Óbito/Helena Almeida: Curadora Isabel Carlos destaca obra "completamente única"

A artista plástica Helena Almeida, que morreu hoje aos 84 anos, é, para a curadora Isabel Carlos, autora de uma obra "completamente única", em várias disciplinas artísticas, "com grande coerência e força".
Publicado a
Atualizado a

"É uma das grandes artistas da segunda metade do século XX, e não só, em Portugal. É, da sua geração, provavelmente, a mais internacional das artistas portuguesas", afirmou Isabel Carlos em declarações à Lusa.

Helena Almeida morreu hoje, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte da galeria que a representa, a Galeria Filomena Soares. Nascida em Lisboa, em 1934, Helena Almeida criou, a partir dos anos 1960, uma obra multifacetada, sobretudo na área da fotografia, tornando-se uma figura destacada no panorama artístico português contemporâneo.

Isabel Carlos, que dirigiu o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e esteve na direção do antigo Instituto de Arte Contemporânea, do Ministério da Cultura, classificou a obra de Helena Almeida como "completamente única", lembrando que a artista "trabalhou uma série de linguagens que marcaram o século XX, desde a performance, passando pela fotografia, pelo vídeo, pela pintura, e sempre com uma grande coerência e força".

A curadora, cuja proximidade com Helena Almeida é conhecida, e que partilhou estar "abalada" com a notícia "inesperada" de hoje, sublinhou ainda que a obra da artista plástica era "toda ela em torno da autorrepresentação".

"É sempre o corpo dela que vemos nas imagens", salientou, lembrando o "grande cúmplice" do trabalho de Helena Almeida, Artur Rosa.

Recentemente esteve patente na Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva, em Lisboa, a exposição "O Outro Casal. Helena Almeida e Artur Rosa", sobre a obra de Helena Almeida, centrada nos registos em que aparece com o marido, também artista. Isabel Carlos, que já fez parte dos júris da Bienal de Veneza e do Prémio Turner, foi a curadora da exposição.

Sobre o facto de Artur Rosa ter fotografado praticamente todos os seus trabalhos, Helena Almeida explicou, um dia, numa entrevista a Isabel Carlos: "É sempre ele. Porque é importante que as fotografias aconteçam no lugar físico em que eu as pensei e projetei".

"E como tal, tem que ser alguém próximo de mim. Mas antes faço sempre desenhos das situações que quero fotografar. Aliás, a partir da década de 80 passo a usar o vídeo para experimentar, porque um gesto pode ser muito enganador: uma mão mais para o lado é já outra coisa. Então, ensaio primeiro com a câmara [...]. Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma ação", acrescentou.

O lugar físico de que fala, o ateliê, é o espaço onde cresceu, e já era o ateliê do pai, o escultor Leopoldo de Almeida, autor, entre outras obras, do conjunto escultórico do Padrão dos Descobrimentos, e uma das figuras mais proeminentes da estatuária das décadas de 1940 e 1950 em Portugal.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt