Neste primeiro dia do mês de junho não olhemos nem para a polémica das pensões nem para as palavras crispadas dos diferentes atores políticos. Deixemos a questão da Grécia, a crise no Syriza, a alteração radical do mapa representativo partidário em Espanha, os "dias horríveis" da FIFA e de Joseph Blatter ou, até, a incapacidade - o que acontece pela primeira vez desde 1882! - de os músicos - 123! - que integram a famosa Filarmónica de Berlim não conseguirem escolher o seu maestro-diretor. Olhemos, sim, para a nossa história. E para os diferentes sinais que ela nos oferece. E que importa que não sejam ignorados - diria, em certos casos, desconhecidos - por todos aqueles que estão a formular os diferentes programas eleitorais a apresentar às próximas eleições legislativas. Sabemos todos que o mundo mudou. E muito. Mas importa que não ignoremos as diferentes "lareiras do passado". Remexendo na biblioteca familiar e, logo, deparando-me com interessantes e únicos "tesouros", encontrei as atas dos congressos regionais da Beira que se realizaram, respetivamente, em Viseu (1921), em Coimbra (1922), em Aveiro (1928) e em Castelo Branco (1929). E este jornal, este mesmo Diário de Notícias, através da pena de Armando Boaventura, não deixou de "focar" os diferentes aspetos da vida dos concelhos beirões e, por exemplo, das então "suas ignoradas indústrias". E em Aveiro já se proclamava que "fomos capazes de descobrir o caminho marítimo para a Índia, conquistar um império e fundar outro, mas não somos capazes de arborizar uma encosta, de nos reunirmos para estudar a construção dum caminho de ferro, promover a construção de uma estrada ou de uma escola". E afirmava-se, ontem como hoje, que "a escola é o índice da civilização de um povo". E daí o realce do regionalismo - que deveria combater "todas as formas de cosmopolitismos, de confucionismos e de uniformismos" - que era bem importante tendo em conta "a atmosfera de azedume que envolve o meio social português; as lutas, rivalidades e retaliações que presenciamos com frequência; a facilidade com que se explora, persegue, deprime e calunia em Portugal, dão à sociedade portuguesa aspetos canibalescos"! E no congresso de Castelo Branco, e no que concerne aos municípios, assumia-se que "não se compreenderá que o juro dos empréstimos da Caixa Geral de Depósitos aos municípios seja de 9% e não baixe imediatamente a uma taxa de 5 ou 6%"! Ou, ainda, ontem como hoje, que "não se devem extinguir os pequenos concelhos". Ou, também, que o Estado central "não se deverá arrogar as funções de fiscal e superior hierárquico dos municípios". Estas questões de ontem são, ainda, e em muitos casos, questões de hoje. Questões de ontem para equacionar no Portugal de hoje! Sem qualquer medo!