Orçamentos de Defesa - Perspetivas

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Na Cimeira da NATO realizada do País de Gales em 2014, os países aliados concordaram no aumento dos seus orçamentos de defesa para, ou pelo menos, não descerem abaixo de 2% dos seus PIB. Na atualidade há vários países aliados, nomeadamente os estados menos desenvolvidos e de menores recursos financeiros, em que os orçamentos de defesa desceram para números perto ou abaixo de 1% do PIB.

Na declaração final da Cimeira da NATO, realizada em Madrid, a 22 de junho de 2022, foi aprovado um novo Conceito Estratégico da Aliança. No novo conceito é reafirmada a proteção das populações aliadas e a defesa de todo o território da NATO, foi afirmada a firme decisão de reforçar a dissuasão e a defesa, de forma a assegurar a segurança e defesa de todos os países aliados. Foi afirmado, que para uma postura defensiva efetiva, é fundamental um maior investimento nas capacidades militares chave.

Depois da invasão da Rússia à Ucrânia, o paradigma da ameaça à Europa alterou-se radicalmente, é evidente a preocupação com o comportamento agressivo e ameaçador da Rússia, assiste-se ao aumento significativo dos orçamentos de defesa. Nos últimos 20 anos Portugal tem desinvestido nas áreas da defesa e segurança do Estado, este desinvestimento conduziu a graves deficiências nas Forças Armadas Portuguesas, nomeadamente na sua capacidade de combate, no recrutamento, no bem-estar e na saúde dos militares e no investimento de novos equipamentos militares.

As nações aliadas acordaram, que pelo menos 20% dos orçamentos de defesa deviam ser alocados ao investimento em novos equipamentos, incluindo os custos associados para o desenvolvimento e pesquisa. Portugal tem estado perigosamente abaixo deste patamar, a números de 2021, o orçamento de defesa foi de 2442 milhões de euros, o que representou 0,8% do PIB. Contudo, os números fornecidos oficialmente à NATO foram de 3652 milhões de euros.

A situação atual das Forças Armadas Portuguesa é difícil: diminuta capacidade de combate, dificuldades financeiras de funcionamento, grande insatisfação dos militares, baixos níveis retributivos e problemas na área da saúde militar. É imperativo alterar a situação. É urgente definir o que os portugueses pretendem das suas Forças Armadas e dos seus militares. São necessários efetivos, é necessário um orçamento compatível com as missões, é necessário acautelar a saúde e o bem-estar dos militares e isso não está a acontecer.

Com a previsível mudança do ambiente estratégico na Europa é necessário a elaboração de um novo Conceito Estratégico Nacional de Defesa e Segurança (CEDN), de acordo com as possíveis mudanças estratégicas resultantes das novas ameaças, e logicamente, em linha com o novo Conceito Estratégico da NATO. O novo CEDN, terá de assentar em pressupostos muito fortes e aceites por um leque alargado do nosso espetro partidário e deverá ser a base dos novos orçamentos de defesa. A aprovação do planeamento das forças e capacidades militares é essencial para cumprir os desígnios formulados no CEDN, em função das realidades aeronavais e da imensidão do Mare Nostrum, a prioridade estratégica das capacidades militares deverá ser orientada prioritariamente para as missões de vigilância, reconhecimento e defesa desses mares, sem, contudo, esquecer as nossas responsabilidades cooperativas com os aliados. É fundamental, a definição de prioridades para o desenvolvimento das capacidades militares nas Forças Armadas e logicamente os níveis de investimento. São seis as principais prioridades em que se deverão fundamentar os orçamentos de defesa futuros: o Mar; a Defesa Cooperativa; o Bem-Estar da Força; a Cibersegurança/Cyberwar; as Missões de Soberania; as Missões Humanitárias.

A atual MDN já afirmou que tem como objetivo atingir os 2% do PIB para o orçamento de defesa, contudo não explicitou o espaço temporal até isso acontecer. No curto prazo, 2023/2024, tal será difícil de acontecer, estamos a referir um aumento para o dobro do atual orçamento de defesa de 2,4 mil milhões para aproximadamente 5 mil milhões. Será possível no curto prazo aumentar o orçamento da defesa para números próximos da 1,5% do PIB, em termos reais. Infelizmente, do que se sabe do orçamento de defesa para 2023, não é de bom augúrio.

Uma das áreas mais atingidas pelo desinvestimento tem sido na aquisição de novos equipamentos militares. Sem uma indústria de defesa militar forte, a maioria dos equipamentos militares são adquiridos no estrangeiro. É imperioso a modernização das nossas Forças Armadas, mas com uma economia em recuperação, esse investimento não pode acontecer num ano, tem de ser estendido num período mais alargado.

Tenente-General Pilav (REF

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