Os maiores disseram que não, mas ela canta o hino para Trump
Não tem sido fácil para a equipa de Donald Trump garantir artistas da "primeira liga" para atuar na tomada de posse. Elton John, Garth Brooks, Céline Dion e Andrea Bocelli são alguns dos nomes que terão declinado o convite. "Esta é a primeira prova de vida do movimento de resistência anti-Trump, que desde as eleições tem ladrado muito mas mordido pouco", escreve no Boston Globe o colunista Renée Graham.
Quando falham os nomes maiores entra em cena Jackie Evancho. Com apenas 16 anos, a cantora que se tornou conhecida em 2010 no concurso America"s Got Talent, é a cabeça de cartaz entre os artistas que irão atuar na tomada de posse do presidente-eleito, marcada para 20 de janeiro. A adolescente irá cantar o hino norte-americano e sucede assim a Beyoncé e a Aretha Franklin no papel de estrela mais destacada na cerimónia de tomada de posse de um presidente.
A jovem soprano saltou para os ecrãs televisivos nacionais quando tinha 10 anos. Surpreendeu não apenas pela capacidade e maturidade vocais, mas também pelo prazer com que interpretava complicadas árias de ópera. Desde então, Evancho tem vindo a fazer a ponte entre a música erudita e a pop e já lançou seis álbuns de estúdio, maioritariamente compostos por versões de temas que fazem parte do cancioneiro americano. Em junho de 2015, as vendas acumuladas de discos da cantora ultrapassavam os três milhões de cópias.
Por duas vezes cantou para Barack Obama: em 2010, na tradicional cerimónia de inauguração da árvore de Natal junto à Casa Branca, e em 2012, no também habitual National Prayer Breakfast. Tudo começou quando Jackie, com apenas sete anos, viu pela primeira vez o filme musical O Fantasma da Ópera e pediu aos pais para comprarem o DVD. A partir daí foi ensaiando em casa todas as canções. Ainda antes do oitavo aniversário participou no primeiro concurso de talentos, o Kean Idol. O destino estava traçado e começaram a aparecer convites para atuar em diversos eventos, como, por exemplo, a cerimónia anual de homenagem às vítimas do Voo 93 da United Airlines, que se despenhou em Shanksville, no 11 de Setembro de 2011.
A notoriedade de Jackie Evancho trouxe também para os holofotes a sua irmã transgénero. Juliet decidiu assumir publicamente a sua condição em outubro de 2015, quando desfilou ao lado de Jackie numa gala de angariação de fundos em Nova Iorque.
Desde que ficou a saber-se que irá atuar na tomada de posse de Donald Trump, têm sido vários os ataques com que a cantora tem tido que lidar nas redes sociais. Muitos acabam por estar relacionados com a sua irmã e, ao mesmo tempo, com as posições conservadoras de Trump em relação à comunidade LGBT. "A minha família tornou-se um alvo. Tenho uma irmã transgénero e recebemos muitas mensagens de ódio. Mas também muitas outras de amor e é a essas que presto atenção", disse Jackie Evancho numa entrevista à revista People.
No Twitter há quem a ataque pela hipocrisia de atuar para Trump. Mas também quem a defenda, dizendo que é uma forma de chamar a atenção para os direitos da comunidade LGBT.
Também confirmadas para atuar na entronização de Trump como 45.º presidente dos EUA está a The Radio City Rockettes, uma companhia de dança sincronizada que desde 1932 se exibe no Radio City Music Hall, em Nova Iorque. Não é a primeira vez que as Rockettes irão mostrar os seus passos numa tomada de posse. Em 2001 também estiveram presentes na cerimónia de George W. Bush.
O Mormon Tabernacle Choir, presença habitual nestas andanças - atuou para Lyndon B. Johnson (1965), Richard Nixon (1969), Ronald Reagan (1981), George Bush (1989) e George W. Bush (2001) -, aceitou o convite, mas já começou a sofrer as consequências. Jan Chamberlin, um dos 360 elementos do coro, decidiu abandonar o grupo. "É com o coração triste que apresento a minha demissão. Visto de fora, irá parecer que o coro está a apoiar a tirania e o fascismo ao cantar para este homem", escreveu a cantora na carta que enviou para os líderes do grupo e que publicou na sua página do Facebook.
Ontem ficou a saber-se que a britânica Rebecca Ferguson, ex-participante no The X Factor, aceitará o convite, mas apenas e só se poder interpretar o tema Strange Fruit, conhecida como uma canção de protesto negra.