Oposição tailandesa derrota Governo em cimeira internacional

Foi a maior das humilhações para o primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva, que teve de retirar os líderes asiáticos do  local onde decorria a reunião de alto nível
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Se uma cimeira internacional pode correr mal, a cimeira de ontem, na estância balnear de Pattaya, a sul de Banguecoque, não podia ter corrido pior. Ainda os Chefes de Estado e de Governo de 16 países asiáticos - mais os dirigentes da ONU e outras instituições internacionais - tinham acabado de chegar e já estavam de partida, melhor: em debandada geral.

Uma manifestação da oposição acabara de invadir o centro de congressos e exposições da estância, forçando o primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva a suspender a cimeira, instaurar o estado de emergência e retirar do local alguns dos mais altos dignitários da Ásia pelo telhado do complexo.

Foi a humilhação suprema para o Governo de Abhisit que apostara na realização da cimeira, em que deveria discutir-se a conjuntura mundial e suas implicações regionais, como forma de demonstrar que o país permanecia incólume à crise política desencadeada pela oposição. Esta exige novas eleições e a demissão de alguns conselheiros do Rei Bhumibol Adulyadej, que acusa de envolvimento no golpe militar que afastou do poder, em 2006, o então primeiro-ministro Thaksin Shinawatra.

Os dirigentes dos dez membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, sigla em inglês) iam reunir-se com os seus homólogos da Austrália, China, Coreia do Sul, Japão e Índia, num encontro em que participariam também o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e os responsáveis do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, para decidirem medidas na sequência das tomadas pelo G20, em Londres. Mas pouco mais sucedera do que alguns encontros bilaterais quando alguns milhares de manifestantes investiram o perímetro da estância localizada 150 quilómetros a sul da capital, ultrapassaram as barreiras de segurança e entraram de rompante, numa maré vermelha - a cor das camisas que envergam para se distinguirem dos sectores pró-governamentais e realistas, que recorrem ao amarelo - que inundou átrios e escadarias do centro de congressos.

O Governo de Abhisit acabara de sofrer a sua maior derrota em política interna perante toda uma audiência internacional. Solução de recurso: declarar o estado de emergência, empunhar armas, levar os líderes para as praias ou para os telhados - e tirá-los de Pattaya o mais depressa possível.

Mas nem tudo se perdeu. O jantar de gala - previsto para 650 pessoas - que devia assinalar a noite de ontem (e que se encontrava já confeccionado) foi oferecido aos jornalistas presentes no local. Estes puderam sentar-se nas mesas reservadas aos líderes asiáticos e provar alguma da melhor cozinha tailandesa: do peixe-gato frito à sopa de galinha com especiarias, da lagosta grelhada ao frango frito com caju, do bife com caril, além de dietéticas saladas. Decerto por medida de prudência, não foram servidas bebidas alcoólicas.

À hora a que os jornalistas degustavam as delícias da gastronomia tailandesa, o primeiro-ministro deste país devia estar, de rosto fechado, a calcular o próximo movimento político com os assessores. De uma coisa, nunca mais se livra: a triste reputação de ter sido o anfitrião daquela que ficará para a história como talvez a cimeira mais breve de todos os tempos.

Pior sorte terá ainda a reputação da Tailândia, actualmente na presidência rotativa da ASEAN. A sua economia não deixará de sofrer com isso, avisavam ontem alguns analistas.

A instabilidade política é um forte dissuasor ao investimento, nacional e estrangeiro, e à visita de turistas indústria que é uma das principais fontes de receitas da Tailândia. E, como se viu ontem em Pattaya, a crise política estava ainda muito longe do fim.

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