Oito fotos, oito histórias: a caravana de migrantes pelas objetivas da Reuters
O olhar de medo no rosto de um homem da América Central que apertava um bebé nos braços enquanto fugia de uma muralha de polícias de intervenção da polícia mexicana tornou-se rapidamente numa imagem marcante da caravana de migrantes, que começou a entrar no México a 19 de outubro. Uma de várias tiradas pelos fotógrafos da Reuters.
Centenas de migrantes, a maioria das Honduras, irromperam pela fronteira guatemalteca para entrar na longa ponte que liga ao México. Mas a enchente foi travada por uma massa de polícias federais mexicanos com escudos Perspex e capacetes.
Muitos dos migrantes passaram essa noite na ponte, enquanto centenas de outros eventualmente optaram por saltar para o rio Suchiate, em baixo, numa tentativa de chegar a solo mexicano. Em poucos dias, cerca de dez mil migrantes tinham entrado no México, segundo indicaram membros da caravana.
"Os migrantes já tinham ultrapassado a primeira barricada de polícias no lado guatemalteco da ponte. Depois de um tempo, começaram a andar na direção da segunda barricada, no lado mexicano.
A pressão dos migrantes para entrar no México já tinha acalmado e, de repente, mulheres e crianças formaram uma fila e começaram a andar na direção da polícia. Houve um pouco de puxa e empurra e depois as coisas começaram a ficar cada vez mais caóticas.
Era uma marcha que se tornou num protesto e acabou em confusão. Claro que me afetou. Sou pai de uma menina de nove anos. Era impossível não pensar sobre ser aquele pai apanhado numa situação de pânico.
Depois de tirar a fotografia, tirei outras de famílias a sair do cordão policial. A confusão ficou sob controlo depois de ser usado gás lacrimogéneo para dispersar as pessoas e os migrantes foram empurrados de volta ao lado da Guatemala."
"Tirei esta fotografia no final do meu primeiro dia no México a fazer a cobertura da caravana de migrantes. Era tarde e os migrantes estavam a deitar-se para a sua segunda noite na cidade de San Pedro Tapanatepec, depois de ter andado 45 km de Arriaga para lá chegarem no dia anterior.
Deparei-me com este homem sentado à beira da estrada ao lado de um carro da polícia, a ver os agentes ajudarem outros migrantes. Com a chegada da noite, estas pessoas dormem onde podem para descansar o máximo antes de terem que voltar a andar.
Normalmente, a rotina dos migrantes começa pelas 3.00, quando andam pelas autoestradas no meio da escuridão total, esperando apanhar boleia de camiões de passam e evitar os bloqueios da polícia. Com as temperaturas a chegar aos 35.º graus Celsius, os migrantes tentam chegar à próxima cidade antes do calor do dia.
A determinação dos migrantes em chegar aos EUA é tangível. Eles têm saúde, estão animados e têm esperança de que existe uma vida melhor para eles no final da viagem."
"Uma pequena criança hondurenha chora quando o calor opressivo, o tumulto da multidão em redor e as horas de esperar com a mãe para entrar legalmente no México se tornaram impossíveis de suportar.
A imagem transmite a situação que muitas famílias na viagem enfrentam, com crianças a reboque, quando a fadiga, a incerteza e o clima acrescentam um nível adicional de drama.
Depois de viajar para a fronteira entre México e Guatemala, muitos migrantes esperam três ou quatro dias na ponte antes de as autoridades mexicanas os deixarem entrar. A espera é longa e entediante, mas horas depois de esta foto ter sido tirada, a lamentosa criança e a mãe puderam entrar no México.
Esta cena, e outras como ela, dizia tudo. A falta de oportunidades, a violência endémica e a pobreza levaram estas famílias a abandonar a sua terra natal e embarcar nesta árdua viagem.
O desafio ao tirar estas fotos é ficar a conhecer as pessoas, documentando este incrível momento transcendental na suas vidas e transmitir a sua humanidade o mais verdadeiramente possível.
Tenho feito a cobertura de temas de migrantes desde 2006 e segui esta caravana particular durante duas semanas, enquanto viajavam pela Guatemala até à fronteira mexicana.
Enquanto fotógrafo, tens que garantir que te pões no sítio certo e tens a luz certa. Nuns casos isso é mais óbvio do que noutros. Em situações caóticas como esta, no meio de centenas de pessoas, a minha experiência e intuição guiam-me. Vou à procura da luz e, sob ela, haverá inevitavelmente momentos incríveis para fotografar."
"Esta foto de homens a tentar derrubar o portão de entrada da fronteira mexicana parece simbolizar a luta no centro desta história: a tensão entre o desejo de encontrar uma vida melhor e as tentativas do governo de controlar as fronteiras.
Centenas de migrantes juntaram-se às primeiras horas da manhã na ponte que marca a fronteira entre a Guatemala e o México. Esperavam que os guardas abrissem as portas e os deixassem passar em direção aos EUA. Mas os portões continuaram fechados e, à medida que o dia foi avançado, as tensões aumentaram e os temperamentos explodiram.
Ao princípio da tarde, as pessoas começaram a atacar a vedação da fronteira mexicana. Um helicóptero da polícia sobrevoou a cena e polícias de intervenção lançaram gás lacrimogéneo para a multidão, enquanto os migrantes atiraram pedras. O confronto continuou pela noite, mas os migrantes não tiveram sucesso e os portões continuaram fechados. Um homem das Honduras morreu nos confrontos.
No dia seguinte, o grupo começou a entrar pelo rio Suchiate, formando uma corrente humana para atravessar para o México. A caravana pode ter começado com indivíduos, mas à medida que o tempo passa, notei um sentimento de solidariedade a crescer dentro do grupo. Tentam manter o ritmo dos mais vulneráveis, carregam os filhos uns dos outros e partilham os alimentos que têm.
As pessoas estão a andar na esperança de encontrar o sonho americano - educação, trabalho e uma vida melhor para as suas crianças."
"Nesta imagem, o jovem que carrega a criança parece tão exausto e podemos ver outros agarrados às parcas posses. Para mim, isto mostra o quão desesperadas estas pessoas estão. Estão dispostas a atravessar rios com fortes correntes, a perder os bens que têm, a lutar contra as águas com as suas crianças.
Este foi o meu primeiro dia a trabalhar nesta história. O meu colega disse-me que devíamos ficar de olho para quando o grupo começasse a atravessar o rio, porque tinham sido travados na fronteira, entrando em confronto com a polícia no dia anterior.
Vi-os ao longe, um grande grupo deles a criar uma coluna para atravessar o rio. Comecei a correr para chegar a eles. Corri através de várias tendas, da polícia e de várias pessoas que estavam a ver. Finalmente, cheguei ao pé deles e avancei para o rio com os migrantes que saltavam a partir do lado da Guatemala. Havia sirenes da polícia a soar à medida que a polícia mexicana chegava à margem oposta, à espera da caravana.
Um helicóptero da polícia sobrevoou e encheu-os de pós e água durante uns minutos, lançando vento para as pessoas. A situação toda teve um impacto em mim. Encontrámos uma mulher que estava grávida de oito meses. São as pessoas com crianças e os idosos que ficam na minha memória.
Está muito calor, o sol queima, os dois maiores desafios são a hidratação e manter os teus pés saudáveis. Mas nós temos sorte, temos acesso a sapatos bons, equipamento, água e alimento. Os migrantes não.
Eu normalmente trabalho na Casa Branca. Foi estranho captar o presidente dos EUA a falar destas pessoas e depois vê-las pessoalmente uns dias depois."
"Uma família hondurenha com o pai à frente, a mãe com a criança e uma tia, a carregar os seus bens, sobem uma colina na selva depois de atravessarem o rio Lempa, das Honduras para a Guatemala.
A família, parte de um grupo de cerca de 150 migrantes que fogem da violência e da pobreza na sua terra natal, decidiram arriscar atravessar o rio depois de ver que as autoridades hondurenhas tinham formado uma parede humana, bloqueado a fronteira.
Para mim, esta imagem reforça o facto de que podes chegar tão longe quanto os teus pés te levarem.
Viajei com a caravana de migrantes durante nove dias. Quando havia tempo, eles jogavam às cartas. Se havia uma bola de futebol, davam uns chutos. Tomavam banho nos abrigos por turnos. Às vezes não havia comida suficiente para todos. Mas alguma alma caridosa chegava e doava tortilhas de queijo, sopas instantâneas ou outras refeições. Quando estavam a andar, faziam-no sempre em grupos.
Uns quilómetros depois de atravessarem o rio e subirem a colina, a jornada deles foi abruptamente travada pelas autoridades da Guatemala. Um a um, homens, mulheres e crianças, foram sendo metidos em autocarros e camiões e reenviados para as Honduras.
Depois de serem deportados, nunca mais ouvi falar desta família.
Esta experiência mostrou-me que a ideia de lutar pela hipótese de uma vida melhor, o desejo de bem-estar, não pode ser eliminado, não importa quantos muros sejam erguidos. A viagem deles continua."
"Nos últimos nove dias, tenho estado a seguir uma caravana de cerca de sete mil migrantes da América Central que estão a fazer a viagem para norte, depois de atravessarem a fronteira entre a Guatemala e o México.
Em vez de tentarem cruzar a fronteira, os migrantes tinham-se virado para o rio Suchiate para tentar atravessá-lo. A maioria dos migrantes já tinha chegado ao lado mexicano do rio e estavam a descansar e a secar as roupas ao longo da margem.
No rio, dúzias de homens tinham entrelaçado os braços para criar um cordão humano da Guatemala para o México, para que ninguém fosse arrastado pela corrente forte.
Com uma câmara na mão e uma lente de 35 mm, entrei no cordão para fotografar o último grupo de migrantes a atravessar. Uma família que tinha conseguido chegar a meio do rio estava a entregar as crianças a outros homens para que os ajudassem a chegar a terra. Quando um homem agarrou a menina à minha frente, segui-o, a fotografá-lo, enquanto ele a punha em segurança.
Momentos mais tarde, o último grupo de migrantes tinha atravessado e os homens que tinham feito o cordão nadaram na direção do México e começaram a celebrar que a caravana tivesse conseguido.
Esta fotografia interpela-nos: porque é que uma família iria deixar a sua casa e não só arriscar a sua vida, mas também a dos filhos, ao fazer coisas tão extraordinárias? O que propela alguém a andar sem saber em que lugar terá comida ou quando poderá saciar a sua sede? Também me recorda do poema "Home" (casa), de Warsan Shire, que começa: "Ninguém sai de casa a não ser que a casa seja a boca de um tubarão."
"Vi muitas crianças na caravana e em cada rapaz ou rapariga não podia deixar de ver o rosto do meu próprio filho de seis anos. Podia sentir o medo dos pais, a frustração de não serem capazes de lhes dar uma vida decente.
Enquanto tentava chegar a uma caravana de migrantes de El Salvador nas primeiras horas do dia 1 de novembro, encontrámos um grupo de migrantes a dormir à beira da estrada. De madrugada começaram a andar, esperando conseguir uma boleia. Eventualmente, uma pequena carrinha de caixa aberta parou e o condutor disse que só ia levar mães com crianças.
Nesse momento, pude ver a incerteza nos rostos das crianças que não sabiam o que estava a acontecer. Havia muitos dramas a desenrolarem-se.
Uma mulher estava a viajar para os EUA com os dois filhos, de 11 anos e um ano e meio. Disse-me que só tinha dez dólares para chegar à fronteira dos EUA, onde esperava conseguir um trabalho melhor para poder providenciar o futuro dos filhos.
Havia conversas sobre a ameaça de Trump de cortar a ajuda a El Salvador. Muitos diziam: "Deixem-no cortar, no final do dia, nenhum de nós beneficia dessa ajuda."
Trabalhei em migração desde o início da minha carreira. Em El Salvador, tem sido um tema constante na história do país. Muitas pessoas fogem por causa de problemas sociais e de violência política. Mas nunca vimos nada como isto desde a guerra civil nos anos 1980."