Os dois pratos da balança
À primeira vista, será um daqueles casos em que uma câmara ou qualquer entidade responsável pode queixar-se de "ser presa por ter cão e presa por não o ter". No caso concreto da prevista chuva de novos acessos a alguns pontos altos da cidade de Lisboa, poderão argumentar alguns que o mais fácil e ajuizado seria que a edilidade deixasse tudo como está; outros, em nome de um conceito a que darão o nome genérico de "progresso", acharão ótimo que se encham as colinas mais nobres de elevadores, funiculares e escadas rolantes.
Que partido poderá tomar um cidadão lisboeta envolvido, por um lado, em mantos diáfanos de tradicionalismo e de amor à terra em que foi apreendendo todo um conceito de bairros, de calçadas, de escadinhas, de esquinas e de tipicismo, mas, por outra parte, castigado pelos anos e pelas artroses, a pensar em algumas facilidades possíveis para chegar aos sítios de que continua a gostar?
Esforçando-se pela imparcialidade, o mesmo alfacinha tenta colocar os dois conceitos, cada um em seu prato da balança. E verifica que não há perfeito equilíbrio entre os dois. Por outras palavras: alguma comodidade, aqui ou ali, poderá ser bem-vinda. Mas esta panóplia de degraus rolantes, elevadores e funiculares que se anuncia poderá tentar transformar Lisboa - ou, melhor dizendo, uma das suas zonas mais nobres - num extenso centro comercial, repleto de passagens mecânicas para que o visitante comprador se despache no percurso.
Para além disso, os exemplos anteriores não ajudam ao entusiasmo pelas alterações: as estações de Alcântara (CP), da Baixa-Chiado, do Areeiro (metro), a defunta passagem aérea que ficou também em Alcântara e variadíssimos casos mais parecem lançar um presságio um tanto pessimista sobre os projetos. Como quem diz que "gato escaldado de água fria tem medo..."
Olisipógrafo