Os dois Nobel pela paz no Tibete

Encontro do Dalai Lama com o Presidente Barack Obama na Casa Branca irrita Governo chinês
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O Presidente Barack Obama encontrou-se ontem com o Dalai Lama na Casa Branca, após ter evitado um encontro com o líder espiritual tibetano em 2009 para não irritar o Governo chinês na véspera da sua deslocação a Pequim.

Mas o encontro não deixará de ser pretexto para comentários duros de Pequim num momento em que as relações sino-americanas conhecem uma situação de grande tensão, devido às vendas de armas dos EUA a Taiwan, a divergências comerciais e à censura da Internet por parte das autoridades chinesas.

A reunião decorreu na Sala dos Mapas - para marcar o seu carácter oficioso - em vez da Sala Oval - onde são recebidos os dirigentes internacionais - à porta fechada, não tendo a Casa Branca permitido a presença de jornalistas. No final do encontro, foi divulgada uma foto oficial com os dois Nobel da Paz, Obama, em 2009, e o Dalai Lama, em 1989.

Ainda antes da reunião, representantes de Pequim tinham ameaçado que a presença do líder tibetano na Casa Branca (ver Encontros) não deixaria de ter repercussões nas relações entre os dois Estados. Por seu lado, um porta-voz do dirigente tibetano classificou o encontro "como importante, só pelo facto de se verificar".

Após um encontro de 45 minutos, o Dalai Lama dirigiu-se aos jornalistas no exterior da Casa Branca, dizendo que Obama lhe declarara "todo o apoio". O propósito das conversações foi, segundo um colaborador do líder tibetano, a procura de uma "solução para resolver a questão que seja mutuamente benéfica para os povos tibetano e chinês ". O território foi invadido pelo exército chinês e ocupado nos anos 1950.

O dirigente tibetano encontrou-se depois com a Secretária de Estado Hillary Clinton no edifício daquele Departamento.

Obama terá expressado "o mais firme apoio à preservação da identidade religiosa, cultural e linguística específica do Tibete e à protecção dos direitos humanos dos tibetanos na República Popular da China", explicou mais tarde o porta-voz do Presidente, Robert Gibbs.

O mesmo Gibbs sublinhou que Barack Obama elogiou a "via intermédia do Dalai Lama, a sua opção pela não violência e pelo diálogo com o Governo chinês". O dirigente tibetano abdicou da reivindicação de independência em troca de uma autonomia cultural para o território. Pequim sempre manteve a posição de que o Tibete - que esteve dividido em vários reinos, que foi Estado independente e esteve ocupado, total ou parcialmente, por tropas chinesas ao longo da sua história - é parte integrante da China.

O facto de Obama e do Dalai Lama, como referiu o porta-voz do primeiro, terem sublinhado a importância de uma solução pacífica para a questão, ligada à necessidade de "um bom relacionamento e cooperação entre os EUA e a China" não será suficiente para tranquilizar Pequim. O Governo chinês sabe que dispõe de várias armas para brandir contra a Administração Obama, como fez questão de explicitar quando foi anunciada a venda de sofisticado equipamento militar a Taiwan.

Num momento de crise económica, Pequim agitou de imediato o cenário de congelamento de contratos com empresas americanas envolvidas na venda de armas ao Governo de Taipé e sanções nas relações económicas bilaterais. Mas, ontem, analistas sublinhavam que EUA e a China têm mais a ganhar em manter a cooperação do que enveredar pela senda do confronto.

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