Obama está sempre na mira deste neto de açorianos
Pete Souza só esteve três vezes em Portugal. A primeira, ainda criança, quando o avô o levou a conhecer aqueles Açores de onde partira à procura do sonho americano. A segunda e a terceira em trabalho, como fotógrafo oficial de Ronald Reagan e de Barack Obama. E se de 1985 o que o neto de açorianos nascido há 57 anos no Massachusetts recorda são as brincadeiras dos colegas sobre o bigode que o fazia parecer-se com "todos os portugueses", em 2010 quando voltou com Obama para a cimeira da NATO em Lisboa até teve direito a um encontro com Cavaco Silva. "Para mim houve um momento especial quando o Presidente [Cavaco] Silva pediu para me conhecer", explicou na altura ao DN, em inglês, uma vez que não fala a língua dos avós.
Com mais de três décadas de carreira, foi enquanto trabalhava no Chicago Tribune que Pete Souza conheceu Obama, em Janeiro de 2005. Na altura, era mais um dos fotógrafos presentes na tomada de posse do senador estadual do Ilinóis, mas as imagens que captou de Obama com as filhas, Malia e Sasha, então pequeninas, chamaram a atenção do jovem político. Assim começava uma relação que o levaria a acompanhar Obama nas viagens ao Quénia, África do Sul ou Rússia, mais tarde compiladas do muito premiado livro The Rise of Barack Obama (A Ascensão de Barack Obama). A imagem de Obama a passear incógnito pelas ruas de Moscovo é das preferidas de Pete Souza. "É uma foto que nun- ca mais se repetirá", disse em 2009 ao Washington Post.
Foi nessa altura, com um Obama a chegar à Casa Branca depois de uma carreira fulgurante, que Pete Souza foi convidado para fotógrafo oficial. O lusodescendente não hesitou, mas impôs uma condição: que trabalhasse para documentar a presidência do primei-
ro negro a chegar à Casa Branca. E foi logo na tomada de posse que tirou outra das suas fotografias de eleição: a do casal presidencial, num elevador, entre bailes, de cabeças encostadas, Michelle com o casaco de Barack pelas costas enquanto os seguranças fingem não olhar para eles. É esta que enfeita a parede do seu gabinete na Casa Branca, situado na antiga barbearia. Mas qual o segredo para fotografar um presidente? "É preciso estar lá. Em todos os momentos", explicou ao Washington Post.
E o homem que gosta de se definir como a "sombra" do comandante-em-chefe está sempre lá, tão discreto "como uma mosca na parede", gosta de brincar. Seja em 1986 quando o líder soviético Mikhail Gorbachev disse a Reagan: "Não sei o que mais podia ter feito" referindo-se ao desarmamento nuclear na cimeira de Reiquejavique, na Islândia. Ao que o americano respondeu: "Podia ter dito sim!" Foi ainda o clique da máquina de Pete Souza que se ouviu quando Obama e a sua equipa assistiam na Situation Room, em Maio de 2011, à operação militar no Paquistão que levaria à morte de Ussama ben Laden.
De traços fortes e cabelos encaracolados, Pete Souza nem sempre trabalhou para a Casa Branca. Depois do 11 de Setembro, foi um dos primeiros fotógrafos a chegar ao Afeganistão, após atravessar as montanhas do Hindu Kush a cavalo, no meio da neve. E os seus trabalhos foram capa da Fortune, Newsweek ou US News & World Report.
Sobrevivente de cancro da próstata - doença que em 1999 lhe levou o pai -, Pete Souza gosta de manter a discrição. E recusa revelar a sua ideologia política. Com as presidenciais de 2012 a aproximarem-se, Pete Souza ficará a saber se continua na Casa Branca mais quatro anos ou se volta ao Ohio, onde dava aulas. E talvez nesse caso encontre tempo para voltar a Portugal, desta vez sem depender da agenda de Obama.