Os inimigos dos meus inimigos meus amigos são

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1. Não há nada como uma eleição presidencial para deixar o PS em polvorosa. Fosse possível e suspeito que não faltariam vozes socialistas a tentar mudar o modo de eleição do Presidente da República, dando à Assembleia da República essa atribuição.

Desde os problemas internos que a candidatura do general Eanes gerou, até à novela Alegre/Soares das últimas presidenciais, passando pelo episódio da dupla Soares/Zenha - que em tempos ninguém detinha - e às tentativas internas de arranjar um candidato alternativo a Jorge Sampaio, o PS não arranja forma de gerar um consenso mínimo em redor de uma figura.

Curiosamente, apesar de muito se falar da provável pouca consistência ideológica do PSD e das suas constantes divisões internas, convinha parar para pensar e reflectir no que se tem passado no PS sempre que é preciso escolher alguém que represente o património político dos socialistas. O facto é que, vencedoras ou derrotadas, as candidaturas patrocinadas pelo PSD nunca geraram grandes tumultos no partido - o episódio Helena Roseta e Rui Oliveira Costa não chegam a servir de excepção.

Ninguém se lembraria de pensar que José Sócrates conduziu de modo catastrófico o dossier presidencial para, deliberadamente, provocar a derrota dum candidato da sua área. Mas que há sinais disso, lá isso há; particularmente a partir do momento em que se tornou inevitável o apoio a Manuel Alegre.

Por um lado, o primeiro-ministro não apreciará partilhar a liderança do seu espaço político - como nenhum líder político, diga-se. Por outro, sabe também que um presidente proveniente da área da oposição trará mais problemas a esse partido do que a ele próprio. E se, em tese geral, estes princípios serão discutíveis, nos casos concretos de Manuel Alegre e Cavaco Silva são absolutamente óbvios e transparentes.

Nada poderia ser mais incómodo para Sócrates do que ter Manuel Alegre a contestar, desde Belém, as medidas do Governo com as eleições legislativas em plena pré-campanha, como já o fez durante os períodos mais complicados da governação socialista.

Apesar do evidente mal-estar e dos sérios problemas entre Cavaco Silva e o primeiro-ministro, não restam grandes dúvidas sobre quem é que, entre Alegre e o actual Presidente da República, Sócrates gostaria que ganhasse as eleições presidenciais. Aliás, ninguém tem feito mais pela reeleição de Cavaco que o actual primeiro-ministro.

As cenas patéticas desta semana sobre a data da declaração de apoio, a incapacidade artificial de calar as vozes dissonantes dentro do partido, o respeito pela pluralidade (imagine-se: agora Sócrates gosta de pensamento plural no PS !) são apenas pequenos/grandes sinais duma completa falta de empenhamento na campanha de Alegre.

Entre políticos profissionais, os ódios curam-se depressa quando existem objectivos comuns. Quem diria que Cavaco iria ser o maior defensor do PEC socialista e o principal garante da manutenção em funções do Governo? Quem diria que seria a Sócrates que, em grande parte, Cavaco deveria agradecer a sua reeleição?

Aproveito o velho slogan: Sócrates e Cavaco, a mesma luta.

2. Os partidos de esquerda estão muito entusiasmados com a tributação das mais-valias bolsistas. Aparentemente, estão convencidos de que, através desta medida, vão fazer os ricos pagar mais impostos. Só que não é, pura e simplesmente, verdade. Os sacrificados vão ser, uma vez mais, os homens e mulheres da classe média a quem lhes é retirado mais uma forma de compor as suas poupanças.

São estes que vão ser os penalizados e não os ricos e grandes investidores que através das SGPS e outros veículos continuarão a usufruir de regalias fiscais. A não ser que também se alterem estes regimes, com consequências ainda mais funestas, como a inevitável fuga de capitais e investidores para outras paragens que retirarão liquidez ao mercado e diminuíram a capacidade de as empresas se financiarem, conduzindo a um ainda maior empobrecimento da sociedade. Mais uma vez, serão os mais pobres os prejudicados.

Queriam ser uns Robins dos Bosques mas não passam de sheriffes de Nottingham.

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