Obras para abastecimento de água levam euforia ao Baralho, Abrantes
O início da colocação de condutas para o abastecimento de água à aldeia do Baralho, no concelho de Abrantes, causou, na última semana, euforia e incredulidade numa comunidade que sempre se abasteceu em furos, poços e fontes.
"As pessoas estão eufóricas e ainda não acreditam bem, mesmo vendo as obras, porque nunca tiveram água canalizada nas suas casas", disse à agência Lusa Maximino Chaves, um dos cerca de 20 residentes na aldeia do Baralho, em Bemposta, no distrito de Santarém.
O objetivo da Câmara de Abrantes é que todas as localidades passem a ser abastecidas de água a partir da albufeira de Castelo do Bode, até 2020, tendo os Serviços Municipalizados de Abrantes (SMA) anunciado esta semana o arranque da primeira fase do processo de construção do sistema, com um investimento global na ordem dos dez milhões de euros.
Manuel Jorge Valamatos, presidente dos SMA, disse que o projeto dá início a um novo ciclo de investimento para o período de 2015-2020, visando levar a toda a margem sul do concelho a água de Castelo do Bode, "com mais qualidade e em maior quantidade", a partir da albufeira que integra parte do espaço territorial de Abrantes.
A chegada da água à pequena localidade do Baralho "é simbólica do trabalho que vai ser desenvolvido em termos globais", destacou.
"É um projeto muito importante, num espaço territorial com 714 quilómetros quadrados, e vai implicar a construção de mais de 70 quilómetros de condutas, e eliminar, gradualmente, os inúmeros sistemas de captação, como furos e drenos, e o tratamento e distribuição existentes, concentrando todo o abastecimento de água num único sistema, a partir de Castelo do Bode", vincou.
Na aldeia do Baralho, pequeno aglomerado populacional sem cafés ou restaurantes, e que se abastece, desde sempre, com recurso a poços, fontes e armazenamento da água da chuva, a chegada da água canalizada marca as conversas do dia a dia, nas regas da manhã e de final do dia.
"É uma revolução para esta povoação porque estas pessoas nunca tiveram acesso a água canalizada", disse à Lusa José Cortes, de 64 anos. Para este habitante, o acesso à água passa por um poço e por um depósito, sendo que, para consumo, recorre a água de garrafão.
Para regas, banhos e lavagem de loiça e roupas, Joaquim Gil, também 64 anos, recorre à água de um poço. Para beber, desde sempre que recorre à fonte do Casal do Caldeiro, onde, uma vez por semana, se desloca de motorizada para encher dez garrafões.
"Esta situação é inadmissível nos dias de hoje", disse à agência Lusa, por sua vez, o presidente da Junta de Freguesia de Bemposta, Manuel João (PS), tendo destacado que a decisão dos SMA "salvaguarda os interesses da população no acesso aos serviços básicos e a uma vida mais condigna".
Composto por 19 freguesias, algumas delas agregadas em União de Freguesias, e com cerca de 40 mil habitantes, apenas a zona norte do concelho de Abrantes é hoje abastecida a partir da albufeira de Castelo do Bode, que abastece também a população de Lisboa, à exceção das freguesias de Mouriscas, Fontes e Carvalhal.
Até 2020, o objetivo dos SMA é assegurar o abastecimento faseado de todas as localidades das freguesias de Tramagal, Rossio ao Sul do Tejo, Pego, Bemposta, Concavada, São Miguel do Rio Torto, Alvega, São Facundo e Vale das Mós, integrando as infraestruturas existentes e a construção de outras, necessárias à viabilização deste objetivo.
A primeira fase dos trabalhos tem um prazo de execução de seis meses para a instalação de condutas ao longo de cerca de cinco quilómetros.