Os amigos que se fizeram neste Mundial vêm de toda a parte
Com o Mundial em contagem decrescente, já será seguro começar a fazer alguns balanços. Passaram pelos estádios da Rússia, 32 equipas de dezenas de nacionalidades e, no Terreiro do Paço, em Lisboa, também. O Mundial tem esta coisa extraordinária de juntar num mesmo lugar povos distantes e improváveis. Uma oportunidade única, portanto, de conhecer gente dos dois lados do hemisfério, certo? Errado! Seria bom que assim fosse, não só para a maior festa do futebol, que deste modo teria um final feliz, mas até para este texto, que estaria repleto de testemunhos cheios de esperança na humanidade.
Só que o Mundial não é um filme de Hollywood. Na Arena Portugal, os adeptos belgas, por exemplo, encontraram-se com japoneses, tunisinos, brasileiros ou ingleses. E os franceses estiveram com argentinos, australianos ou peruanos. Por diversas vezes, dois ou mais olhares cruzaram-se e a magia não aconteceu. O mais longe que se conseguiu foi uma pose para uma selfie ou um abraço fortuito de um vitorioso para um perdedor. "Estive com muita gente, mas no fim dos jogos, cada um foi para o seu lado", conta Britt Lakshmi, adepto belga, presença constante no Terreiro do Paço desde os quartos-de-final. Um desafio de futebol não é propriamente o lugar ideal para por em prática filosofias de vida: "Acho que estamos demasiado focados com o que se passa dentro do campo."
E, sejamos razoáveis, 90 minutos ou um pouco mais, não é muito tempo para fazer um amigo: "Há muita euforia - e cerveja também - para se ter a noção de que ao nosso lado está alguém tão distante de nós", explica Julien Jacquet, adepto francês a viver em Lisboa há dois anos. Não significa que, no tempo de um jogo, os rivais sejam completamente indiferentes: "Já passei alguns bons momentos com argentinos e peruanos, que, além de terem um excelente fair-play, são imensamente divertidos."
À falta de melhor, esses "bons momentos" terão de servir para compor um final feliz. O resultado, porém, poderá não ser tão dececionante assim. Bastará lembrar como, em tantas outras viagens, muitos regressaram sem grandes amizades na bagagem. Mas, quem sabe se, mais tarde, algo acontece no corrupio do dia-a-dia. Pode ser numa carruagem de metro ou numa paragem de autocarro. Uma cara estranhamente familiar a fazer lembrar esses "bons momentos" para se concluir logo a seguir que, no meio de uma multidão, houve uns quantos que, afinal, deixaram marcas. Ou, então, nada acontece e esta é só uma infeliz tentativa de forçar um final feliz.