ONG denuncia ataques e pede proteção para índios isolados no Brasil

A Organização Não-governamental (ONG) Survival Internacional pediu hoje o aumento urgente da proteção policial para os índios Kawahiva, que vivem na Amazónia brasileira, e estão entre as tribos isoladas mais vulneráveis do mundo.
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Em comunicado, a ONG frisou que os índios da tribo Kawahiva vivem numa das áreas mais violentas do Brasil, com altas taxas de desmatamento ilegal, e atualmente correm risco de desaparecer dada a ação predatória de fazendeiros e madeireiros.

"O território do Kawahiva fica dentro do município de Colniza, onde cerca de 90% da renda é proveniente da extração ilegal de madeira. Os Kawahiva são caçadores-coletores nômades, mas agora estão vivendo em fuga", disse a ONG.

"Eles fogem das invasões ilegais de suas florestas, o que os coloca em risco de serem exterminados pela violência de forasteiros que procuram suas terras e recursos, e de doenças como a gripe e o sarampo, aos quais não têm resistência", acrescentou.

Segundo a organização, que luta pela proteção dos povos indígenas no mundo, casos de violência têm impedido que a Fundação Nacional do Índio (Funai), um órgão governamental que defende os interesses dos indígenas do Brasil, tem impedido ações de fiscalização.

"A violência de madeireiros e fazendeiros ilegais significa que a Funai foi impedida de realizar adequadamente o seu trabalho na área, deixando a tribo exposta e em risco de aniquilação", frisou.

Stephen Corry, diretor da Survival International, lembrou que a proteção das tribos isoladas do mundo é importante para proteger a sua integridade e também evitar incidentes trágicos.

"Na sequência da trágica tentativa de John Allen Chau entrar em contacto com os habitantes da Ilha Sentinela do Norte [na índia], tem ocorrido um grande apoio público para que tribos isoladas sejam deixadas em paz. Elas são as pessoas mais vulneráveis do planeta, mas onde as suas terras são protegidas, elas prosperam", afirmou.

"O trabalho da Funai e de agentes de proteção ambiental [no Brasil] é crucial para prevenir o genocídio dos Kawahiva e a destruição do seu território, que é uma parte extremamente diversa da Amazónia. Pedimos às pessoas que escrevam para as autoridades brasileiras em apoio ao seu direito de sobreviver" concluiu o diretor da ONG.

Em abril de 2016, o Ministério da Justiça do Brasil criou um território indígena protegido na terra ocupada pela tribo Kawahiva para manter os invasores distantes, mas os esforços em mapear e proteger o território, conhecido como Rio Pardo, estagnaram e etapas vitais de demarcação não foram concluídas.

Temendo retrocessos dado o posicionamento do futuro chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, que assume a Presidência em 01 de janeiro e já declarou publicamente não ter intenção de demarcar nenhuma reserva indígena no seu Governo, a ONG organizou uma campanha para que o processo de demarcação deste território seja acelerado.

A Survival Internacional lançou uma ação de emergência chamada "4 semanas para os Kawahiva" cujo objetivo é encorajar o Governo do Brasil a mapear terras dos Kawahiva e evitar o genocídio deste povo antes da posse do próximo Presidente brasileiro.

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