Orson Welles, o dinheiro e a mulher fatal

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O célebre confronto de Orson Welles e Rita Hayworth na galeria de espelhos de A Dama de Xangai constitui uma daquelas cenas míticas que a história do cinema celebra, não apenas pelo filme que representam, mas pelo simbolismo que arrastam. Assim termina uma narrativa vertiginosa, recheada de paixões e traições, um verdadeiro jogo moral entre a realidade e as suas imagens mais ou menos ilusórias. Assim terminava também a relação do actor/realizador com a sua actriz: casados em 1943, Welles e Hayworth viriam a divorciar-se em 1948, poucos meses passados sobre a estreia de A Dama de Xangai.

Tomando como ponto de partida um romance de Sherwood King (If I Die Before I Wake), Welles fez um filme que se transformou num modelo universal do filme noir, sobretudo pelo modo como encena uma intriga em que se cruzam e contaminam a sedução do dinheiro e o assombramento da mulher fatal.

Por cruel ironia, A Dama de Xangai representaria também um momento critico na relação de Welles com os grandes estúdios, já que o sentido experimental da sua linguagem desencadeou as mais variadas resistências. Conta-se mesmo que Harry Cohn, presidente da Columbia Pictures, chegou a oferecer mil dólares a quem lhe soubesse explicar, racionalmente, a intriga de A Dama de Xangai... Na prática, Cohn fez valer o seu poder e decidiu mandar cortar a versão de Welles, deitando fora perto de uma hora de filme que nunca foi recuperada.

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