ONU diz que prioridade é realojar vítimas do vulcão e criar fontes de rendimentos

O realojamento e a criação de fontes de rendimento são as principais prioridades de todas as entidades que estão apoiar as famílias desalojadas pela erupção.
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A afirmação foi feita hoje à agência Lusa em São Filipe, "capital" do Fogo, por Teresa Encarnação, oficial para os assuntos humanitários da Equipa das Nações Unidas para Avaliação e Coordenação de Resposta a Desastres (UNDAC, na sigla inglesa) e chefe adjunta da missão de 10 elementos que a agência da ONU enviou para Cabo Verde para apoiar as operações de assistência aos desalojados de Chã das Caldeiras.

"A maior parte da população afetada (quase 1500 pessoas) sobrevive da agricultura de subsistência e tem gado. Ao serem retirados das zonas que habitavam é difícil trazer o gado para os locais de acolhimento, que se encontram num local mais urbano e não rural, e não ter acesso à sua colheita de subsistência", explicou.

O problema agrava-se porque a quase totalidade das famílias retiradas de Portela e Bangaeira - as principais localidades de Chã das Caldeiras, planalto que serve de base aos vários cones vulcânicos na ilha do Fogo - necessitam do rendimento que a agricultura e pecuária lhes proporcionam.

"O desafio está aí, a par do aspeto emocional, pois são muito ligados à terra e será muito difícil pedir-lhes para abandonarem a zona e o ideal será encontrar um meio termo", acrescentou Teresa Encarnação, portuguesa que trabalha na sede da agência, na Suíça.

Paralelamente, sublinhou, há toda a necessidade de se identificar um local, definitivo ou não, para instalar as famílias afetadas - cerca de 850 pessoas estão nos três centros de acolhimento instalados no Fogo -, que terá de ter em conta a proximidade de Chã das Caldeiras, parcialmente soterrada pela lava que jorra desde 23 de novembro.

"A prioridade é falar com as pessoas, compreender o que necessitam, pois, insisto, as pessoas estão muito ligadas à terra", frisou a especialista portuguesa, que realçou a importância de esse local ter de se situar próximo de Chã das Caldeiras, uma das zonas mais férteis da ilha.

"Por razões culturais, emocionais, de família ou históricas, será difícil pedir-lhes que se desliguem completamente de Chão das Caldeiras. O ideal é mesmo encontrar uma solução que lhes permita ainda, de forma segura, porque a prioridade é a segurança, ter aquilo de que necessitam", defendeu Teresa Encarnação.

No terreno, a missão da UNDAC já se reuniu com todas as partes envolvidas nas operações de assistência humanitária, permitindo ter a noção do que se passa e avançar já com o apoio na monitorização da distribuição da ajuda.

Antes de terminar a tarefa, a 17 deste mês, a missão da UNDAC, liderada pela norte-americana Wendy Cue, vai prestar assistência técnica a várias entidades locais e elaborará um relatório com recomendações que entregará ao Governo cabo-verdiano e ao Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde (SNU-CV).

Desde o início das erupções vulcânicas, a lava já soterrou a metade norte de Portela, a sede do Parque Natural do Fogo, inaugurada em março deste ano, dois hotéis, uma escola, mais de 30 habitações, cisternas, currais, casas de apoio à agricultura e uma extensa área agrícola e de pastorício, não havendo até agora vítimas a registar.

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