Oposição afasta hipótese de 'impeachment' de Lula

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Os líderes dos principais partidos da oposição brasileira, reunidos segunda-feira à noite em Brasília, afastaram, por enquanto, o cenário de impeachment do Presidente Lula da Silva. Tudo porque não estão reunidas as condições para o sucesso da medida não existem provas da responsabilidade política de Lula nas irregularidades do Partido dos Trabalhadores (PT) e, mais importante, não existe apoio popular.

"Impeachment não se propõe à sociedade. Espera-se que a sociedade proponha aos partidos baseada em factos jurídicos incontestáveis", referiu o líder do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) no Senado, Arthur Virgílio Neto, ao jornal O Globo. A oposição sabe que sem o apoio popular e enfrentando directamente Lula pode transformar o Presidente em vítima, e quer evitar uma "reacção de massas" em sua defesa que permita a reeleição. "Nós não pediremos impeachment, mas não o impediremos se chegar a hora", acrescentou.

A estratégia dos partidos da oposição - PSDB, PFL (Partido da Frente Liberal), PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), PV (Partido Verde), PPS (Partido Popular Socialista) e PDT (Partido Democrático Trabalhista) - é acelerar as investigações, no Congresso, contra os deputados acusados de participar no esquema do "mensalão", em especial aqueles contra quem já existem provas concretas. Vários parlamentares aliados do PT foram acusados, no início de Junho, de receberem dinheiro em troca do apoio às iniciativas do Governo de Lula.

Para levar a cabo esta estratégia, vários elementos da oposição vão passar a reunir-se semanalmente para discutir as prioridades da agenda política e o andamento das investigações das comissões parlamentares de inquérito. Mas a união da oposição não é assim tão sólida na primeira reunião surgiu logo uma primeira discórdia, sobre se as contas da campanha presidencial de Lula devem ou não ser reexaminadas para permitir o confronto com as declarações do publicitário Duda Mendonça. Na semana passada, o ex-chefe da campanha revelou que foi pago com dinheiro oriundo do saco azul do PT e que abriu uma conta num paraíso fiscal para o poder receber.

Depois de uma primeira intervenção relacionada com o "mensalão", que foi alvo de acesas críticas por ter ficado aquém do esperado, o Presidente Lula reuniu-se segunda-feira com um "gabinete de crise" para averiguar quais são os passos que importa agora seguir.

Nessa reunião, o Presidente decidiu que ainda não é altura de se dirigir novamente aos brasileiros. O Palácio do Planalto espera obter mais dados concretos sobre as denúncias para que Lula possa fazer um discurso mais concreto sobre a crise política. A maior preocupação do Presidente, segundo O Globo, é "não contaminar a economia" e não paralisar o Governo.

Ontem, ao final da tarde (noite em Lisboa), teve início uma reunião da direcção do PT, na qual estiveram também presentes os prefeitos, governadores e líderes do Congresso. O objectivo é avaliar o actual quadro político brasileiro. Nas ruas, continuam a ouvir-se as vozes contra a corrupção. Ontem, milhares de estudantes manifestaram-se em Brasília, mas o protesto poupou o Presidente. Lula deverá contudo ser alvo de críticas hoje, numa manifestação organizada pela Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas).

Valério disse que era do PT

Emerson Palmieri, o tesoureiro do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) que viajou com o publicitário Marcos Valério para Lisboa em Janeiro deste ano, disse ontem que veio a Portugal para tentar angariar recursos para o seu partido e que Valério se identificou como sendo do PT, "mas não como representante do Governo brasileiro". Palmieri contou que foi com Valério - acusado de ser o operador do "mensalão" - até à Portugal Telecom e que este foi recebido pelo presidente Miguel Horta e Costa. "Fiquei irritado porque fui para testemunhar o acordo e Marcos Valério não me deixou testemunhar", disse na comissão de inquérito. Segundo Emerson Palmieri, quando terminou a reunião foi informado que "estava tudo resolvido" e o problema financeiro seria solucionado em 20 dias. Num comunicado datado de 4 de Agosto, a PT negava o envolvimento no financiamento ilegal de partidos e também a existência deste encontro em Janeiro de 2005.

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