Os meus 387 euros

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Leio no Dinheiro Vivo (28-11-2019) que "os portugueses deverão gastar neste ano uma média de 387 euros em compras de Natal por agregado familiar". Diz a mesma notícia, baseada num estudo da Deloitte, que serão mais nove euros do que em 2018 e que a média europeia é de 461 euros. Tenho muito medo de médias, assustam-me. Se alguém receber cinco mil euros por mês e outra pessoa levar para casa 600, a média de ambos os ordenados é de 2800 euros. Parece simplista, não é? Mas é a verdade dos números.

Parece que a loucura das compras de Natal, que se recebe ano após ano, tem agora tendência para começar mais cedo, com o advento quase religioso (de tão fanático) da Black Friday - uma sexta-feira obscura de promoções nem sempre bem explicadas. Depois, o frenesim consumista intensifica-se na primeira quinzena de dezembro e ficam guardadas para 23 e 24 de dezembro as compras de última hora que quase sempre provocam engarrafamentos nos terminais de multibanco das lojas de todo o país.

E para quê? Para satisfazer egos, para encher quartos de crianças com brinquedos que não vão usar mais de uma hora, para expiar pecados, porque é tradição, porque a outra pessoa tem sempre uma prenda para mim, porque convém tratar bem aquela tia velhota que tem uma casa na Baixa, porque Natal é mais dar do que receber, porque convém ter sempre uma lembrança para a família, porque sim, porque me apetece... a lista de razões para oferecer alguma coisa no Natal é infindável. E cada um terá a sua e poderá defendê-la até à exaustão. Não tenho nada contra oferecer prendas, antes pelo contrário, mas nunca por obrigação ou por pressão dos media. Os meus 387 euros - ou menos ou mais - vão ser investidos em chocolate (obviamente, a escolha de 60% dos inquiridos do estudo da Deloitte), livros, produtos sustentáveis, de origem local ou nacional. E, se perder a cabeça, até ofereço tudo neste Natal.

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