Oitavo dia da guerra. Nem a maternidade está a salvo
A coragem do povo ucraniano tem dado uma lição ao mundo. À falta de um e xército de larga escala e profissionalizado, valem a integridade, os valores e os músculos de cada ser humano. E é de seres humanos que se trata quando, ainda ontem, vimos imagens incríveis de moradores ucranianos que tentaram impedir a entrada de tropas russas na maior central ativa da Ucrânia e da Europa. Eram às centenas, vivem em Enerhodar (no sul da Ucrânia) e tentavam bloquear o caminho para a central nuclear de Zaporizhzhia. O vídeo, partilhado pelo presidente da câmara local, mostrava rostos sem medo, mãos sólidas a erguer bandeiras do país e passos firmes a ocupar a estrada de acesso. Apesar da determinação, as forças populares não foram suficientes para conter as forças russas e às 16h19 chegaram as notícias de que a central teria sido tomada. Mas a lição de coragem ficou na história.
Sem que a NATO abra o seu grande chapéu-de-chuva protetor, até porque a Ucrânia não integra a Aliança Atlântica e o presidente americano voltou a reafirmar no seu discurso do Estado da União que não enviará militares para o local, a Ucrânia está entregue aos seus homens e mulheres. Se a maioria das mulheres, compreensivelmente, saiu do país com as suas crianças, também são vários os casos de raparigas que se alistaram e recebem agora treino de combate militar.
Cerca de 2 mil civis terão perdido a vida até agora, segundo fontes oficiais da Ucrânia, entre eles um camarada jornalista que sucumbiu durante o ataque à torre da televisão ucraniana e ao qual prestamos aqui a nossa homenagem. Na guerra desencadeada pela Rússia, os inocentes não têm sido poupados. Crimes contra a humanidade estarão a ser cometidos e há um que parece ser indesculpável: uma maternidade em Kiev foi atingida. Em plena guerra, nem os hospitais escapam. Ontem o embaixador russo nas Nações Unidas afirmou "não estar a atacar alvos civis", mas não é isso que se vê nas imagens nem é isso que sentem as parturientes que tinham os seus bebés na maternidade e cuja dor no peito as dilacerou.
São os inocentes que pagam uma fatura altíssima e de longo prazo pelas decisões cegas da guerra. Ao dia de ontem eram já 836 mil os refugiados, segundo as Nações Unidas (ONU). A Amnistia Internacional já denunciou o "ato de agressão e uma catástrofe de direitos humanos, que viola claramente a Carta das Nações Unidas e é um crime à luz do direito internacional". E apelou aos Estados membros da ONU para que respeitem e defendam a Carta das Nações Unidas, que proíbe o uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado. A organização relembra que as únicas exceções a essas disposições são a autodefesa e o uso da força autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU - nenhuma das quais se aplica à invasão da Ucrânia pela Rússia, sublinha. Ontem de tarde a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução que exige que a Rússia se retire da Ucrânia. Só as negociações dirão se é possível chegar ao cessar-fogo. No oitavo dia da guerra na Europa, acordaremos com boas ou más notícias?