Operadores pedem mais tempo ao governo para cumprir metas do 5G

Altice, NOS e Vodafone querem estender prazo para cobertura do território com a nova rede, que termina em 2025, devido à conjuntura económica difícil.
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A Altice, a NOS e a Vodafone querem mais tempo para cumprir os objetivos de cobertura para a quinta geração da rede móvel. As metas são para cumprir até 2025, com marcos intercalares em 2023 e 2024, mas a inflação e as disrupções nas cadeias de abastecimento estão a pressionar o calendário e os planos de investimento. Os operadores históricos estarão a preparar-se para pedir diretamente ao governo a flexibilização de algumas metas, sabe o DN/Dinheiro Vivo.

A Vodafone Portugal deu o primeiro passo e já avisou o executivo que há um risco das metas não serem todas cumpridas até 2025, segundo noticiou o jornal Eco a 14 de junho, e confirmou o DN/Dinheiro Vivo junto de fonte oficial da telecom.

Apesar de assegurar que "continua comprometida com os objetivos e metas estabelecidos" e que, "a esta data, o plano decorre de forma a que sejam garantidas as obrigações resultantes do leilão 5G", fonte oficial da Vodafone Portugal realça a existência de "constrangimentos comuns a toda a indústria". Por isso, "a empresa considerou importante alertar o governo para os riscos que esta situação acarreta, tanto em termos de prazos como de custos".

A Altice partilha estes receios com a empresa liderada por Mário Vaz. Fonte oficial da dona da Meo sublinha que a conjuntura nacional e internacional está a provocar barreiras "logísticas e económicas". Se os obstáculos "não forem ultrapassados a breve prazo" estará "em causa o cumprimento das obrigações de cobertura".

A mesma fonte, contudo, não revela se a empresa liderada por Ana Figueiredo já contactou o governo.
Já a operadora NOS não respondeu a tempo do fecho desta edição. No entanto, fontes do setor auscultadas afirmam que a empresa liderada por Miguel Almeida está em situação idêntica à da Vodafone e Altice.

Para já, só a Vodafone admite ter falado com o governo, mas haverá "um diálogo" entre os três principais players do setor das telecomunicações, segundo uma fonte do setor, com o intuito de pedirem em conjunto uma alteração aos prazos das metas de cobertura do 5G. "Os operadores ou já estão ou vão estar em contacto, tendo em conta o atual contexto, no sentido de flexibilizar algumas metas", refere outra fonte setorial.

As telecoms já estabelecidas em Portugal queixam-se do impacto do contexto macroeconómico, mas também estarão muito cautelosas com o futuro do setor, que pode influenciar eventuais planos. Estão por revelar as ambições da MásMóvil, Digi ou Dense Air no país e os rumores sobre eventuais consolidações entre empresas persistem.

Mas vamos por partes. Quando os objetivos para o 5G ficaram definidos, em fevereiro de 2020, previa-se que o leilão do 5G ficasse concluído no verão desse ano. Só que surgiu a pandemia de covid-19 e as prioridades alteraram-se. A corrida pelas novas frequências foi adiada e todo o processo, envolto em polémica e litigância, só se concluiu no final de 2021 (um ano e meio depois face ao calendário inicial).

Apesar do atraso, os operadores garantem que foram preparando terreno para a nova rede. Porém, os derradeiros investimentos no 5G só deverão avançar a partir deste ano, pois só agora é que está claro que partes do espetro radioelétrico cada operador controla.
Ora, por estes dias, na hora de investir, os operadores enfrentam um cenário complexo. Se já havia pandemia, a guerra na Ucrânia veio degradar ainda mais o contexto económico. A inflação na zona euro já vai em 8,1% (dados de maio) e os preços continuam a subir em todas as atividades económicas.

Acrescem os problemas nas cadeias de abastecimento, que já são antigos (como a escassez de chips). Ou seja, os operadores partiram para o 5G mais tarde do que esperavam e, hoje, quando encomendam componentes e equipamentos os custos são mais elevados e demoram a chegar. Este quadro já tinha sido traçado pelos líderes da Altice, NOS e Vodafone no último congresso das comunicações da APDC, em maio.

Além disto, as metas de cobertura do 5G têm de ser cumpridas por todos e ao mesmo tempo. E os operadores portugueses, apesar de trabalharem com diferentes fornecedores de equipamentos telco - sobretudo Ericsson, Nokia, Huawei ou Cisco -, na realidade, quando se trata de componentes para o core da rede não contam com a gigante chinesa. É público que deixaram de recorrer à Huawei para alimentar o núcleo das redes.

Os operadores históricos esperam conseguir sensibilizar o governo, sem terem de falar com o regulador. Contactada, fonte oficial da Autoridade Nacional de Comunicações diz desconhecer as intenções das telecom neste caso e que não foi submetido qualquer pedido. Já do lado do Ministério das Infraestruturas, que tutela esta área, não houve resposta às questões do DN/Dinheiro Vivo.

Os operadores de telecomunicações com licenças 5G têm de garantir, em menos de três anos, "uma cobertura de 95% da população total do país e a uma cobertura de 90% da população de cada uma das freguesias consideradas de baixa densidade, de cada uma das freguesias das regiões autónomas da Madeira e dos Açores e de cada uma das freguesias que integram municípios com freguesias de baixa densidade". Somam-se, ainda, obrigações para levar o 5G a centros de saúde e hospitais públicos, universidades, aeroportos, parques empresariais, além de autoestradas, metropolitanos, linhas ferroviárias, portos e instalações militares.

jornalista do Dinheiro Vivo

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