Oprah Winfrey inspira televisão afegã

Canal privado tenta ocidentalizar cultura local, mas autoridade religiosa resiste.
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A televisão privada afegã Tolo TV anunciou ontem em Cabul uma das suas próximas grandes apostas de entretenimento. Trata-se de Bonu, traduzível em português para Mulheres, um talk show dedicado ao público feminino, inspirado no sucesso norte-americano Oprah Winfrey, e que promete criar grande polémica no Afeganistão, um país de maioria islâmica.

Lançado em Outubro do ano passado, o canal privado revolucionou as tradições televisivas naquele país, ao difundir vídeos musicais com cantoras levemente vestidas, uma tendência oposta à prática corrente no Afeganistão. Uma ousadia que mereceu o repúdio dos responsáveis religiosos locais.

Num comunicado publicado ontem no seu site oficial, a Tolo TV explica que o novo talk show é inspirado no programa Oprah e abordará temas como a educação, a evolução de comportamentos sociais, o casamento, a autoridade familiar, a materrnidade e a saúde. Assuntos que, por si só, provocarão uma nova ofensiva dos mullahs afegãos.

"Queremos provocar alterações sociais através da discussão franca de assuntos que interessam às mulheres afegãs da actualidade", afirma a futura apresentadora da emissão, Farzana Sammi, no mesmo comunicado.

Apesar das previsíveis críticas, o director da Tolo TV, Saad Mohseni, não está preocupado e prefere valorizar o objectivo do canal: "Queremos participar na reconstrução do Afeganistão", afirma. Em sua opinião, "tal como os programas informativos, Bonu procurará caminhar para o futuro".

Depois dos anos de controlo soviético da programação televisiva (durante a ocupação entre 1979 e 1989), e dos anos de interdição da televisão durante o domínio talibã (1996-2001), o panorama audiovisual afegão mudou por completo. E em apenas um ano de existência, a Tolo TV tornou-se num dos canais mais populares do país, com uma audiências potencial de 15 milhões de pessoas.

A mescla de informação, música e entretenimento oferecida pelo operador privado conferiu-lhe grande notoriedade, principalmente nas grandes cidades afegãs.

No entanto, esta ocidentalização cultural continua a enfrentar forte resistência da maioria da população afegã, rural e muito conservadora, e da maior parte dos responsáveis religiosos, muito influentes ao nível local e acérrimos defensores da lei islâmica.

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