Os mares de Cabo Verde e a bela morna 'Maria Barba'

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Tradições. Sedução cabo-verdiana perdura em terra e no oceano

Cabo-verdianos e portugueses apaixonados por Cabo Verde juntaram-se quarta-feira, no Jacinto, de Telheiras, para se encantarem Sob os Mares de Cabo Verde, um livro lançado pelo Clube Manta Diving, centro de mergulho da ilha do Sal que lidera um fascinante projecto de criação de recifes artificiais. Velhos barcos são afundados para neles renascer vida e ela, a vida, prospera à volta do soviético Kwarcit, que foi ao fundo em Janeiro de 2006, e do nativo Sargo, que mergulhou em Abril deste ano?

Mas não está apenas no mar a sedução cabo-verdiana. Em terra firme, na morabeza cabo-verdiana, na dolência da sua morna, descobre-se outra fonte de paixão e elemento inevitável do cartaz turístico das ilhas, talvez mais ainda quando for possível oferecer um roteiro de descoberta das maravilhosas histórias protagonizadas por homens e mulheres, em noites de quente magia insular?

Como a história de um momento, antigo, muito antigo, em que um tenente português ergueu a voz para pedir a uma Maria Barba para cantar mais uma morna?E desse diálogo de um português com uma cabo-verdiana, numa antiga e macia noite da Boa Vista, berço da morna, nasceu uma das mais belas canções de Cabo Verde, cantada, até hoje, por muitas das mais nobres vozes do arquipélago: Maria Barba.

Rui Alberto Machado, importante figura da cultura cabo-verdiana, elemento central da comunidade instalada em Lisboa, pesquisador persistente de ouro musical de Cabo Verde, subiu, numa data recente, os 400 metros da Rocha Estância, o ponto mais alto da Boa Vista e escreveu depois, em A Semana, a história da expedição, que a mim contou na noite em que nos sentíamos "Sob os Mares de Cabo Verde".

Ele trepou a colina íngreme empurrado pela curiosidade histórica de encontrar o sítio desse antigo "Senhor Tenente Serra", o protagonista português da quase centenária desgarrada com Maria Barba. Pôs um chapéu na cabeça para a proteger do sol e um cajado para o ajudar na subida de quase uma hora. Esbarrou, no caminho, em enormes teias de aranha e vislumbrou aranhas de corpulência tropical. Chegou ao cimo para descobrir um cenário de êxtase e encontrar as ruínas da antiga casa do "Senhor Tenente Serra", oficial luso que andou, nos anos 20, em medições na ilha e que, nas horas de descanso, se deslumbrava no topo da Rocha Estância com as imagens do "mar azul", da Povoação Velha, da praia de Santa Mónica.

Na despedida, em vésperas de voltar para Lisboa, ouviu Maria Barba cantar e deixou-se levar, numa noite mágica na Boa Vista, e com ele seguindo a cantadeira cabo-verdiana, para uma desgarrada que se construiu sobre uma velha música, com letra perdida no tempo, e nesse momento criando uma nova morna, uma das mais simples e das mais belas - a morna de "Maria Barba" e do "Senhor Tenente Serra".|

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