 50 mil empregos por preencher e estes migrantes poderão ter um papel ativo na economia nacional. Por outro lado, segundo os últimos dados divulgados ontem pelo IEFP, a taxa de desemprego voltou a baixar (caiu 3,3% de janeiro para fevereiro e 20,3% face ao homólogo). Na prática, o país está perto do pleno emprego e as entidades contratantes há muito que relatam dificuldades em recrutar.

Se há um ou outro Velho do Restelo, como já ouvi, que teme que os ucranianos venham tirar o trabalho aos portugueses, outros há que vêm aqui uma oportunidade de encontrar uma nova vida para estas pessoas. Nunca é demais lembrar que estes seres humanos não saíram do seu país por vontade própria, mas foram empurrados pelas bombas e pelas tropas russas. Só por isso, merecem uma segunda oportunidade.

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