"O Senhor dos Anéis" e Rufus Wainwright na próxima Temporada Gulbenkian

Temporada de Música 2015-2016 da Fundação propõe mais de 130 concertos entre o Jazz em Agosto e o início de junho e estabelece cada vez mais pontes com a cidade que a rodeia
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É a mais importante temporada de música que existe em Portugal e, a cada ano que passa, Risto Nieminen (diretor do Serviço de Música) pretende torná-la crescentemente importante para a cidade, para a região e para as pessoas que habitam uma e outra. O palco do Grande Auditório é cada vez mais uma casa do mundo e assim também a plateia se pretende casa do mundo que a circunda.

Neste desígnio se integram iniciativas como as que passamos a designar: concerto inaugural da Orquestra Gulbenkian (OG) é este ano um evento gratuito e ao ar livre, na Praça do Município (20 setembro); a OG (e solistas do Festival Cantabile) volta a tocar ao ar livre e com entrada livre nas Ruínas do Carmo, apenas cinco dias depois; acesso livre a todos os eventos do Festival Jovens Músicos (30 setembro-2 outubro); os Concertos Participativos (14 e 15 novembro); Coro e Orquestra Gulbenkian acompanhando Rodrigo Leão e os seus músicos na estreia absoluta do novo álbum deste, no Coliseu dos Recreios (20 novembro); presença de Rufus Wainwright no Grande Auditório (27 novembro); concerto Natais do Mundo (20 dezembro), com Coro e Orquestra Gulbenkian+público espontâneo; parte I do Senhor dos Anéis com banda sonora tocada e cantada ao vivo (8 e 9 janeiro); os dois Concertos de São Valentim, pela OG, no dia do dito santo; Dia Portas Abertas preenchido com recitais de jovens estrelas do espaço europeu (28 fevereiro); o cinema de Pedro Costa no Grande Auditório (1 abril).

Este esforço também perpassa noutras iniciativas que vão pontuando a temporada, como: os concertos que promovem os jovens músicos, nacionais ou internacionais; no ciclo Músicas do Mundo; na presença de solistas não-tradicionais (isto é, exteriores à tradição erudita ocidental) em concertos da OG; nos concertos que recorrem ao elemento visual como enriquecedor/complementar à experiência auditiva; os Concertos de Domingo dirigidos às famílias; ou a participação da OG nos Dias da Música 2016 (com o maestro Fréderic Chaslin).

Esta vontade de abertura e de maior acessibilidade/atractividade coexiste com a programação mais tradicional. Uma e outra estão, de resto, escalonadas em ciclos, que passamos a tratar individualizadamente.

- Ciclo Orquestra e Coro Gulbenkian

A Orquestra faz, com ou sem o Coro, 23 diferentes programas no Grande Auditório, a que se hão-de somar três Concertos de Domingo, dois no ciclo Grandes Intérpretes, o Concerto Participativo e um concerto no Festival Cantabile, correspondendo no total a 52 concertos.

Além disso, somam-se idas da Orquestra a Alcobaça, Póvoa de Varzim (com o Coro), Marvão e CCB (todos em julho), a Setúbal (outubro), ao Porto (novembro, com o Coro), a Barcelona (fevereiro) e uma digressão nacional, de 4 a 7 de maio de 2016, tendo por solista Mário Laginha.

Entre os maestros convidados, destaque para David Zinman (22 e 23 outubro), Jukka-Pekka Saraste (3 e 4 de março), Frédéric Chaslin (21 e 24 abril), Ton Koopman (28 e 29 abril), além do regresso de Lawrence Foster (12 e 13 maio).

Nos solistas, detenhamo-nos, a título de ilustração, apenas nos pianistas: Ronald Bräutigam (21 e 22, 28 e 29 janeiro), Nikolai Lugansky (4 e 5 fevereiro), David Kadouch (25 e 26 fevereiro), Artur Pizarro (7 e 8 abril) e Arcadi Volodos (12 e 13 maio). Fazemos apenas uma exceção ao piano, por causa de uma senhora chamada Waltraud Meier, soprano wagneriana de eleição, que pisará o palco do Grande Auditório pela primeira vez: será a 3 e 4 de março, datas em que cantará as Canções de Wesendonck, de Wagner, dirigida por Saraste.

O repertório sinfónico abrangido pela OG ou orquestras convidadas (uma delas é uma das formações do El Sistema venezuelano de orquestras juvenis) inclui A Canção da Terra, de Mahler; a Terceira de Bruckner; as sinfonias 7 e 8 de Dvorák; as Quintas de Beethoven (deste, também as 'Eroica' e 'Pastoral'), Tchaikovsky e Shostakovitch; os Quadros de uma Exposição e Sheherazade; La Mer, de Debussy e Daphnis et Chloé, de Ravel; Sagração da Primavera; Paixão segundo São João e Missa solemnis; Rituel - in memoriam Bruno Maderna, de Boulez; os dois concertos para violino e a Música para cordas, percussão e celesta, de Bartók, entre outras partituras entusiasmantes.

- Ciclo de Piano

Os recitais de piano são tradicionalmente dos eventos mais procurados das temporadas. O próximo ciclo integra uma dúzia de grandes intérpretes e a abertura dificilmente poderia ser melhor: dia 1 de novembro, Nelson Freire, que fez recentemente um soberbo recital em Sintra, toca Bach, a op. 111 de Beethoven, Prokofiev e a 3.ª Sonata de Chopin! Dentre os restantes 11, destaquemos Jean-Yves Thibaudet (24 novembro), Leif Ove Andsnes (6 dezembro), Yefim Bronfman (14 dezembro) e o primeiro recital na Gulbenkian do "wonderkid" Benjamin Grosvenor, que até agora, em Portugal, só tocara na Casa da Música. O "contingente" russo conta com Trifonov (20 fevereiro), Sokolov (6 março) e Volodin (21 maio).

- Transmissões do Met

Serão dez as produções da Metropolitan Opera de Nova Iorque que poderemos ver no Grande Auditório, desde O Trovador, de Verdi (3 outubro), com o par "interstellar" Anna Netrebko-Dmitri Hvorostovsky e encenação de David McVicar, até uma Elektra de Strauss (30 abril), com três excecionais senhoras: Nina Stemme, Waltraud Meier e Adrianne Pieczonka, numa encenação original do falecido Patrice Chéreau dirigida por Esa-Pekka Salonen. Mas a maior curiosidade irá para a Lulu de Alban Berg (21 novembro), partitura maior do teatro musical do século XX, com Marlis Petersen no papel titular, acompanhada de Susan Graham, Johan Reuter e Franz Grundheber, entre outros. A encenação pertence a William Kentridge e a direção ao "sempiterno" James Levine.

- Ciclo Músicas do Mundo

O ciclo que pôs a Fundação Gulbenkian na rota da world music prima também por conter propostas mais transversais. Assim é o início, a 4 de outubro, com o duo de Arianna Savall (a filha harpista e cantora de Jordi) e o cantor e poli-instrumentista norueguês Petter Udland Johansen e mais três músicos. Ouvimo-los em dezembro no Festival Fora do Lugar, em Idanha-a-Nova, e os espetáculos deles são realmente muito belos. Este tem por título Hirundo maris (andorinha-do-mar) e parte do CD homónimo, contendo canções que circularam entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo em tempos medievais. Em dezembro (dia 5) vem a Andaluzia na voz de Estrella Morente, "improvavelmente" acompanhada ao piano por Javier Perianes.

Depois de ter sido convidada especial de Júlio Resende no concerto que este deu na Fundação em setembro do ano passado, Sílvia Pérez Cruz dá um concerto em nome próprio a 30 de março, acompanhada de um quinteto de cordas e centrado no seu disco 11 de novembre, que dedicou ao seu pai, então recentemente falecido.

Antes, a 17 de fevereiro, ouve-se o que promete ser uma tão insólita quanto interessante combinação de harpa céltica (Catrin Finch) e kora senegalesa (Seckou Keita).

O ciclo termina a 15 de maio sob o signo do amor, tal como cantado e tocado na tradição erudita persa, pela voz de Alireza Ghorbani. Nove dias antes, faz-se a estreia absoluta do espetáculo/ópera multimédia '3milRIOS', de Vítor Gama (uma das oito estreias absolutas que acontecem ao longo da temporada), com a Orquestra Gulbenkian a ser "semeada" de cantoras e percussionistas oriundos Angola, Colômbia, Cuba e RD Congo. '3milRIOS' remete especificamente para a bacia hidrográfica do Amazonas e para a floresta do Pacífico em território colombiano e para os atentados ambientais atualmente em curso nesses recônditos lugares.

- Ciclo Música de Câmara

Em 2015-16, este ciclo é sinónimo de quartetos de cordas. E apesar de serem apenas quatro, são todos óptimos, se não vejamos: Jerusalem (16 dezembro), Chiaroscuro (10 janeiro), Artemis (2 fevereiro) e Hagen (16 março). Atenção ao programa dos Hagen: Quarteto n.º 14 de Shostakovitch e o 'Rosamunde' de Schubert!

- Ciclo Música Antiga

Este ciclo inclui sete concertos, abrindo com Jordi Savall e o seu Hespèrion XXI (11 outubro), propondo uma viagem pela Europa dos séculos XVI e XVII, vista pelas "cordas" da viola da gamba - além de Jordi, outros três gambistas de eleição estarão sobre o palco. Nove dias depois, dá-se a estreia do cravista (brasileiro, radicado de há muito em Portugal) Cristiano Holtz no Grande Auditório - sendo que um recital de cravo solo naquela sala é por si só um evento raro. Toca Bach, Scarlatti e C.P.E. Bach.

A 19 de novembro, há a proposta inusitada de encenar cantatas sacras fúnebres de Bach no espetáculo intitulado Trauernacht ("noite de luto"), estreado no Festival de Aix-en-Provence do ano passado.

O ciclo desloca-se em dezembro para São Roque, com os concertos dos excelentes Graindelavoix (dia 13), centrado no repertório sacro natalício do Chipre do século XV, época final do reino cristão de origem cruzada da casa de Lusignan; no São Silvestre, faz-se o habitual Te Deum, que este ano são dois: o de Zelenka e o de Dettingen, de Händel. Orquestra Divino Sospiro junta-se ao Coro Gulbenkian, sob a direção de Jorge Matta.

Três dias antes do São Valentim, a excelente Ana Quintans junta-se ao não menos notável contratenor espanhol Carlos Mena para um intimista Dialogo d'Amore, apenas com acompanhamento de cravo e tiorba/guitarra barroca.

Para o final, a 1 de abril, há uma proposta que até parece mentira: o cineasta Pedro Costa e a orquestra barroca Músicos do Tejo juntos?? Mas é verdade: eles vão tocar grandes autores do Barroco para um filme de Pedro Costa!

- Ciclo Grandes Intérpretes

Neste ciclo fazemos desde já quatro grandes destaques: a visita do excecional violinista Leonidas Kavakos, que toca o 'Concerto' de Beethoven, antes de dirigir a Orquestra de Câmara da Europa na Sinfonia 'Eroica' de Beethoven (25 outubro); a presença pela primeira vez do cantor e compositor Rufus Wainwright, apresentando o seu 'Prima Donna', baseado em Maria Callas, com a Orquestra Gulbenkian (27 novembro); a vinda do grande barítono alemão Matthias Goerne para fazer a 'Viagem de Inverno', de Schubert, na versão encenada por William Kentridge (19 fevereiro); e o recital do meio-soprano norte-americano Joyce DiDonato (22 maio).

No que deixamos "de fora" incluem-se dois concertos da Orquestra Juvenil Gustav Mahler (9 e 10 de abril), ambos com programas empolgantes.

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