Os comportamentos de risco dos portugueses na Internet. Sabe quais são?

Pouco cuidado com as passwords, ausência de discussão com os filhos sobre o assédio online e escasso de número de cancelamentos de compras por suspeita de fraude estão entre as atitudes e comportamentos arriscados dos portugueses, segundo um relatório do Observatório de Cibersegurança.
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Os portugueses são, entre os europeus, aqueles que menos cuidado têm com as passwords. Usam palavras-chave demasiado simples e muitas vezes utilizam as mesmas em diversos websites. Em Portugal, há também uma baixa percentagem de cancelamento de compras online devido a suspeitas em relação ao vendedor. E os pais portugueses são, a nível da União Europeia, dos que menos discutem com os filhos as questões do assédio online - apenas 11% afirmam fazê-lo. Estes são alguns comportamentos e atitude de risco que o relatório anual de 2019 do Observatório de Cibersegurança aponta.

O relatório do observatório, criado pelo Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), tem por base dados do Eurobarómetro, Eurostat, Instituto Nacional de Estatística (INE) e Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, compara com números de 2017 e 2018 e, sempre que possível, com as médias da União Europeia (UE).

Conheça as atitudes ou comportamentos de risco que os portugueses mais revelam quando lidam com a informática e a internet.

Não há cuidado com passwords

Os portugueses são os que, a nível da UE, menos cuidado têm com as palavras-chave. O pouco cuidado, comparando com a UE, fica patente na "baixa percentagem de utilização de passwords variadas para diferentes websites e de passwords mais complexas do que no passado". Nota-se uma "grande descida em termos deste cuidado em relação a 2014. Com palavras-chave demasiado simples e repetidas, os criminosos ficam com o trabalho facilitado para aceder a dados dos utilizadores.

O relatório destaca ainda que há uma "percentagem muito elevada, em termos brutos e em relação à UE, de pessoas que não fizeram nenhuma alteração de password dos serviços online apresentados, nos últimos 12 meses".

Assédio online com pouca discussão

Os pais portugueses são dos que menos discutem com os filhos as questões do assédio online. "A ação mais comum dos portugueses para proteger as crianças do assédio online é a limitação do tempo gasto pelas crianças online e a monitorização do uso, ainda que abaixo da UE, lê-se no relatório, em que se concretiza que "os portugueses tendem a discutir menos o assunto com os seus filhos do que na UE, havendo uma descida acentuada em relação ao último inquérito".

São 11% os portugueses que dizem discutir o assédio na internet com os filhos, menos nove pontos percentuais do que em 2017. Em comparação com a UE, é um número baixo: em média 20% dos restantes europeus dizem discutir o assédio com os filhos, um número que subiu um ponto percentual.

Escassa segurança de smartphone

Existe uma baixa percentagem de portugueses que afirmam ter sistema de segurança no smartphone, aponta o relatório. Em Portugal, apenas 24% dizem que têm um sistema de segurança, por design e omissão, contra 35% na UE. Mas "Portugal está relativamente alinhado com o resto da UE quanto à percentagem de indivíduos que já restringiram ou recusaram o acesso a dados pessoais quando usaram ou instalaram uma aplicação no smartphone (entre 34% e 59%, dependendo da incidência) - ainda assim, existe uma discrepância um pouco maior em relação à UE, com resultados menores para Portugal, se considerarmos todos os indivíduos, 34% (PT) para 43% (UE)", aponta o relatório.

Poucas compras por cancelar

Os portugueses revelam uma "baixa percentagem de cancelamento de compras online devido a suspeitas em relação ao vendedor ou ao website". Na UE existe em média mais cancelamentos, muitas vezes por haver alguma suspeita de fraude. Em Portugal, é mais raro isso acontecer. Depois, os portugueses são os mais denúncias apresentam às polícias.

Login pelas redes sociais

O relatório revela que existe em Portugal um elevado uso de login das redes sociais noutros serviços como procedimento de identificação. Não é o melhor comportamento em termos de segurança online.

Desconhecimento sobre denúncias

Apesar de haver um número elevado dos portugueses ouvidos que se consideram razoavelmente bem informados (43%) e muito bem informados (3%), mais de metade (52%) não se sentem bem informados quanto ao risco de cibercrime. E são também muitos (84%) os que não sabem que existem um website e e-mail oficiais através dos quais podem comunicar cibercrimes - mais do que a tendência na UE (77%). Essas denúncias podem ser feitas através de uma página na Internet do Ministério Público (http://cibercrime.ministeriopublico.pt/pagina/denuncia) e através de um email (cibercrime@pgr.pt).

Quando fazem denúncias optam quase sempre por contactar as polícias. A Polícia Judiciária tem uma Unidade Nacional de Combate ao Crime.

Vírus causam maior medo

Este primeiro relatório do Observatório de Segurança aponta que o maior medo dos inquiridos portugueses (75%) é a "infeção" com 'software' malicioso ou vírus dos seus dispositivos eletrónicos.

Na lista de medos e receios, 49% dos inquiridos estão preocupados com a segurança dos seus dados pessoais e 73% evitam relevar informação pessoal 'online'.

O número de pessoas preocupadas com a infeção de dispositivos (computadores, tablets, telemóveis) com 'software' malicioso, como vírus, aumentou quatro pontos percentuais entre 2017 e 2018.

Apesar da desconfiança quanto a partilhar dados pessoais na Internet, desceu a preocupação dos inquiridos com os pagamentos 'online', que baixou de 47% em 2017 para 38% em 2018.

De acordo com o estudo, uma grande percentagem dos portugueses inquiridos considera a pornografia infantil o crime do ciberespaço mais grave (85%), mais do que a fraude bancária (78%) e o roubo da identidade (75%).

Comparativamente com a Europa, menos de metade dos inquiridos em Portugal (46%) consideram o discurso de ódio racial um fenómeno muito sério, quando na UE essa percentagem é de 61%.

O Observatório de Cibersegurança foi criado em 2019 pelo CNCS com o objetivo de promover a "partilha de conhecimento multidisciplinar sobre cibersegurança em Portugal", segundo um comunicado do Centro Nacional de Cibersegurança. Este foi o primeiro relatório deste observatório, que pretende continuar a divulgar documentos idênticos, além da sociedade, centrados noutras quatro áreas - riscos e conflitos, economia, ética e direito, politicas públicas, inovação e tecnologias futuras.

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