Os condenados do juiz Sérgio Moro
Antonio Palocci - Foi apontado como futuro presidente
Médico de profissão, economista por adoção, trotskista na juventude, militante do Partido dos Trabalhadores (PT) e autarca de sucesso, Palocci, de 56 anos, foi um dos estrategas da eleição de Lula da Silva em 2002 ao redigir a Carta ao Povo Brasileiro. O texto, no qual se piscava o olho aos empresários que até então viam o ex-sindicalista como "um perigoso comunista", serviu de roteiro aos oito anos de uma gestão que agradou a ricos e pobres. Com isso, o prestígio de Palocci junto do chefe aumentou, a ponto de Lula ter juntado o seu nome ao de José Dirceu na minilista de eventuais sucessores. Um escândalo de tráfico de influências afastou-o, porém, da pasta das Finanças, em 2006. Cumprida a habitual travessia no deserto, regressaria como omnipresente ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff, em 2011, até cair, desta vez, por improbidade administrativa. Condenado, negoceia agora uma delação que pode envolver Lula e desintegrar a banca brasileira, onde sempre circulou - e traficou - com à-vontade.
Eduardo Cunha - o inventor do impeachment acabou preso
Eduardo cunha Tinha a faca e o queijo na mão há ano e meio: na qualidade de presidente da Câmara dos Deputados instigava os seus pares a votar contra os projetos de Dilma, sua arqui-inimiga, que visassem debelar a crise económica. De repente, foi envolvido na Lava-Jato por contas não declaradas na Suíça e precisou do apoio do PT para travar uma comissão parlamentar de inquérito contra si. Quando o PT lhe puxou o tapete, Cunha, hoje com 59 anos, puxou o de Dilma no dia seguinte, aceitando um pedido de impeachment que colideraria: ele na frente de batalha, o colega de PMDB Michel Temer na sombra. Já Temer estava no poder quando Moro o deteve, em outubro do ano passado. Condenado a mais de 15 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, é réu em ainda mais três ações. Para não passar o resto dos dias na cadeia, equaciona contar o que sabe, para desespero de Temer. Segundo a polícia, foi esse desespero que levou o presidente a pedir ao empresário Joesley Batista para comprar o silêncio de Cunha, epicentro da última crise política.
Sérgio Cabral - O rei do Rio revelou-se um cleptomaníaco
Foi governador do Rio de Janeiro pelo PMDB de 2007 a 2014, período em que a capital do estado venceu a eleição para a organização dos Jogos Olímpicos e foram inauguradas as Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas cariocas mais perigosas. Popular, apoiado pelo PT de Lula e por mais 14 partidos, Cabral, de 54 anos, foi facilmente reeleito em 2012, com dois terços dos votos à primeira volta, até renunciar a favor do seu "vice" por crise abrupta de popularidade após os protestos de junho de 2013. De então para cá, passou a estar sob a mira da Lava-Jato que descobriu um império de corrupção que levou à sua prisão em 2016. Na cadeia de Bangu, que ele próprio inaugurou, já foi condenado a 14 anos por apenas um dos dez processos de que é arguido. Entre os números impressionantes da Lava-Jato - 1464 de penas condenatórias somadas, 77 colaborações de executivos da construtora Odebrecht, perto de 2000 políticos corrompidos pela J&S -, os desvios de Cabral, na ordem 200 milhões de reais [cerca de 60 milhões de euros], são um recorde.
José Dirceu - Mensalão mais Petrolão igual a Dirceu
Teve a sua sólida e promissora carreira política morta em 2005 pelo escândalo do Mensalão, no qual acabou condenado a dez anos e dez meses em 2012 por corrupção, formação de quadrilha e peculato, e sepultada pelo escândalo do Petrolão, onde cumpre desde o ano passado 31 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. De preso político na ditadura militar a político preso em democracia, José Dirceu, de 71 anos, passou ainda de presidente do PT a mais um presidiário do partido em poucos anos. Além dele, dois ex-tesoureiros "petistas", Delúbio Soares, que estivera envolvido também no Mensalão, e João Vaccari Neto cumprem pena, o primeiro de cinco anos, o segundo de 41. Momentaneamente em prisão domiciliária por decisão do Supremo, já disse que não põe a hipótese de denunciar ninguém, ao contrário da maioria dos detidos. "Prefiro morrer na prisão", afirmou.
Marcelo Odebrecht - Nem o príncipe da construção escapou
Marcelo Odebrecht Preparava-se para nadar na piscina olímpica aquecida da sua casa em São Paulo quando às seis da manhã a polícia federal tocou à campainha e mudou a sua vida para sempre. Príncipe da construção civil brasileira, presidente da maior empreiteira do país, que leva o seu apelido e tem negócios espalhados por três continentes, Marcelo Odebrecht, de 48 anos, foi preso em junho de 2015 e condenado a 19 anos de cadeia mesmo depois de ter assinado acordo de colaboração premiada ao lado de mais 76 executivos da empresa. Como a Lava-Jato não é apenas uma operação que prende políticos, além de Odebrecht, os donos de outras construtoras de peso, como a Andrade Gutierrez, a Camargo Corrêa, a Queiroz Galvão ou a OAS, e do Banco Pactual acabaram condenados. E Eike Batista, que chegou a oitavo homem mais rico do mundo em 2011 com um império estabelecido na área do petróleo, detido.
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