Os Grandes Portugueses
A RTP decidiu importar um programa que deu brado no Reino Unido e já foi adaptado em vários países europeus, nomeadamente em França e na Alemanha. Trata de escolher os "melhores portugueses" de uma lista gigantesca de personagens históricos e da actualidade. A fórmula é uma mistura entre um concurso clássico, com algumas fases de prós e contras. Pelo meio existem votações diversas, até se chegar a uma lista de dez. A seguir, com algum debate sobre estes, chegamos ao primeiro. Como a memória é muito imediatista e quase todas as sondagens apontam para que sejam figuras recentes as ganhadoras, a versão portuguesa poderá ser duplamente interessante. Por um lado, observar até que ponto os personagens da mitologia histórica portuguesa ainda estão de saúde, sobretudo os da "expansão" : vamos ver como resistem Afon- so Henriques, Camões ou Vasco da Gama. Por outro, testar a mediatização quase integral das visões do mundo de alguns dos nosso concidadãos e observar a posição relativa dos nossos futebolistas, cantores e entertainers de televisão. Em alguns países europeus, os "dez grandes" e os primeiros deram resultados curiosos. No Reiro Unido foi Churchil que ganhou e em França De Gaulle. Mas mordidos de perto por figuras tão marcantes como Lady Di (pese o infortúnio da sua vida) ou Coluche (um cómico françês falecido precocemente). Este imediatismo tambem é fonte de complicações para os países com passados mais complexos no séc. XX. Imaginemos que o general Pétain entrava na lista dos dez mais em França, ou que Hitler não era excluído da lista posta a concurso na Alemanha. Ainda que não ganhassem seguramente, a polémica seria dolorosa. A grande vantagem do passado é que, com os séculos, tudo se relativiza, mas muitos dos que estão na galeria dos heróis não foram na sua época grandes amigos dos seus povos e sobretudo dos outros que visitaram, ocasionalmente, ou por longos períodos. Mas o grande problema da História é que não podemos voltar para trás e tirá-los de lá, sobretudo os mais recentes, a não ser que existisse uma "demonização" institucional e política, como é o caso de Hitler na Alemanha. Salazar não sofreu igual sina. Que venha pois, o ditador de Santa Comba Oliveira Salazar. Ainda que os historiadores sejam aqueles que o devam colocar no seu devido lugar, será interessante ver onde fica perante os 200 candidatos do programa. Vê-lo atrás de Figo seria de uma ironia impagável.