Obrigado, presidente George H. Bush

O antigo presidente americano George H. Bush morreu ontem à noite em Houston, aos 94 anos.
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Foi o último da geração da Segunda Guerra Mundial a ser eleito presidente. Foi o primeiro, em 152 anos, a chegar à Casa Branca no exercício das funções de vice-presidente. Mas foi também o presidente em exercício com a mais baixa votação para a reeleição desde William Taft, em 1912. Talvez por estar entre dois presidentes tão carismáticos - Ronald Reagan e Bill Clinton - a história não tenha dado a devida importância a George H. Bush, mas não andarei muito longe da verdade se concordar com o que um dia disse o seu grande secretário de Estado, James Baker: "Foi o melhor presidente de um só mandato na história dos EUA".

A ordem internacional é uma daquelas expressões em que normalmente não se perde muito tempo a pensar até ao seu desaparecimento. Nessa altura de transformações estruturais na balança de poder, na tipologia de regimes e no quadro das relações de segurança entre as grandes potências, o clássico desfecho surge plasmado nas páginas de um célebre tratado que invariavelmente põe fim a uma guerra trágica e avassaladora. Foi isto que não aconteceu na transição da ordem bipolar para a unipolar que sucedeu a partir do fim da Queda do Muro de Berlim (1989) e da dissolução da União Soviética (1991).

Nesta fase absolutamente definidora de praticamente tudo aquilo com que ainda hoje lidamos - hegemonia militar americana, posição cimeira da Alemanha unificada na construção europeia, efeitos dos alargamentos da NATO, da UE, da OMC e dos membros das Nações Unidas, prevalência das instituições de Bretton Woods, acomodação da emergência sustentada da China, salvaguarda das alianças asiáticas pelo Ocidente, gestão das expectativas e dos revanchismos da Rússia -, a experiência diplomática do presidente Bush pai foi decisiva. Convergiu com Gorbatchev na transição ordenada do final da Guerra Fria e no quadro de desarmamento bilateral que ainda prevalece. E convergiu com Kohl, Miterrand, Thatcher e Gorbatchev na transição alemã, garantindo que se faria no interior da Aliança Atlântica, sem levantar os fantasmas de uma reemergência incontrolável.

Se a Europa foi sendo um continente de guerras totais, a forma como os anos de 1989-1991 foram politicamente geridos, permitiu que a União Europeia continuasse a ser a fórmula da paz continental. E isto é tanto. Sobretudo para as gerações a quem a guerra nada diz. Obrigado, presidente George Herbert Bush.

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