Aos primeiros acordes de Moonchild, a gigantesca "maré negra" que desaguou no Pavilhão Atlântico - agora MEO Arena - fica em delírio. O miúdo loiro de 12 anos, ao lado do pai, canta, de fio a pavio e a plenos pulmões, o tema de arranque deste regresso aos tempos do mítico Dramático de Cascais, há 25 anos, onde os Iron Maiden trouxeram a Portugal a Maiden England Tour, agora recriada com a maturidade de quase 40 anos de estrada e mais de 50 de vida de Bruce Dickinson, Steve Harris e companhia. .A cada riff ou a cada solo de guitarra, a cada aparição de Eddie, o monstro/mascote, a multidão de quase 20 mil devotos rende-se num exercício de comunhão plena com os deuses do metal. A viagem de perto de duas horas, quase religiosa, por clássicos como The Trooper, The Number of the Beast, Phantom of the Opera, Fear of the Dark ou Seventh Son of a Seventh Son, só para citar alguns dos 17 temas do alinhamento, faz-se de braços no ar, a abanar a cabeça de cima para baixo e a cantar até que a voz lhes doa. São assim os fieis dos Maiden. A primeira etapa cumpre-se com Iron Maiden, o tema homónimo da banda, tocado, como todos os outros, com energia e competência de fazer inveja a muitas estrelas jovens do rock internacional. .E quando voltam ao palco para o desejado encore, o baixista Steve Harris - que vive boa parte do tempo no Algarve - já trás consigo uma bandeira portuguesa que leva a multidão ao delírio. O êxtase fica completo com Aces High, The Evil That Men Do e Running Free. E a "maré negra", de "papo cheio", começa a desmobilizar sem se lembrar, injustamente, dos muito bons Voodoo Six que fizeram a primeira parte deste concerto. E o tal miúdo loiro de 12 anos, vestido de negro da cabeça aos pés, segue de mão dada com o pai a cantar Wasted Years, prova de que a herança está bem entregue e de que os quase sexagenários Iron Maiden são, de facto, à prova de tempo.