Oposição ataca May por lista de imigrantes nas empresas

Proposta de dificultar contratação de estrangeiros foi apresentada pela ministra do Interior e considerada "xenófoba". Primeira-ministra quer tories no "novo centro da política"
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A primeira-ministra britânica, Theresa May, usou sete vezes a expressão "a mudança tem que chegar" no seu discurso final na conferência nacional dos conservadores, em Birmingham. Mas enquanto defendia que o partido irá procurar ser "o novo centro da política britânica, construído nos valores da equidade e oportunidade, onde todos jogam pelas mesmas regras" e falava num "futuro mais brilhante" para o Reino Unido, as atenções ainda estavam centradas nas propostas da sua ministra do Interior em relação aos imigrantes, consideradas pela oposição como "xenófobas".

Amber Rudd, que substituiu Theresa May na pasta do Interior, quer que as empresas britânicas sejam obrigadas a divulgar o número de trabalhadores estrangeiros que empregam, defendendo ainda que estas contratações devem ser dificultadas. A proposta passa ainda por introduzir restrições à entrada de estudantes estrangeiros nas universidades britânicas e a criação de um "fundo para controlar a imigração" no valor de 140 milhões de libras.

"Quero acreditar que esta proposta surja no calor da conferência conservadora, para galvanizar as bases. Mas é um sinal muito preocupante, que só vem reforçar o sentimento de animosidade para com os estrangeiros que se sente desde a campanha do brexit", disse ao DN o presidente da Câmara de Comércio Portuguesa no Reino Unido, Bernardo Ivo Cruz. "Este sempre foi um país multicultural, que recebia bem quem vinha de fora, mas agora deixou de ser, com o aumento do crimes de ódio contra estrangeiros", referiu. Estima-se que vivam no Reino Unido 500 mil portugueses.

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A questão da imigração foi central no voto do referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (brexit), com o governo britânico a prometer há anos baixar o número de entradas de estrangeiros no país para menos de cem mil, mas a falhar - no ano passado, o número foi superior aos 300 mil.

No discurso de ontem, May não falou destas propostas, mas lembrou que foram as classes médias as que fizeram mais sacrifícios durante a crise e que para quem "perdeu o emprego ou está com salário baixo por causa da imigração de trabalhadores pouco qualificados, a vida não parece justa". Depois repetiu que os Tories são o novo "partido dos trabalhadores", um epíteto normalmente atribuído ao Labour.

Na véspera, Liam Fox, que tem a pasta para o Comércio Internacional, disse que a incerteza do estatuto dos mais de três milhões de trabalhadores dos países da União Europeia que vivem no Reino Unido é "um dos quatro trunfos" na negociação do brexit com Bruxelas. Fox disse que o governo gostaria de "ser capaz de tranquilizar os trabalhadores europeus no Reino Unido, mas isso depende da reciprocidade dos outros países".

Críticas da oposição

A proposta de Rudd foi prontamente criticada pela oposição. "Fazer listas de trabalhadores estrangeiros não vai impedir que os empresários sem escrúpulos cortem os salários no Reino Unido. Fechar a porta a estudantes internacionais não vai pagar as dívidas que os jovens contraíram para pagar as propinas, disse o líder do Labour, Jeremy Corbyn. "Os conservadores vão antes alimentar divisões e discriminação nos nossos locais de trabalho e comunidades", referiu.

"Fiquei surpreendido por a primeira-ministra não ter tirado algum tempo [do discurso] para agradecer à única pessoa que a ajudou a criar a sua agenda: não [o ex-chefe de governo] David Cameron, mas [o histórico líder do UKIP] Nigel Farage", indicou Tim Farron, líder dos liberais-democratas (antigos parceiros de governo dos Tories). Já a Câmara de Comércio Britânica considerou que o objetivo da lista de trabalhadores estrangeiros era "envergonhar" as empresas.

Reagindo às críticas, Rudd alegou que o Reino Unido "deve ter a capacidade de falar de imigração" e "sobre se precisamos de ir lá para fora para conseguir melhorar a economia". Lembrando que o desemprego jovem é elevado, defendeu que os empresários devem procurar localmente pessoas para formar antes de ir contratar no estrangeiro.

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