Obama sem solução para guerras sem fim do pós-11 de Setembro
Menos de um mês após os atentados de 11 de Setembro de 2001, os EUA lançavam a Operação Liberdade Duradoura contra os talibãs no Afeganistão. Em janeiro de 2002, com o mullah Omar, o líder do grupo que recusara entregar Osama bin Laden aos americanos, em fuga de Kandahar, terminava a primeira fase da guerra. O segundo fim do conflito surgiria em 2014, com a NATO a anunciar o fim das operações de combate. Em 2003, bastara 31 dias ao presidente George W. Bush para declarar, com pompa e circunstância, o fim da guerra no Iraque. E em dezembro de 2011, Obama anunciava a saída do último militar americano do país. Apenas para regressarem três anos depois, para lutar contra o Estado Islâmico.
São assim muitos os fins anunciados das duas guerras decorrentes do 11 de Setembro. Mas passados 15 anos sobre os ataques, ambas parecem longe de terminar. No Afeganistão - o conflito que Obama, ainda em campanha para as presidenciais de 2008, definia como prioritário - os talibãs estão em crise de liderança desde a confirmação da morte do mullah Omar há um ano. Mas a verdade é que os rebeldes, depois de alguns anos retirados no vizinho Paquistão, têm multiplicado os ataques, inclusive na capital, Cabul, onde há uma semana fizeram 40 mortos. Em março, os talibãs recusaram participar nas negociações de paz e anunciaram nova ofensiva contra as forças do governo.
Com o fim da presença das forças da NATO, em dezembro de 2014, tornaram-se notórias as dificuldades do exército afegão para combater os talibãs. E o aumento dos ataques levou mesmo Obama a reverter a retirada dos soldados americanos anunciada na mesma altura. Em julho, o presidente disse esperar que no final do final deste ano, quando chegar ao fim o seu segundo mandato (o seu sucessor tomará posse a 20 de janeiro), espera ter reduzido para 8400 o número de tropas americanas no Afeganistão. Neste momento estão lá 9800 militares, numa missão de treino e apoios às forças afegãs. Em 15 anos, este é um conflito que já provocou mais de 2300 baixas nas forças armadas americanas, com 2010 a revelar-se o ano mais mortífero (499 mortos). As vítimas civis, essas, são quase impossíveis de contabilizar, com algumas ONG a falar em mais de 40 mil mortos só até 2014.
"Guerra ao terror"
Se no Afeganistão, o inimigo continua a ser os talibãs, no Iraque os americanos passaram de combater as forças de Saddam Hussein para hoje lutarem contra um Estado Islâmico que tem na sua liderança alguns dos líderes militares do ditador capturado pelos soldados dos EUA num buraco na sua Tikrit natal em dezembro de 2003.
Ainda decorria a primeira fase das operações militares no Afeganistão e já George W. Bush pedia às chefias militares para olhar para o Iraque. Na Casa Branca há menos de oito meses aquando do 11 de Setembro, o presidente terá visto ali a hipótese de terminar a guerra que o pai começara uma década antes. Bush pai em 1991 acabou por desistir de derrubar Saddam, após a derrota dos iraquianos na guerra do Golfo, na sequência da ocupação do Koweit.
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Mas se o ataque ao Afeganistão em 2001 recebeu o apoio unânime da comunidade internacional, a invasão do Iraque levantou muitas mais dúvidas, inclusive na ONU. Com os votos a favor do Congresso e o apoio dos aliados britânicos, Bush decidiu mesmo assim avançar em março de 2003, depois de uma defesa nas Nações Unidas de que Saddam tinham armas de destruição maciça e estava preparado para as usar. Mais tarde, iria perceber-se que o ditador iraquiano não tinha tais armas e a Administração Bush já fora avisada disso.
Caído Saddam (foi condenado à morte e executado em 2006 no Iraque), o problema do Iraque ficou longe de resolvido, com o vazio de poder a dar lugar à violência sectária entre xiitas e sunitas. Acusados de estarem mais interessados no petróleo do que em levar a democracia ao país, os americanos reforçaram a presença militar em 2007, chegando a ter mais de 180 mil homens no terreno. Chegado ao poder em 2009, Obama prometeu retirar as tropas, mas o avanço do Estado Islâmico, o grupo terrorista nascido após a invasão, que em 2014 conquistou algumas das principais cidades iraquianas, incluindo Mossul, e um vasto território na vizinha Síria, obrigou o presidente a mudar de estratégia.
Hoje, não só os EUA bombardeiam o Estado Islâmico na Síria, envolvidos numa coligação internacional, como já esta semana chegaram mais 400 militares americanos ao Iraque para ajudar a recuperar Mossul. Ao todo estão no país 4500 militares dos EUA.
Prestes a deixar a Casa Branca, Obama não conseguiu resolver as guerras que herdou de Bush. 15 anos depois do 11 de setembro, caberá a Donald Trump ou Hillary Clinton encontrar uma solução para esta pesada herança.