Os brinquedos que eles não esquecem

Em contagem decrescente para o dia de Natal, José Carlos Malato, Ruy de Carvalho, Manuel Luís Goucha, Isabel Silva, Pedro Fernandes, Sara Antunes de Oliveira, João Fernando Ramos, Piet-Hein Bakker e outras estrelas da televisão revelam à Notícias TV os brinquedos preferidos que os divertiram na infância. Nesta viagem pelo tempo, não faltam fotografias de família junto à árvore de Natal e até chaminés cheias de presentes
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"Sempre pensei que o Franjinhas tinha vida. Colocava-o de tal forma que quando a luz do sol incidia nos seus olhos parecia que ele vivia. As conversas que tivemos os dois davam um livro", conta com emoção na voz José Carlos Malato, ao apresentar em exclusivo à Notícias TV o brinquedo de infância: um cão-mealheiro de loiça que guarda até hoje.

O apresentador da RTP1, que no dia 31 vai estar a conduzir uma emissão especial em direto do Funchal, conta que o amigo especial veio de longe. "Quando chegou o Franjinhas foi uma festa! Este Franjinhas veio diretamente de França. Por cá, o desenho animado era um grande sucesso na televisão, no tempo do Vasco Granja [pioneiro na divulgação do cinema de animação e da banda desenhada em Portugal]. Uma amiga da minha madrinha foi a Paris e trouxe-me este boneco, que ainda hoje guardo com muito carinho", conta José Carlos Malato, de 49 anos.

Foi amor à primeira vista, admite o comunicador da estação pública: "É o único brinquedo que guardo da infância. Também não tive muitos. Gostava mais das coisas dos adultos. Também me lembro de um paraquedista e de um microscópio, nessa altura já devia ter uns 14 anos".

José Carlos Malato e o Franjinhas tornaram-se amigos inseparáveis. "Ficava em casa a inventar diálogos com ele. Apesar de ser um mealheiro, nunca o vi como tal", conta o apresentador. E o mesmo parece suceder com Jolie, a sua cadela boxer [presente na fotografia], que sempre que vê o dono pegar no Franjinhas aproveita para também receber mimos.

Malato sorri com o desafio da Notícias TV porque agora o Franjinhas também vai tornar-se conhecido dos seus fãs e do público. "Sempre tive um grande carinho por ele. Há coisas que não se explicam. A prova de que ele está vivo é que agora muito mais gente vai conhecê-lo", frisa.

Recordar a infância é também um exercício prazeroso para o colega e o humorista Pedro Fernandes, pois aos 13 anos desembrulhou aquele que foi um dos presentes que mais desejava ter na infância: o castelo de Grayskull da série de animação televisiva He-Man, que fez sucesso nos anos 80. "Eu queria muito recebê-lo [risos]. Queria tanto, que nesse Natal acabei por receber dois iguais. Um comprou a minha mãe e o outro a minha avó", conta o apresentador de 5 para a Meia-Noite, da RTP1, à Notícias TV. "Eu simplesmente adorava aqueles bonecos de Masters of the Universe [Os Mestres do Universo]. O meu preferido era o He-Man! Mas às vezes roubava a She-ra à minha irmã. Ah, e também gostava de um outro boneco que era azul e esticava o pescoço, mas já não me lembro como se chamava", conta o rosto da estação pública.

O fascínio de Pedro Fernandes pelo Castelo de Grayskull não se perdeu na infância nem desapareceu com o tempo. Vinte e três anos após ter recebido o tão desejado presente, o também repórter do concurso de caça-talentos The Voice Portugal ainda o mantém. "Esse castelo só saiu do meu quarto quando me casei! Posso garantir-vos que estava lá guardado como uma verdadeira relíquia."

Pai de dois rapazes, Tomás, de 4 anos, e Martim, de 2, Pedro Fernandes fez questão de mostrar, no ano passado, o tão adorado castelo ao filho mais velho. "Decidi apresentar-lhe o castelo. Mas, enfim, ele já deu cabo daquilo tudo [risos]. Já não está nas condições perfeitas, mas ainda serviu para entreter outra geração, o que já não é mau", solta com uma gargalhada.

Certo é que o Castelo de Grayskull, onde habitava a Feiticeira Zoar que representava o Bem, continua a encantar. Exemplo disso é o diálogo que a NTV ouviu entre Pedro Fernandes e o filho. "Tomás, tu já não queres brincar mais com aquilo, pois não?", questionou o humorista enquanto conduzia. Com prontidão, Tomás respondeu-lhe: "Ainda quero, pai! Eu gosto."

Ruy de Carvalho continua rendido a um cão de plástico

Aos 87 anos, o consagrado ator Ruy de Carvalho preserva na sua residência, em Lisboa, um brinquedo que lhe é também muito querido. "Trata-se de um cãozinho de plástico e que até já esteve numa exposição na Presidência da República", revela orgulhoso à nossa revista. "Se me lembro quando o recebi? É claro que sim, recordo-me como se fosse hoje! O cão foi-me oferecido pelo meu filho João [de Carvalho, ator] quando ele tinha 2 anos. Eu estava a fazer uma peça de teatro que era A Noite de Reis, e estava em cena no Teatro da Trindade, em Lisboa. Encontrava-me no meu camarim a arranjar-me e foi aí que o João apareceu e me deu o brinquedo", conta o ator dando provas da sua excelente memória.

A oferta do filho João de Carvalho, que surpreendeu naquela altura Ruy de Carvalho, acabou por "sobreviver" até hoje. "Eu sei que o cão está algures aqui em casa. Não sei é onde exatamente. Mas garanto que ele está cá em casa! Guardei-o todos estes anos. Foi o meu filho que mo ofereceu e por isso gosto muito. Ele deu-me o cão, imagine-se, para me guardar", conta a rir-se.

Porém, Ruy de Carvalho admite que guarda também boas lembranças de outros brinquedos que fizeram as delícias nos seus tempos de menino. "Tive muitos carros, que custavam dez tostões. Uns eram feitos de madeira, outros de latão e eu até os pintava. Naquela altura, era o tempo da carroça, da roda", lembra o ator, que protagonizou várias novelas da TVI e atualmente é um dos rostos da série de longa duração Bem-Vindos a Beirais, da RTP1.

Sara Antunes de Oliveira, jornalista da SIC, encontrou na infância um amor de trapos para toda a vida. "O Firmino é um fantoche muito simples de pano, como podem todos ver. Mas ele é muito especial para mim", conta a profissional de Carnaxide, acrescentando que este boneco de lábios vermelhos e cabelos pretos era o protagonista das peças de teatro lá de casa. "A terça-feira sempre foi um dia sagrado.

O meu pai fazia questão de estar na brincadeira comigo e a minha irmã Lídia, que é cinco anos mais velha do que eu, e por isso usava o Firmino para fazer teatrinhos. A primeira vez que o vi, julgo, tinha uns 3 anos", lembra Sara Antunes de Oliveira. "O meu pai, José Carlos, dava voz ao fantoche, nós adorávamos aquilo. O Firmino fez parte da minha infância até eu ter quase 10 anos, morávamos em Leça da Palmeira. Ele tem quase 30 anos [risos]. E está em ótimo estado, agora está guardado em casa dos meus pais, em Matosinhos.

A minha mãe, que se chama Zulmira, preferiu guardá-lo lá porque eu e a minha irmã somos muito distraídas e podíamos perdê-lo", conta a jornalista da SIC, que pediu à irmã que se deslocasse a casa dos pais para fotografar o fantoche em exclusivo para a Notícias TV.

Já lá vão três décadas de vida do boneco de trapo e Sara Antunes de Oliveira tem intenção de voltar a pôr Firmino em cima do palco. "Ele ainda vai contar muitas histórias aos meus filhos, isso é certo", diz a jovem jornalista.

Custódia Gallego, que dá vida a Antónia na novela Mar Salgado, da SIC, lembra quanto se deliciava a brincar com o Lego. "Eu adorava. Tinha, e ainda tenho, um fascínio pelas peças. Recebi Legos até aos 13 anos, tinha um caixote cheio! Adorava os telhados, as janelas... Gostava de montar tudo aquilo, era algo muito mecânico e que apelava à imaginação", conta, para acrescentar que "está tudo na minha casa. Espero, um dia, usá-los para brincar com os meus netos."

Tal como Custódia Gallego, a atriz Helena Isabel, que assume o papel de Leonor na sequela de Jardins Proibidos, da TVI, conta que também era fã de construções de Lego. " Passava horas a construir casas e cidades. Quando achei que o meu filho [Agir, nome artístico de Bernardo] já tinha idade para se interessar, tentei pegar-lhe o vício, mas ele, para meu desgosto, nunca ligou nenhuma."

Rita Ferro Rodrigues, apresentadora da SIC, perdeu-se de amores por um presente todo feito à mão e que ainda guarda num sótão. "Nunca vou esquecer a casa de bonecas que a minha mãe e avó fizeram para mim. Tinha 5 anos e brinquei com ela até aos 10. Agora, está em casa da minha avó, em Paço de Arcos."

O mundo das bonecas sempre fascinou Isabel Silva. A apresentador da TVI tem uma "coleção gigante" de Barbies. "Para além das ditas normais também tenho as de coleção! Houve um Natal em que ao lado do meu sapatinho (punha o sapato na lareira à noite e só no dia seguinte abria o presente) estava um presente gigante, maior do que eu: era a casa da Barbie", lembra o rosto de Sábado Especial. Também num sótão está todo o espólio da boneca mais famosa do mundo. "Neste momento, estão em minha casa, em Santa Maria de Lamas. E todas muito bem guardadas."

João Fernando Ramos, pivô da RTP1, ainda preserva o brinquedo mais especial que recebeu num Natal da sua infância, quando tinha 5 anos. "O meu avô Reinaldo era um grande engenhocas e quase todas as semanas me arranjava o triciclo, por isso todos os anos pelo Natal oferecia-me um novinho em folha. No último Natal que passei com ele, em que já estava muito doente, deu--me um avião", conta o jornalista.

O avião foi durante muito tempo o seu brinquedo predileto, já que podia levá-lo para onde quisesse. "O avião tinha um fio e um motor e por isso conseguia andar às voltas. Para mim, aquilo era uma coisa estratosférica." Em miúdo não deu descanso ao avião, mas este resistiu ao tempo. "As asas estão danificadas, mas ainda o tenho em casa dos meus pais, na Lousã." A preciosidade foi muito admirada pelos filhos do pivô e moderador do espaço informativo Página 2, na RTP2. "O João Pedro, que tem agora 23 anos, e o Diogo, 19, achavam muita graça ao avião do bisavô."

O pivô de informação da RTP2 habitualmente celebrava o Natal em casa dos avós paternos, na Quinta de Santo Estêvão, em Ponte do Abade, perto de Viseu. "A casa não tinha luz elétrica, mas um gerador para meia dúzia de horas. O resto do serão era com um candeeiro a petróleo e velas. Era como se voltássemos à Idade Média, mas eu adorava", recorda, para acrescentar que "éramos 30 pessoas à mesa na noite de Natal e deliciávamo-nos com os cozinhados que a minha avó Maria fazia".

José Gomes Ferreira, jornalista e comentador da SIC, admite que não teve brinquedos mas, ainda rapaz, encontrou "solução para tudo". Com as suas próprias mãos fez "nascer" moinhos. "Inventava as minhas próprias brincadeiras construindo moinhos de água com canas cortadas que punha nos regatos a rodar. Quanto mais dias rodassem sozinhos mais contente eu ficava. É claro que chegava a casa com os pés todos encharcados. Era assim a vida de criança numa aldeia do Interior", recorda à NTV. "Mais tarde, construí uma guitarra com umas tábuas que tirei do monte de lenha da lareira e com pedaços de fios de pesca a fazer de corda."

O jovem ator Tomás Alves, de 24 anos, que encarna a personagem de Tiago em Os Nossos Dias, da RTP1, conserva com carinho um instrumento musical. "Ainda guardo a minha primeira guitarra elétrica que recebi quando tinha 10 anos. Hoje, está sem cordas, com os pickups de fora e sem uso, mas um dia ainda hei de reconstruí-la."

Goucha portava-se bem e por isso pedia presentes de Natal

Manuel Luís Goucha, apresentador de Você na TV, lembra-se de um jogo que o Pai Natal lhe deixou na chaminé e com o qual "aprendeu muito". "Recordo-me que se chamava O Sabichão, que ainda hoje se vende", conta, acrescentando que as memórias que guarda do Natal, em Coimbra, são "as melhores". "Na manhã do dia 25, a chaminé estava sempre atulhada de embrulhos com fitas coloridas. Era uma festa, tanto mais que é também o meu dia de aniversário."

O parceiro de Cristina Ferreira nas manhãs da TVI cumpria todos os anos a tradição de escrever uma carta ao menino Jesus e confidencia que este nunca lhe ficou a dever um presente, mas diz que está em dívida com o Pai Natal. "Não me lembro o que pedia, lembro-me sim de dizer quão bem-comportado havia sido, pelo que me sentia merecedor de receber presentes. O Pai Natal não me deve coisa alguma. Eu é que lhe devo uma visita à sua aldeia, na Lapónia", diz a rir.

A estrela da TVI não guarda brinquedos de infância, mas a mãe fez-lhe uma surpresa recentemente. "Ela deu-me uma caixa com as figuras do presépio que já têm mais de 50 anos. Eram as figuras do presépio da minha infância e para o ano vou usá-las, misturando-as com outras peças do género que hei de comprar. Gosto de presépios com muitas peças."

Lurdes Baeta, pivô da TVI, recorda a magia do Natal, passados no Alentejo. "Havia uma campainha que tocava e, logo depois, nós íamos ver à chaminé os presentes que o menino Jesus nos tinha deixado. Lembro-me de um boneco que era careca, que me ofereceram quando tinha 10 anos. Cheirava muito bem, eu passava o tempo a dar-lhe banho. Foi sempre emprestado a outras raparigas da família e acabou por não chegar às mãos da minha filha mais velha, que está com 18 anos", conta, realçando ainda mais dois presentes que lhe ficaram na memória: "Uma bicicleta que recebi aos 12 anos e uma viola aos 14."

Quem também se mantém fã dos míticos bebés chorões que fizeram as delícias das raparigas nos anos 1980 e 1990 é Raquel Strada. "Tenho um Nenuco desde pequenina, que está na garagem dos meus pais. Eu queria imenso um daqueles que dava para enfiar a comida dentro da boca e dizia à minha mãe que não ia ser feliz se não o tivesse. Brinquei com o Nenuco durante anos e anos." E justifica a sua adoração pelo brinquedo. "Penso que esta minha obsessão com o Nenuco era porque, eu tenho 32 anos, na altura os bonecos não eram tão reais, não faziam assim tanta coisa. Tinha aquela pancada com os bebés, de querer ser mãe e ter um filho."

Pistas de carros, camiões e comboios até à idade adulta

Enquanto as raparigas se encantavam a brincar com Barbies e Nenucos, os rapazes, por sua vez, perdiam-se com pistas de carros e comboios.

Piet-Hein Bakker, diretor SP Entertainment, é disso exemplo. O produtor holandês, responsável por ter trazido para Portugal formatos como Big Brother, enquanto esteve no comando da Endemol, revela à Notícias TV que ainda mantém na Holanda o brinquedo que mais marcou a sua infância. "Foi uma pista de carrinhos e é desde essa altura que tenho uma enorme paixão por carros", sublinha, acrescentando que todos os anos pelo Natal "recebia mais carros e outras peças para completar a pista".

Durante vários anos, Piet-Hein teve a pista de carros "montada no sótão" da casa onde vivia com a família. "Como ocupava muito espaço , encontrei lá o local ideal". O brinquedo só tinha um problema para o produtor. "Como a pista era tão grande não dava para andar com ela de um lado para o outro."

Muitos anos depois voltou a perder-se de amores por uma outra pista de carros "mais moderna". "Comprei uma para as minhas filhas [Margarida e Catarina, que tem em comum com a atriz Alexandra Lencastre] e eu brincava com elas. Hoje com a PlayStation as pistas de carros deixaram de fazer sentido."

Por sua vez, Álvaro Costa, apresentador de Portugal 3.0, da RTP2, diz que os seus brinquedos de infância "andam espalhados" e que a filha Francisca deve ter brincado com alguns deles quando era criança". Mesmo assim, o radialista mantém intactos muitos presentes que recebeu no Natal. "Guardei livros, as célebres edições da Verbo Editora, jogos da Majora... E, claro, guardei alguns camiões. Eram daqueles antigos. Posso garantir que era doido por camiões", recorda entusiasmado.

Além dos camiões, o apresentador lembra-se de outros presentes do Pai Natal. "Um jogo de futebol, uma pista de carros modesta, outra de comboios, e ainda carros da célebre marca Matchbox." A desilusão de que os presentes, afinal, não desciam pela chaminé foi difícil de ultrapassar. "Lembro-me como se fosse hoje como descobri que o menino Jesus - antigamente não havia ainda culto pagão do Pai Natal - não existia.

Tudo aconteceu por acaso, abri uma arca e lá dentro estavam todos os presentes que tinha pedido." A infância feliz "mas pobrezinha", recorda Álvaro Costa, "tinha momentos muito especiais e o Natal era de facto um deles". "Era uma ansiedade doida, não perdia o Natal dos Hospitais e os anúncios da RTP de finais de 1960, inícios de 1970. Eu alucinava com os primeiros anúncios alusivos que surgiam em novembro e com o cabaz do Natal. Era uma época mágica."

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