Os discípulos de Mandela

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No final de 2003 visitei a cadeia de Robben Island e estive na cela que foi de Nelson Mandela (onde cumpriu a maior parte dos 27 anos de prisão). Imaginei-me a passar 18 anos ali naquele espaço de 2,4x2,1 metros, dia após dia após dia. Como ele, o prisioneiro n.º 46664, esteve. E percebi então a grandeza de um homem que, confrontado com as piores adversidades, foi capaz de dominar na mente os pensamentos recorrentes de ódio em relação aos seus inimigos, de serenar no peito os sentimentos de desejo de vingança. Quando saiu em liberdade, em 1990, muitos dos membros do Congresso Nacional Africano (incluindo a sua segunda mulher Winnie Mandela) clamavam por vingança contra o regime branco do apartheid e admitiam uma guerra. "Se queres a paz com o teu inimigo, tens de trabalhar com ele. Então ele torna-se teu parceiro", disse Nelson Mandela, eleito primeiro presidente negro da África do Sul em 1994. Sempre dando o exemplo, cumpriu apenas um mandato na presidência e deixou o poder de livre vontade em 1999. Seguiu-se-lhe, na liderança do ANC e na chefia do Estado, primeiro Thabo Mbeki (que negava a relação entre o HIV e a sida num país onde a doença é considerada um flagelo), depois Jacob Zuma (que já enfrentou todo o tipo de acusações, de violação a corrupção, tendo sobrevivido a tentativas de impeachment do Parlamento sul-africano). Entretanto Julius Malema, ex-líder da Juventude do ANC, saiu do partido em rutura com Zuma e fundou o Combatentes pela Liberdade Económica. E o maior partido da oposição, o Aliança Democrática, tem desde o ano passado o seu primeiro líder negro, Mmusi Maimane. Face a Zuma, durante a campanha para estas eleições autárquicas, assumiu-se como o verdadeiro defensor do legado de Mandela. Todos se dizem seus discípulos, todos se sentem assim. Mas como ele uma vez afirmou: "O mundo precisa de ações, não de palavras."

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