Oito candidatos e um duelo dentro do PSD
Quando tudo corria bem, a vida do PSD no concelho de Pombal chegava a ser entediante: maioria absoluta na câmara, na Assembleia Municipal e em todas as freguesias do concelho, que eram 17, antes da fusão. Certa vez, quando Marcelo Rebelo de Sousa liderava o partido, foi a um jantar de campanha e vaticinou isso mesmo: ganhar tudo. Cumprida a profecia, Narciso Mota viu-se afastado da câmara pela limitação de mandatos, ao cabo de cinco sucessivos. No seu lugar ficou Diogo Mateus, que o acompanhara como delfim ao longo de quase todo esse percurso, enquanto vereador.
Há um ano, estalou o verniz: Narciso (que ficara a presidir a Assembleia Municipal) queria voltar ao poder, insatisfeito com "o rumo que o concelho levava e com a forma como o atual presidente exerce o poder". O partido atrasou o processo quanto pôde, pois sabia que a fratura seria profunda e faria estragos, como agora se vê. Escolheu, como era esperado, Diogo Mateus. E Narciso, à beira dos 70 anos, decidiu avançar como independente, embora a esmagadora maioria dos membros das listas do movimento Narciso Mota-Pombal Humano sejam da área do PSD. "O meu partido foi dividido, com marginalizações e afastamentos. Nunca mais lá volto", disse ao DN, inconformado com "a dualidade de critérios. Por exemplo, em Ansião e em Pedrógão Grande, tiveram uma atitude diferente", considera. Entre as críticas à postura do sucessor, Narciso insiste que só é candidato "porque o meu projeto foi renegado e interrompido, naquilo que estava previsto fazer no concelho, e que não avançou". Por exemplo? "A continuação do corredor ribeirinho e o parque verde, que estava em projeto ligar a vários parques de merendas; transformar a Casa Varela num Centro de Artes (eu fazia aquelas obras por metade do dinheiro que este executivo já lá gastou); em vez de demolir edifícios escolares, reaproveitar para habitação social destinada a casais jovens. Há muita coisa", garante o candidato, certo de que sairá vitorioso destas eleições. Diogo Mateus é mais contido e deixou para a comissão política concelhia os ataques a Narciso, em comunicado. Na apresentação da candidatura mediu as palavras: "Não atuamos com raivas e rancores. Em Pombal a marca de desenvolvimento é o PSD. Não corremos sozinhos, não temos uma agenda pessoal", considera, enquanto dá a ideia de abrangência e incentiva os cidadãos a utilizarem a plataforma Sentir o Concelho, uma espécie de estados-gerais em formato local, em que as pessoas são convidadas a contribuir, elas próprias, para o programa do partido nas diversas candidaturas, desde a cidade às 13 freguesias do concelho. Diogo sublinha que, neste seu primeiro mandato enquanto presidente, "iniciámos um trabalho de recuperação do crédito que Pombal foi perdendo fora do seu território", mesmo tendo em conta que, ao longo dos 20 anos de liderança de Narciso Mota, esteve sempre a seu lado, com exceção de um mandato em que - de fora da lista - se candidatou e ganhou a Junta de Freguesia de Pombal. Narciso responde: "Deixei-lhe uma conta com 13 ou 14 milhões de euros à ordem. Projetos e candidaturas aprovadas, dava para ter feito muito mais. E toda a gente sabe que eu nunca fui politicamente correto, disse sempre o que tinha de dizer nas instâncias próprias para defender Pombal."
Num concelho vincadamente rural, o ex-autarca continua a gozar de uma popularidade ímpar, apesar de ser uma incógnita o peso que o símbolo do partido vai ter na contabilidade eleitoral. Diogo puxa dos galões do PSD, e dos seus. "Tenho uma grande expectativa. Dá-me uma grande tranquilidade a forma como vou simultaneamente prestar contas ao eleitorado e apresentar as novas propostas", diz ao DN, certo de que "o resultado que se obteve nesses 20 anos (com Narciso Mota) teria sido diferente se a equipa fosse diferente também". Chegados a este ponto, o atual presidente sublinha tratar-se de "um processo democrático, às vezes sem se perceber bem as razões. Tem estes episódios que a história depois se encarregará de avaliar". Realista, Diogo acredita "que se vai discutir bastante a questão da maioria absoluta, não tanto a questão da presidência. Mas a campanha serve precisamente para isso: ganhar mais esclarecimento e escolher melhor".
Para lá deste duelo com laivos de tragicomédia política, há outras seis candidaturas, num total de oito, um número recorde naquele concelho. O dobro das que se apresentaram em 2013. O PS concorre com Jorge Claro, atual vereador, que acredita vir a capitalizar para o partido todo este estado de coisas. "Sou eu que tenho as melhores condições para ser o melhor presidente da câmara, as melhores pessoas na minha equipa", afirma ao DN, enquanto elenca um conjunto de ideias que quer implementar no município. "Temos de dar qualidade de vida às famílias, criar emprego, atrair investimento. Mas não basta ficar sentado à espera que os empresários cá venham bater à porta. Depois é preciso complementar com a criação de um Centro de Investigação para a Floresta, um Museu da Resina e um Museu da Emigração", por exemplo.
Neste combate autárquico participa também Sidónio Santos (CDS), cuja meta é ser eleito vereador. Na corrida estão ainda Fernando Domingues (CDU), Pascoal Oliveira (MPT), o independente Amílcar Malho e um dos mais jovens candidatos do país pelo Bloco de Esquerda, Gonçalo Pessa.