Olga Roriz desdramatiza sacrifício da mulher

A coreógrafa Olga Roriz quis desdramatizar o sacrifício da mulher na sua versão de "A Sagração da Primavera", mostrando-a não como vítima, mas como alguém que "se sente privilegiada por ter sido escolhida".<br /><br />
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Numa entrevista à agência Lusa durante os ensaios que estão a decorrer no Centro Cultural de Belém (CCB), onde a nova coreografia vai estrear, a 29 de Maio, Olga Roriz confessou que recriar "A Sagração da Primavera" era realmente o que não queria fazer.

Por ser muito conhecida, por ter sido muito coreografada, depois de Nijinsky - faz este ano um século - porque grandes nomes da dança o fizeram antes, como Maurice Béjart e Pina Bausch.

Afinal, por todo este percurso "muito forte", a coreógrafa portuguesa não a queria fazer.

"Há três anos várias pessoas me disseram que a deveria fazer, que o tema tinha tudo a ver comigo: os rituais, a sensualidade da mulher, a luta entre sexos, que continua actual... Eu disse logo que não. Mas depois a ideia ficou-me na cabeça e eu comecei a trabalhar nela", recordou.

Quis concretizar o projecto, mas a companhia de Olga Roriz tem apenas cinco bailarinos e fez a proposta à Companhia Nacional de Bailado, que a rejeitou "por razões financeiras".

Quando o CCB soube do projecto, convidou-a a levá-lo ao Grande Auditório com música ao vivo pela Orquestra Metropolitana de Lisboa.

A estreia da versão de "A Sagração da Primavera" de Olga Roriz acaba por acontecer na mesma altura em que a CNB fará uma digressão nacional com uma nova versão da mesma peça, criada por Cayetano Soto a convite da instituição, e que irá estrear em Faro, seguindo depois para Braga.

Apresentada pela primeira vez em Paris a 28 de maio de 1913, com coreografia do famoso bailarino russo Nijinsky (1889-1950), "A Sagração da Primavera" provocou escândalo na altura pela ousadia tanto do movimento como da música de Igor Stravinsky (1882-1971), que se tornou um ícone do modernismo.

"É um privilégio maravilhoso coreografar esta música. A complexidade assustava-me, e não foi fácil, mas foi muito inspiradora e realmente um prazer", concluiu.

Por se tratar de uma obra-prima da música e da dança, Olga Roriz considera que se deve ter "muito respeito por ela e uma ideia muito precisa do que se vai fazer".

O espectáculo - dividido em duas partes, a primeira com a interpretação de uma nova peça musical de Luís Tinoco, "Before Spring", e a segunda com a coreografia de Olga Roriz com a música de Stravinsky - vai estar no palco do CCB nos dias 29 e 30 de Maio e a 02 e 03 de Junho.

"A Sagração da Primavera" - que narra a história de uma jovem que deve ser sacrificada ao deus da primavera - vai ter cenário de Pedro Santiago Cal, desenho de luz de Clemente Cuba e direcção de produção de Pedro Quaresma.

Os figurinos da peça são de Pedro Santiago Cal e Olga Roriz.

Também está prevista uma conferência a 30 de maio, às 18:30, de entrada livre, no CCB, com a presença de Olga Roriz, Luís Tinoco, Cesário Costa e José Júlio Lopes, para debater as repercussões actuais da obra conjunta desenvolvida por Stravinsky e Nijinsky, considerada uma das maiores do património artístico do século XX.

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