Onze instruendos do 127º curso de Comandos saíram a pedido médico
O 127º curso de Comandos iniciado em setembro registou 42 desistências, 27 das quais a pedido dos instruendos, 11 por indicação médica e quatro por falta de aptidão técnica, informou o Exército.
Segundo os dados enviados ao DN, chegaram ao fim das 12 semanas do curso 23 instruendos - um sargento e 22 soldados - que hoje recebem as míticas boinas vermelhas e respetivos crachás, numa cerimónia presidida pelo comandante das Forças Terrestres no quartel da Serra da Carregueira (Sintra) e que será antecedida pela que assinala os 41 anos do 25 de Novembro (ver caixa).
Desconhecendo se familiares dos dois militares mortos, o furriel Hugo Abreu (no primeiro dia) e o soldado Dylan Silva (uma semana depois) estarão presentes na cerimónia presidida pelo comandante das Forças Terrestres, o Exército indicou que os seus psicólogos continuam "em contacto e a disponibilizar apoio às famílias enlutadas".
Em relação aos processos de averiguações em curso, "nos termos da lei", ainda não foi possível determinar a qualificação dos acidentes - o que é necessário para efeitos de atribuição das pensões de preço de sangue. Isto significa, até pelo processo burocrático envolvido, que as famílias dificilmente receberão ainda este ano quaisquer verbas indemnizatórias.
"Aguarda-se o envio ao Exército dos resultados das autópsias", precisou o gabinete do chefe do Estado-Maior do ramo (CEME), general Rovisco Duarte.
O 127º curso iniciou-se a 4 de setembro no Campo de Tiro de Alcochete e foi suspenso dias depois (por uma semana) devido às mortes e ao elevado número de instruendos internados com sintomas atribuídos a um "golpe de calor". Os exames médicos adicionais realizados aos militares indicaram que eles estavam aptos a prosseguir.
Contudo, os cursos seguintes estão suspensos até ser concluída a avaliação extraordinária ordenada pelo CEME aos parâmetros da instrução naquele corpo de forças especiais. Novo tipo de exames médicos de admissão, que quantidades de água e alimentos dar aos instruendos e a que intervalos de tempo, quais os limites de temperatura que determinam a suspensão dos exercícios, eventual clarificação das linhas de autoridade hierárquica (instrutores) e técnica (médicos), são algumas das questões que a avaliação extraordinária em curso permitirá clarificar, assim como os meios sanitários de apoio em permanência, admitiram fontes militares ao DN.
Note-se que, segundo o despacho do Ministério Público em que requeria a detenção dos instrutores, algumas das suas ações e ordens dadas aos instruendos não constavam do atual "guião da prova".
Sobre a questão de saber se os militares afetos ao apoio sanitário dos Comandos - médicos, enfermeiros, socorristas - têm formação específica para o efeito, o Exército garantiu que eles "têm a formação necessária para o desempenho das suas funções".
Os inquéritos disciplinares e criminais abertos a seguir às mortes levaram o ramo a instaurar processos disciplinares a dois oficiais e o Ministério Público a mandar deter sete instrutores (cinco oficiais e dois sargentos), além de ouvir dois sargentos enfermeiros na qualidade de arguidos. Coube ao comandante das Forças Terrestres, tenente-general Faria Menezes, dar ordem de detenção aos instrutores que a procuradora Cândida Vilar requereu à Polícia Judiciária Militar, confirmou o gabinete do CEME.
Hugo Abreu morreu no primeiro dia do curso, com temperaturas superiores a 40 graus centígrados - e ainda mais ao nível do solo. Dylan Silva, transferido no mesmo dia para o hospital do Barreiro, faleceu uma semana depois devido a falência hepática. Os militares que tiveram de ser internados e não continuaram o curso continuam ao serviço, tendo regressado às unidades de origem e respetivas funções, esclareceu o Exército.