Obama "mais cerebral do que emocional". O que ele disse no Porto?

O investigador universitário Bernardo Pires de Lima, cronista do Diário de Notícias, acompanhou no Coliseu do Porto a intervenção do antigo presidente dos Estados Unidos
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"Juan Verde, o seu gestor de campanha, fez-lhe nove perguntas para introduzir os tópicos de conversa. E Obama, mesmo sem grandes momentos arrebatadores, terminou a intervenção perante uma plateia que o aplaudiu de pé. Saliento as referências que fez à necessidade de envolver as novas gerações e de encontrar uma solução para os media tradicionais.

Numa alusão ao que se passa atualmente nos EUA, disse que a Fox e o New York Times revelam dois mundos que não encaixam, salientando que não tinha a solução mas que sabia que os media tradicionais não são apenas negócios, são protetores das nossas democracias.

Vi um Barack Obama simpático, afável, carismático mas muito cansado. Tem um perfil hoje em dia bastante mais cerebral do que emocional, o que revela um traço que, não sendo novo para quem o acompanha há anos, ilustra o facto de ser muito melhor em campanha política do que orador neste tipo de formato.

No jogo de espelhos entre o atual presidente e o anterior, é como falar da água e do vinho. Quem esperava um ataque ao presidente Trump ou um discurso aguerrido contra a atual administração norte-americana, viu um Obama cerebral, sensato, sem precisar de referir o nome do presidente dos EUA, mas não deixando de identificar os lados perversos da atual administração.

Obama discursou sobre os vários pontos da agenda internacional, mas olhando sempre para o lado positivo da política e não apocalítico. Ilustrativo dessa forma de estar é o exemplo que deu de quando pensou em candidatar-se presidência dos EUA. Perguntou a Michelle Obama o que ela achava da hipótese, ao que ela respondeu: Odeio a política. Ele aceitou a observação, salientando que também existe Mandela, Luther King e Vaclav Havel e que preferia olhar para a política com estes exemplos e não para os perversos.

É nessa altura que chega ao momento mais importante da sua conferência, que também faz parte da sua fundação, e que passa por inspirar as novas gerações. O exemplo que ele dá é um ato de humildade quando diz que deve a eleição de 2008 a um grupo alargado de jovens entre os 20 e 25 anos. Acreditaram que era preciso fazer uma campanha diferente, utilizando novos recursos, contra todos os fatalismos sobre o sucesso desta receita. Defendeu que é para esta geração que se deve continuar a abrir as portas da política, das empresas e da ação cultural, porque se não as agarrarmos corremos o risco de as perder para o desinteresse político e para franjas ideológicas.

Falou sobre o combate contra as alterações climáticas, que no seu entender está muito mais vivo para a nova geração do que para a geração dele. Os jovens estão muito mais conscientes de que é preciso fazer coisas na economia, nas energias renováveis e na política de uma forma concertada e não entrincheirada. Não devemos perder esta geração, frisou Obama.

No atual momento de pré-cimeira da NATO e do encontro Trump-Putin, saliento duas intervenções importantes onde valorizou os esforços da Europa e dos EUA, nomeadamente com o acordo de Paris. Disse que é preciso não perder as gerações mais novas, não deixando de fazer um alerta para a necessidade de democratizar o processo de decisão da Europa para que o discurso anti-elites não dê força aos movimentos nacionalistas".

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