Oposição sob fogo por ir a votos pede regresso às ruas
A decisão da oposição venezuelana de inscrever candidatos para as eleições regionais de dezembro na Venezuela está a gerar críticas dos seus seguidores nas redes sociais, que acusam a Mesa de Unidade Democrática (MUD) de ignorar as mortes de mais de uma centena de pessoas nos protestos contra o presidente Nicolás Maduro. Depois de dias seguidos nas ruas, a entrada em funções da Assembleia Constituinte esfriou os protestos da oposição, que espera contudo voltar a mostrar a sua força já amanhã.
"Dia triste este em que a MUD se inscreve para ir a umas eleições que não se farão. Oxalá tenham a humildade de daqui a três semanas recuar", escreveu David Morán, do jornal online La Patilla, no Twitter. "Hoje digo não a esta fraude da MUD, a uma convocatória às eleições regionais que a única coisa que querem é legitimar o regime", escreveu na mesma rede social o autarca de Torbes, do partido Vontade Popular. Não é o único dentro da coligação a criticar a decisão: "É ditadura. Ficamos politicamente sozinhos, mas ao lado da gente e sem perder o objetivo para acabar com este regime", indicou Maria Corina Machado, do movimento Vente Venezuela.
As regionais, nas quais se elegem os 23 governadores e que deviam ter-se realizado no final do ano passado, foram marcadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para 10 de dezembro. Os críticos dizem que, ao aceitar participar, a oposição está a legitimar este organismo, que criticou e acusou de fraude nas eleições para a Assembleia Constituinte de 30 de julho. Contudo, entre os opositores, há quem considere que estas eleições nunca se vão realizar - que a Constituinte arranjará uma forma de as cancelar.
O número dois do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e deputado constituinte, Diosdado Cabello, disse no seu programa semanal de televisão que os candidatos da oposição terão de ter um "certificado de boa conduta" emitido pela Constituinte para poderem concorrer. "Se você acredita, senhor amargurado, que agora se vai inscrever depois de mandar queimar a Venezuela ou ir pelo mundo dizendo que vai invadir a Venezuela, enganou-se." Um requisito que, segundo Cabello, será possível graças à Comissão da Verdade que foi criada pela Constituinte para apurar responsabilidades da "violência política".
A MUD está já à partida impedida pelo CNE de inscrever candidaturas para governadores de sete estados, podendo contudo aparecer com o nome e o símbolo de um dos partidos que formam a coligação. "Que saiba o governo que não vamos deixar nenhum terreno, nem nenhum ringue nos quais eles estão a planear lutar, mas isso não quer dizer que vamos com as calças na mão para o processo eleitoral. Pelo contrário, vamos exigindo as melhores condições", disse o porta-voz da MUD, Andrés Velásquez. E lembrou que isso não implica deixar de defender eleições presidenciais livres ou a libertação dos presos políticos. O advogado de Leopoldo López, em prisão domiciliária, denunciou ontem que ele é alvo de censura, estando proibido de se expressar ou manifestar-se.
O vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara, do partido Vontade Popular, apelou ontem aos venezuelanos para voltarem às ruas, de forma a mostrar o seu apoio a Ramón Muchacho e David Smolansky, dois dos cinco autarcas venezuelanos da oposição que viram os seus mandatos retirados pela justiça. Ambos foram também condenados a 15 meses de prisão por não terem impedido os manifestantes de erguerem barricadas que impediram a circulação nas suas localidades, Chacao e El Hatillo. Segundo a oposição, 34 dos 77 autarcas da oposição foram destituídos, estão presos, inabilitados ou têm ordem de captura.