'Os Filhos da Nação' de regresso em vinil

É um dos discos de maior sucesso da música portuguesa e, 25 anos depois, vai ter finalmente uma edição de vinil.
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Corria o ano de 1994 e o Portugal europeu de sucesso via-se de repente abalado por uma contestação estudantil sem precedentes, levada a cabo pela primeira geração crescida em liberdade. De um momento para o outro, a "geração rasca", como foi então apelidada, tornava-se não só um facto político, pelo modo como abalou as estruturas do cavaquismo, mas também social e cultural. E uma das canções que serviu de banda sonora ao movimento foi Os Filhos da Nação, que catapultou também uma então semiobscura banda de Tomar, chamada Quinta do Bill, para a primeira divisão do pop-rock nacional. "Não esperávamos todo aquele sucesso, para nós era apenas mais uma canção do disco, mas felizmente foi a escolhida para single, porque isso deu-nos uma projeção imensa", recorda Carlos Moisés, músico e vocalista dos Quinta do Bill, que, 25 anos depois, reeditam o histórico álbum com o mesmo nome em formato vinil.

"No fundo trata-se de corrigir uma injustiça, porque na altura estávamos em plena transição para o CD e o disco nunca chegou a ser publicado em vinil. Felizmente, agora, voltou-se a apreciar o vinil e pareceu-nos ser uma boa maneira de festejarmos este aniversário redondo, de um álbum que foi muito importante para nós", explica Carlos Moisés. A nova edição mantém o grafismo e o alinhamento original, com as faixas a surgirem na mesma sequência, "mas agora divididas por um lado A e um lado B", que termina, tal como o CD, com o instrumental Aljubarrota, "gravado ao vivo durante um concerto no Fundão".

Para Carlos Moisés, o segredo da longevidade da canção que dá nome ao disco tem não só que ver com o facto de ser uma música festiva mas também com o lado mais de intervenção da letra. "Embora hoje existam outras realidades e os jovens sejam obrigados a enfrentar outras questões, ainda continua muito atual, por abordar problemas que sempre afligiram todas as gerações, como a entrada no mercado de trabalho e o eterno dilema do canudo ser ou não uma salvação."

O próprio autor da letra, João Portela, era então aluno do Instituto Superior Técnico e, segundo Carlos Moisés, "bastante sensível" a toda a contestação estudantil que então se vivia. "Com uma certa dose de ironia, a letra revela esse contraste entre a necessidade de fazer parte do sistema e, ao mesmo tempo, querer lutar contra esse mesmo sistema." O certo é que a canção se tornou de imediato um imenso sucesso e, com o tempo, foi elevada à condição de clássico. "É hoje um património de todos. De tunas a filarmónicas, toda a gente toca Os Filhos da Nação e isso alegra-nos muito", confessa o músico. Até a claque do FC Porto adotou a música, modificando o título para Os Filhos do Dragão, mas Carlos Moisés prefere demarcar a banda dessa questão: "No futebol só ligo à seleção e gostava muito de um dia escrever uma música para a seleção, que unisse os portugueses e não os afastasse, como acontece com os clubes."

De acordo com Carlos Moisés, o disco "foi também muito importante porque ajudou a complementar uma ideia já reforçada no primeiro disco, de um grupo vindo de Tomar e não de Lisboa ou do Porto, que tinha muita necessidade de mostrar as suas origens, misturando-as depois com outras referências". Daí aparecerem também algumas referências à cidade, em temas como Gualdim Pais, Santa Maria do Olival ou mesmo Menino, uma cantiga tradicional da Beira Baixa popularizada pelos conterrâneos da Filarmónica Fraude, com quem os Quinta do Bill ainda chegaram a partilhar o palco.

À época, os Quinta do Bill já tinham editado um primeiro álbum, Sem Rumo, lançado em 1992, mas foi com Os Filhos da Nação que se tornaram verdadeiramente conhecidos do grande público. "O álbum seguinte, No Trilho do Sol, até teve mais sucesso, mas foi este que nos permitiu dar esse salto, pelo qual tanto lutámos. Valeu-nos duas digressões, com cerca de cem datas. Corremos o país de lés a lés com Os Filhos da Nação e desde então que assumimos o palco como a nossa casa." É, portanto, na estrada que vão continuar a festejar estes 25 anos de Os Filhos da Nação, numa digressão com o mesmo nome e para a qual recuperaram "algumas das poucas canções do disco" que habitualmente não tocam ao vivo.

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