ONG denuncia desflorestação devida a cultura de cacau na Costa do Marfim
"Para satisfazer a procura de gigantes da chocolataria como a Nestlé, a Cadbury e a Mars, muitos parques nacionais do país e área protegidas foram desflorestadas para dar lugar a explorações de cacau, a matéria-prima do chocolate", lamentou a Mighty Earth.
Segundo a ONG, "o setor do cacau na Costa do Marfim não se contentou com os territórios que podia desflorestar legalmente, nos últimos anos, e contribuiu igualmente para a instalação em grande escala de explorações de cacau nos parques naturais e áreas protegidas do país".
"A conversão de florestas em culturas de cacau em áreas protegidas infringe a lei da Costa do Marfim", sublinha-se no relatório, que aponta o dedo aos grandes negociantes, como Olam, Cargill e Barry Callebaut.
Esses três comerciantes compram cacau e vendem-no em seguida às gigantes do chocolate, como a Mars, a Hershey, a Mondelez e a Ferrero, de acordo com a Mighty Earth, que refere um mercado de consumo mundial de chocolate e produtos derivados do cacau que ascende a 100 mil milhões de dólares.
Em setembro de 2016, a Sociedade de Desenvolvimento das Plantações Florestais (Sodefor), uma empresa estatal gerida por privados, alertou que a quase totalidade das florestas classificadas da Costa do Marfim estava a ser destruída, devido a ocupações ilegais e desflorestações selvagens.
O território costa-marfinense tinha 16 milhões de hectares de floresta nos anos 1960, mas o crescimento demográfico do país e a desflorestação maciça ligada à plantação de cacau reduziram essa superfície para cerca de seis milhões de hectares.
O país é o principal produtor mundial de cacau, com 40% do mercado, sendo o cacau vital para a sua economia. O setor representa 15% do Produto Interno Bruto (PIB), mais de 50% das receitas das exportações e dois terços dos empregos (diretos e indiretos) e dos rendimentos da população, segundo o Banco Mundial.
Mas os preços do cacau caíram em um terço entre 2016 e 2017, devido a uma boa colheita que levou a um excedente de oferta em relação à procura mundial.