Olivença: pragmatismo e a essência da estratégia
O Dia de Portugal que no passado dia 10 se comemorou na cidade de Olivença foi muito digno.
Não é a primeira vez que o jovem e dinâmico presidente da Câmara de Olivença, Manuel González Andrade, toma a iniciativa de evocar nesta cidade o Dia de Portugal, mas neste ano as cerimónias tiveram um lustro ainda maior do que nos anos precedentes quando, sob a sua presidência, deu início à evocação da data.
No mundo de hoje com liberdade de circulação de pessoas e bens, as relações entre os povos e países da Ibéria têm na realidade de responder aos desejos do presente com os olhos postos no futuro.
É que não há futuro sem memória.
Acresce que para além das referências perenes de monumentos mandados construir por reis de Portugal como a Igreja da Madalena, a da Matriz e o importante pórtico da entrada, entre outros que são testemunhos da nossa história e referências inapagáveis, logo incontornáveis dela, os oliventinos ganharam o direito a ser considerados portugueses em função da descendência e assim registados, beneficiando de dupla nacionalidade.
A toponímia é bilingue, na denominação de ruas e praças.
Não é de estranhar que a cidade seja desde 2019 associada da UCCLA também por iniciativa do presidente da Câmara de Olivença, tal como sucedeu com Santiago de Compostela e Macau.
Reitero que as comemorações realizadas neste ano tiveram ainda mais brilho do que as dos anos anteriores.
Para além das saudações iniciais do presidente da Câmara de Olivença e da minha própria pessoa, tomaram ainda a palavra a secretária da Cultura, o vereador substituto da Câmara Municipal de Belmonte, a secretária de Educação e Cultura de Porto Seguro, no Brasil, e Manuel Alegre, que proferiu uma intervenção com grande profundidade, digna do nosso Luís de Camões.
Ouvir em Olivença Manuel Alegre foi como presenciar um clarão de lusitanidade.
Para além da homenagem, os poemas do seu livro As Naus de Verde Pinho, recitadas em português por crianças de um estabelecimento de ensino de Olivença, tiveram que ver com evocações a personalidades da nossa história, ligadas a Olivença.
Desde logo frei Henrique, que foi bispo de Olivença e Ceuta, o eclesiástico que se integrou na missão de Pedro Álvares Cabral que levou à descoberta do Brasil e aí celebrou em Porto Seguro a primeira missa.
Coube ao Dr. João Morgado evocar o humanismo de Cabral e a Eduardo Naharro Machado, uma das mais dinâmicas personalidades no aprofundamento das relações culturais entre os povos das duas margens do Guadiana, dissertar sobre frei Henrique.
No convite das comemorações do 10 de Junho inclui-se as bandeiras dos países de língua oficial portuguesa, representando assim o propósito de também com elas se aprofundarem as relações encetadas com esse objetivo pela UCCLA.
Esse aprofundamento aproveita aos dois países ibéricos mas também à própria UE se valorizar a interlocução com a América do Sul e África através de Espanha e Portugal, como deve ser.
Infelizmente é hoje a espuma dos dias que faz naturalmente as notícias na comunicação social e um acontecimento da maior relevância que foi o 10 de Junho evocado em Olivença não mereceu invocação.
Vivemos temos incertos também por isso...
A sessão terminou com o apresentador a dar a palavra para encerrar ao Dr. Ribeiro e Castro que há longos anos tem tido uma incansável habilidade e muito determinada ação na sensibilização das relações com os oliventinos e Olivença.
O pragmatismo e a conceção do poder dos dias de hoje, com os olhos colocados apenas no imediato, como se vê e na exclusiva defesa desse imediatismo e no poder pelo poder são mesmo incompatíveis com estratégia de futuro?
A reflexão sobre o Dia de Portugal em Olivença é uma situação que dá que pensar sobre a nosso própria rumo de marcha, mas esta resposta à interrogação ficará para uma outra altura sobre o muito, mas mesmo muito que há para refletir, porque ainda há tempo para agir em conformidade.
Secretário-geral da UCCLA