A guerra entre deputados e governo britânico por causa do Brexit já vai longa e não dá mostras de acabar. Muitas emendas sobre o acordo negociado entre Londres e a UE27 foram apresentadas, debatidas, rejeitadas e aprovadas. Muitas dissidências, demissões, conspirações e troca de acusações aconteceram. Pelo meio, duas suspensões do Parlamento, uma considerada ilegal e a outra legal. Quem são os deputados que têm desafiado os líderes do governo conservador e têm estado na linha da frente do combate que alterou o curso da saída do Reino Unido da UE, inicialmente prevista para 29 de março?.Em dezembro de 2017, já Theresa May tinha sido obrigada pelo tribunal a pedir o consentimento do Parlamento para ativar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa e perdido a maioria absoluta que os conservadores detinham nas eleições antecipadas, o deputado conservador e antigo procurador-geral britânico Dominic Grieve apresentou uma emenda à lei que enquadra a saída britânica da União Europeia..A alteração previa que o Parlamento tivesse de aprovar, através de uma legislação autónoma, o acordo final entre Londres e a UE27 antes de o governo começar a pô-lo prática. Tal emenda foi aprovada, por 309 votos a favor e 305 contra, com uma diferença de quatro. A aprovação aconteceu porque uma dúzia de rebeldes conservadores, entre eles Grieve, votou contra a orientação do governo de May..Grieve, de 63 anos, é formado em Direito, foi ministro-sombra do Interior e da Justiça e atualmente é membro da comissão de Informações de Segurança do Parlamento. É deputado desde 1 de maio de 1997. Foi um dos 21 deputados que a 3 de setembro deste ano saíram da bancada conservadora depois de serem ameaçados de expulsão por Boris Johnson, o sucessor de May, caso votassem ao lado da oposição na emenda apresentada pelo trabalhista Hilary Benn. Deputado desde 10 de junho de 1999, Benn, de 65 anos, foi ministro nos governos do Labour de Gordon Brown e de Tony Blair..Apesar das ameaças de Boris Johnson, os rebeldes conservadores votaram na emenda. No dia 3, esta foi aprovada, com 328 votos a favor e 301 contra. Foi em seguida transformada em lei, seis dias depois, mesmo antes de o Parlamento ser suspenso. À luz da lei Benn, o chefe do governo britânico ficava obrigado a pedir uma extensão do artigo 50.º à UE27, a terceira, caso não tivesse conseguido que nenhum acordo do Brexit fosse aprovado no Parlamento até ao dia 19 de outubro. Essa extensão seria até ao dia 31 de janeiro de 2020..Entretanto, Boris Johnson renegociou o acordo do Brexit e voltou a Londres, no próprio dia 19, para tentar que os deputados o aprovassem. Porém, uma outra emenda impediu a votação. Apresentada por Oliver Letwin, conservador rebelde, entretanto tornado independente, a emenda impedia que fosse votado qualquer acordo até que o governo apresentasse a legislação para implementar o mesmo. Foi aprovada, por 322 votos a favor e 306 contra. Deputado desde 1 de maio de 1997, Letwin, de 63 anos, foi o n.º 2 do governo de David Cameron..A aprovação da sua emenda obrigou o primeiro-ministro, no próprio dia 19, a cumprir o expresso na lei Benn: pedir um novo adiamento do Brexit à UE27. Fê-lo, sim, mas com algumas nuances. O pedido de extensão foi feito de forma bizarra, com o Reino Unido a enviar três cartas: a primeira não foi assinada por Boris Johnson e pedia um adiamento para cumprir a lei Benn, a segunda foi assinada por Boris Johnson e dizia que não concordava com o conteúdo da primeira e que era contra novo adiamento e a terceira foi enviada pelo embaixador do Reino Unido junto da União Europeia e reforçava o conteúdo da segunda..Ainda na quarta-feira de manhã, dois dias depois de os deputados terem aprovado a legislação sobre o Acordo de Retirada, mas terem chumbado o calendário-expresso defendido pelo governo de Boris, o primeiro-ministro, falando na Câmara dos Comuns, voltou a clarificar que, em seu entender, o pedido de extensão foi feito pelo Parlamento, não pelo governo do Reino Unido..A UE só deverá especificar a sua resposta ao pedido de extensão nesta terça-feira. Na véspera, dia 28, Boris Johnson vai submeter a votação na Câmara dos Comuns uma moção defendendo eleições antecipadas a 12 de dezembro. Precisa de maioria de dois terços. E neste momento não conta com ela. Do lado do líder do Labour há também inação. Jeremy Corbyn indicou que só apoiará novas legislativas se o primeiro-ministro descartar a hipótese de um no-deal no dia 31. Falta ver o que farão todos os trabalhistas..Mas, se Grieve, Benn e Letwin são três dos principais rostos a destacar no que toca às emendas apresentadas, há um outro a destacar que também alterou o curso das coisas. Philip Lee, médico, deputado desde 2010, foi o conservador que, a 3 de setembro, enquanto Boris discursava contra a emenda Benn e a classificava como a lei da rendição à UE, se levantou e foi sentar-se na bancada do Partido Liberal-Democrata de Jo Swinson. Boris Johnson perdeu, assim, a maioria que detinha na Câmara dos Comuns e que era de apenas um deputado (isto já contando com o apoio dos dez eleitos do Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte). Philip Lee, de 49 anos, lamentou que o seu Partido Conservador tenha sido infetado pelo "populismo e pelo nacionalismo".