Oportunidades e indecências

É deplorável que Marinho e Pinto tenha dito: "Até à próxima, quando você quiser e voltar a convidar"
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O que é verdadeiramente deplorável naquele trecho do Jornal Nacional (TVI) de sexta-feira em que Marinho e Pinto acusa Manuela Moura Guedes de violação sistemática de todas as regras básicas do jornalismo não é a dureza das acusações. Sim: Moura Guedes viola sistematicamente todas as regras básicas do jornalismo - e, aliás, muitas das regras básicas da decência também.

O que é verdadeiramente deplorável naquele trecho não é que a denúncia tenha partido precisamente de uma das mais descredibilizadas figuras da actualidade lusa. Sim: Marinho e Pinto é um daqueles espertos que sabem interpretar as urgências do debate nacional e não têm pejo em capitalizar em proveito próprio os erros dos outros - mas foi ofendido ao longo daquele telejornal, e indecente seria ele se não reagisse.

O que é verdadeiramente deplorável, naquela discussão, é que, ainda assim, Marinho e Pinto se tenha sentido na obrigação de dizer (embora com ironia): "Muito gosto em falar consigo." E de acrescentar (aqui já sem ironia nenhuma): "Até à próxima, quando você quiser e voltar a convidar."

Nos tempos em que vivemos, uma "figura pública" com uma "causa" aprende que nunca deve desperdiçar uma oportunidade de dar notoriedade a essa causa. Inclusive se o palco for uma sala de julgamentos sumários como o é o Jornal Nacional. É essa, hoje, a nossa fragilidade perante a televisão. E será essa, a longo prazo, a fragilidade da televisão perante nós.

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