Ópera na Prisão vai à Gulbenkian em junho

O projeto chama-se <em>Ópera na Prisão: D. Giovanni 1003 - Leporello 2015 </em>e é<em> </em>desenvolvido pela Sociedade Artística e Musical dos Pousos no Estabelecimento Prisional de Leiria
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"Ópera na Prisão: D. Giovanni 1003 - Leporello 2015", desenvolvido pela Sociedade Artística e Musical dos Pousos (SAMP) no Estabelecimento Prisional de Leiria - Jovens (EPL-J), sobe em junho ao palco do Grande Auditório da Gulbenkian, em Lisboa.

Após dois anos de trabalho dos professores da SAMP com cerca de meia centena de reclusos, o projeto teve como ponto alto duas récitas em outubro de 2015, em plena prisão de Leiria.

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Na plateia esteve Risto Nieminen, diretor do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), instituição que financiou o projeto através do programa Partis - Integração social através das práticas artísticas.

"O impacto que esta récita teve em todos os que a ela tiveram oportunidade de assistir, artistas, público, agentes de segurança e parceiros, e a inesperada qualidade artística que se conseguiu atingir com os jovens reclusos cantores, inspirou o Serviço de Música da FCG a integrar na sua programação do 70.º aniversário um concerto com este projeto", conta à agência Lusa o diretor artístico de "Ópera na Prisão".

"É o coroar completamente inesperado para todos os envolvidos neste projeto, dos reclusos à SAMP, da equipa do EPL-J à própria FCG aquando do arranque do 'Ópera na Prisão", nota Paulo Lameiro.

O prolongamento de Ópera na Prisão: D. Giovanni 1003 - Leporello 2015 ao auditório da FCG significa "uma alteração do paradigma do concerto da música clássica e da identidade das instituições que os promovem".

Para Paulo Lameiro, mais do que "um concerto participativo, é o inesperado de abrir essa experiência a quem está fechado": a população reclusa.

A récita de 30 de junho terá a particularidade de, "além de pisar esse palco sagrado que é o Grande Auditório Gulbenkian, fazê-lo acompanhado pela Orquestra Gulbenkian".

Além da obra de Mozart, o programa integrará um tema escrito pelos próprios reclusos, acompanhado pela Orquestra Gulbenkian.

"São muitos os níveis artísticos e sociais que se cruzam neste projeto".

Em palco estarão reclusos e também os familiares, amigos, namoradas. "Vão dançar ao som da Orquestra Gulbenkian: seria difícil reforçar a autoestima e a consolidação dos valores de responsabilidade pessoal e social de uma forma tão intensa quanto o proporcionará este evento".

Para o diretor artístico, os intervenientes "irão sentir e viver a sensação de que o trabalho sistemático e rigoroso, de ter um sonho e trabalhar de forma organizada e em equipa, produz resultados. E esses resultados podem ser inesperadamente compensadores".

A grande maioria dos detidos ainda não acredita que seja verdade a atuação na Gulbenkian, revela Paulo Lameiro:

"Mas atenção que aquilo em que não acreditam não é o ir cantar ao Grande Auditório da FCG acompanhados pela sua orquestra; é simplesmente sair da prisão para ir a Lisboa cantar. Por isso, a reação até ao momento é de incredulidade. Para eles a notícia é: vamos cantar dois dias a Lisboa".

A expectativa quanto ao resultado final é grande: "Acredito que, com as condições performativas que a FCG oferece, este concerto terá um nível artístico muito superior [ao das récitas na prisão]. E mais importante que isso, ou pelo menos tão importante, tocará os corações e as mentes de todos quantos nele participarem, como artistas ou como público".

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